Fugas - restaurantes e bares

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Sem Porta e com Graça

Por Alexandra Prado Coelho

Um jardim gastronómico, ânforas para curar com sal como os romanos, hidromel como os antigos, vinagres, queijos, um ringue para combates gastronómicos e uma jangada num lago. É Ljubomir no Sublime Comporta.

Sem Graça, o projecto não se fazia. Ljubomir já tinha dito que Graça Saraiva e as suas Ervas Finas (Vila Real) eram condição essencial para a transformação que se propunha fazer no restaurante do Hotel Sublime Comporta, o antigo Celeiro, agora rebaptizado Sem Porta.

Três meses depois, Graça está, feliz, no meio do seu jardim gastronómico, um “coração de biodiversidade” entre os pinheiros e o areal da Comporta. No centro, há uma cozinha-ringue para os combates gastronómicos de Ljubomir e dos chefs que irá convidando todos os meses (12 clientes de cada vez, 125 euros por pessoa, com vinhos) — o primeiro foi Manuel Maldonado (do projecto Ostraria), que ficou entretanto como chef residente do Sem Porta, o segundo, que encontramos durante a nossa visita, é Rodrigo Castelo, da Taberna Ó Balcão, em Santarém, o próximo (de 11 a 18 de Setembro) será João Rodrigues, do Feitoria, Lisboa.

Em redor deste espaço onde só se cozinha com fogo e a que chamaram Food Club — sim, a referência é o filme Fight Club, de David Fincher, mas a história do João e o Pé de Feijão também entra aqui — foram criados quatro canteiros em forma de feijão, onde cresce já, imparável, a horta (muitos tomateiros, muitas malaguetas, pediu Ljubomir); à volta dos feijões, canteiros redondos e mais altos cheios de aromáticas.

“Cada um tem um perfil aromático assumido”, explica Graça. “Há as mentoladas, as ervas finas e frescas, as sulfurosas, as frutadas, as cítricas, as pungentes, as anisadas, as florais.” A inspiração foi “a paleta de um pintor em que em vez de uma cor há um perfil aromático”.

Quando chegamos ao Food Club, Manuel Maldonado está a falar com Graça para decidirem o que irão usar no jantar dessa noite. “Temos aqui 300 variedades diferentes”, diz a criadora da Ervas Finas, “desde raízes a pequenas folhas, caules, folhas mais adultas, até às flores, sementes e frutos”. Tudo se pode comer, mas é preciso optar por um dos estádios de desenvolvimento das plantas, sabendo-se que se terá que abdicar do seguinte — se comermos a flor já não teremos o fruto.

Percebe-se agora por que é que Ljubomir disse que sem Graça nada disto poderia existir. Trabalha com ela há 17 anos e não se esqueceu do que ela lhe disse há uns tempos: “O que eu gostava agora era de levar as minhas Ervas Finas para outras partes do país.”

Quando surgiu a proposta do proprietário Gonçalo Pessoa para pegar no projecto do Sublime, Ljubomir telefonou-lhe imediatamente. Ela não hesitou e agora mostra-se surpreendida com a velocidade a que as plantas se adaptaram. “Aqui é mais seco, sim, mas as ervas aromáticas gostam disso, ganham sabores mais intensos.”

O jardim comestível já é uma realidade, mas quando olha em redor Ljubomir vê também o que ainda irá acontecer. “Vou pendurar garrafas nas árvores para fazer vinagres a partir do hidromel e do mel da região, ando a estudar as características do leite para ver se é possível fazer burrata e mozzarella, porque, como o clima é seco, o leite aqui tem menos gordura, é mais parecido com leite de burra. Vou enterrar potes lá em cima, a metro e meio de profundidade, para fazer curas em sal.”

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