O que fazem uma francesa, um guineense e uma romena nos Bijagós?

O arquipélago composto por 88 ilhas é o ás de trunfo do turismo na Guiné-Bissau. Solange, Adelino e Mariana estão em Rubane, Bubaque e Orango para nos fazer sonhar.

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Paulo Pimenta

Não há volta a dar: quem vem de Portugal e quer chegar ao arquipélago dos Bijagós, classificado como reserva ecológica da biosfera pela UNESCO e jóia da coroa do turismo na Guiné, 88 ilhas (quase todas) de postal ilustrado, precisa sempre de ir a Bissau. Há quem use voos privados, mas a via mais habitual é a marítima, largando do cais às vezes transformado em caos. Há carreiras regulares, que fazem a ligação do arquipélago à capital guineense — e estas carreiras são barcos cheios como um ovo, onde se acomodam pessoas, bens e animais. Temos essa imagem logo na primeira manhã na Guiné, quando observamos o embarque de mulheres com roupas vistosas e crianças ao colo, homens carregados de sacos e bidões — e pelo menos uma vaca e um porco.

Recorrer a estes barcos para chegar às ilhas será uma experiência mais autêntica, mas, pela parte que nos toca, temos um barco privado que nos transporta até Rubane, primeira escala nos Bijagós. E que escala! Todos a bordo.

Solange, a francesa

Do porto de Bissau até chegarmos a Rubane são três horas contadas a lutar contra a maré. Pelo meio, água e cerveja Djumbai fresquinhas, mancarra (amendoim) para acompanhar e vários banhos com que não contávamos. Ka tem problema, que é como quem diz, não tem problema, o sol há-de cumprir a sua função.

Já avistamos Rubane e o momento é de assombro: a ilha é um denso oásis verde rodeado de mar azul-clarinho onde ansiamos mergulhar. Solange Morin espera-nos no areal. “Soyez les bienvenus.”  Chegamos ao Ponta Anchaca Ecolodge, uma promessa de paraíso.

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Mal pousámos os pés em terra e logo regressamos ao mar, um imenso espelho de água calma e tépida. Precisávamos disto, para entrarmos de imediato no espírito de comunhão com a natureza que manda em Rubane. Saímos a contragosto, já com os dedos engelhados, mas espera-nos um almoço tardio com vista para o mar. Peixe fresco grelhado e vinho branco gelado, dispensamos sobremesa.

Solange anda por aqui, sorridente e hospitaleira. Convidamo-la a sentar-se. Tem 54 anos e há dez vendeu os dois hotéis que tinha no Senegal para se mudar de armas, bagagens e coração para Rubane. “Um dia, vim à descoberta destas ilhas, como turista”, recorda Morin. Rubane foi um caso de amor à primeira vista. “Estava farta de hotéis de betão, decidi dedicar-me ao ecoturismo.” Mas construir o hotel feito de bungalows perfeitamente integrados na paisagem quase virgem não foi coisa fácil.

Rubane é uma ilha sagrada para os bijagós — uma das mais de 30 etnias que compõem o puzzle deste país da África Ocidental —, que aqui localizam muitas das divindades e espíritos que alimentam as suas crenças animistas. As regras são muitas — não são permitidas construções definitivas, por exemplo, e é proibido lutar e derramar sangue —, o que dificultou a instalação do resort de Solange. Foram três “pacientes” anos, ao longo dos quais a francesa de Toulouse se sujeitou a cumprir alguns rituais bijagós. “Aqui é muito importante o respeito pelas tradições e eu quis mostrar que as respeitava.”

Em troca da construção do hotel, Solange comprometeu-se a dotar as tabancas (aldeias) de telhados de zinco, reconstruiu “19 casas na ilha em frente [Bubaque]” e formou “42 jovens que trabalham ou trabalharam” no seu Ponta Anchaca Lodge, um resort que leva um luxo comedido a uma ilha que, à vista de quem chega de férias, não tem mais nada para além do próprio hotel.

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Não é assim, mas devem contar-se pelos dedos os turistas que se aventuram para fora das fronteiras do ecolodge, servido por 30 quartos, dois quilómetros de praia de areia branca e mar azul e um restaurante que traz à mesa pratos internacionais mas também dá a provar exemplos da gastronomia guineense. Será mais confortável ficar por aqui, esticado ao sol à volta da piscina, mas quem quiser perceber melhor o modo de vida dos bijagós que desbrave a floresta em redor.

Não o fizemos por manifesta falta de tempo — afinal, a nossa estadia não chegou sequer às 24 horas. Limitamo-nos a um curto passeio ao longo da praia, o suficiente para encontrarmos um grupo de seis ou sete mulheres (e um menino, não mais de quatro anos) a arrastar molhos de palha que vão usar para os telhados dos bungalows. Vivem na ilha de Bubaque, na tabanca do Bijante, e vêm a Rubane cultivar arroz ou fazer trabalhos para o hotel. Isto é Solange que nos conta, elas falam apenas o dialecto bijagó. “Para o arroz, vêm em Maio e ficam até Outubro”, explica Morin.

Os turistas “franceses, ingleses, belgas e americanos” que aqui chegam raramente se cruzam com eles — e muitas vezes nem sequer sabem que, do outro lado da ilha, eles construíram casas provisórias nas proximidades das terras que escolheram para cultivar e ali ficam até terminar a safra. Mas só não sabem se não quiserem. “Basta terem espírito de descoberta e saberem que há tradições que devem respeitar. De resto, a população é muito acolhedora”, assegura Solange que, ao fim de dez anos em Rubane, já se sente “quase bijagó”. Ri-se com vontade e depois diz que não, não sente “falta de civilização”. “Agora esta é a minha casa.”

Travessia marítima de Bissau para o arquipélago dos Bijagós Paulo Pimenta
Ilha de Bubaque Paulo Pimenta
Ilha de Bubaque Paulo Pimenta
Ilha de Bubaque Paulo Pimenta
Tabanca de Bruce, ilha de Bubaque Paulo Pimenta
Tabanca de Bruce, ilha de Bubaque Paulo Pimenta
Tabanca Eticoga, ilha de Orango Paulo Pimenta
Tabanca Eticoga, ilha de Orango Paulo Pimenta
Tabanca Eticoga, ilha de Orango Paulo Pimenta
Tabanca Eticoga, ilha de Orango Paulo Pimenta
Tabanca Eticoga, ilha de Orango Paulo Pimenta
Augusto Fernandes Pereira, régulo da tabanca Eticoga Paulo Pimenta
Tabanca Eticoga, ilha de Orango Paulo Pimenta
Tabanca Eticoga, ilha de Orango Paulo Pimenta
Tabanca Eticoga, ilha de Orango Paulo Pimenta
Tabanca Eticoga, ilha de Orango Paulo Pimenta
Tabanca Eticoga, ilha de Orango Paulo Pimenta
Ilha de Bubaque Paulo Pimenta
Tabanca de Bruce, ilha de Bubaque Paulo Pimenta
Praia de Bruce, ilha de Bubaque Paulo Pimenta
Dakosta Island Beach Camp, praia de Bruce, ilha de Bubaque Paulo Pimenta
Dakosta Island Beach Camp, praia de Bruce, ilha de Bubaque Paulo Pimenta
Praia de Bruce, ilha de Bubaque Paulo Pimenta
Dakosta Island Beach Camp, praia de Bruce, ilha de Bubaque Paulo Pimenta
Ilha de Orango Paulo Pimenta
Ao largo da ilha de Rubane Paulo Pimenta
Ilha de Rubane Paulo Pimenta
Ponta Anchaca Ecologde, ilha de Rubane Paulo Pimenta
Ilha de Rubane Paulo Pimenta
Ilha de Rubane Paulo Pimenta
Ilha de Rubane Paulo Pimenta
Ilha de Rubane Paulo Pimenta
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Travessia marítima de Bissau para o arquipélago dos Bijagós Paulo Pimenta

Adelino, o guineense

De Rubane até Bubaque não são mais de 15 minutos. Largamos a manhã já vai alta, a bordo de um barco de Adelino da Costa, um guineense que aos nove anos se mudou para Portugal, aos 24 para os Estados Unidos e aos 32 voltou à Guiné “para ver que Guiné tinha deixado para trás”. Adelino é hoje o dono do Dakosta Island Beach Camp, um dos empreendimentos turísticos mais distintivos do arquipélago dos Bijagós, e é para lá que vamos. Antes, porém, paramos para ver o hospital que está a ser construído em Bubaque.

A assistência médica nos Bijagós é praticamente inexistente — e foi por esse motivo que Adelino, Da Costa para os amigos, tomou a iniciativa de construir o “bloco operatório”, palavras dele, onde agora entramos. Vivem em Bubaque cerca de 9000 mil pessoas, a 41 milhas do continente — três horas de barco, na melhor das hipóteses —, “sem qualquer tipo de assistência”.

“Não podemos estar à espera dos outros para fazer coisas que podemos fazer”, diz Adelino, enquanto nos mostra as salas que vão dar assistência aos habitantes da ilha, “sobretudo às mulheres em trabalho de parto”. A obra, que foi acompanhada por arquitectos dos Estados Unidos, arrasta-se há dois anos, “com dificuldades, avanços e recuos”, mas Da Costa está esperançado que o hospital possa abrir até ao final do ano.

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Para percebermos como é que Adelino chegou aqui, temos que conhecê-lo melhor. Já atravessamos a ilha numa carrinha de caixa aberta vermelha e estamos agora no Dakosta Island Beach Camp, na praia de Bruce. Sentamo-nos à sombra das árvores, rodeados de objectos de arte bijagó, e ouvimo-lo desfiar o novelo. A história é longa e inspiradora, contamos apenas uma versão abreviada.

Originário da ilha de Jeta, no Noroeste do país, Da Costa passou parte da infância e a adolescência em Portugal, no Bairro das Marianas, em Carcavelos, um lugar que o formou “para a vida”. Enquanto manjaco, uma das etnias da Guiné, sempre teve na luta uma parte da sua identidade. “Os manjacos estão sempre a lutar, é cultural”, explica. Em Portugal, praticou karaté, kick boxing, muay thai. “E depois percebi que queria ser campeão do mundo e tive que mudar de vida.”

Foi para os Estados Unidos, para o Harlem, onde começou “por lavar pratos num restaurante”. Trabalhava madrugada dentro e acordava “às seis da manhã” para ir treinar boxe. Chegou aos quartos-de-final “nos combates de selecção” para os Jogos Olímpicos de 2004. “Perdi e ainda me dói.” Mas foi essa derrota que o impulsionou para o desafio seguinte: abriu um ginásio em Nova Iorque, depois outro, e outro — e agora são cinco. E mais dois em Bissau.

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No ano passado, inaugurou o Dakosta Island Beach Camp, um projecto de turismo ecológico composto por bungalows e tendas viradas para a praia de Bruce, esta mesma onde estamos agora, perdidos em mergulhos. Daqui a nada vamos sentar-nos numa enorme mesa de madeira a comer peixe e marisco, sempre com o mar no horizonte.

“Quem fica alojado nas tendas [20], à noite está acompanhado de mil estrelas e tem a água a dois passos. Há aqui um contacto incrível com a natureza, quem cá está, está onde pertence. Nós não pertencemos ao ar condicionado, pertencemos à natureza”, diz Da Costa. Que, ainda assim, tem à disposição dos seus hóspedes mais 30 quartos — para quem não quer abdicar de um certo padrão de conforto.

Quando andava à procura da ilha perfeita para instalar o Dakosta Island Beach Camp, Adelino tinha sobretudo em mente os clientes dos seus ginásios em Nova Iorque. “Bubaque tinha todo o potencial para lhes agradar e poder atraí-los para cá.” Agora outros planos estão em marcha: numa pequena ilha próxima desta está já em construção o Eden, empreendimento vocacionado para programas de desporto, saúde e nutrição “para grupos de dez pessoas”, que Da Costa conta abrir no próximo ano. Quer também investir na ilha de Jeta, onde nasceu. “Conseguindo criar negócio aqui, vou conseguir fazer mais e melhor pela Guiné-Bissau. É esse o meu objectivo.”

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Para além do enquadramento natural, que dispensa mais palavras, o Dakosta Island é, também ele, uma homenagem à cultura local. Assim que chegam, os hóspedes têm direito a guarda de honra: duas fiadas de estátuas bijagós cobertas com mantos vermelhos dão-lhes as boas-vindas. E conforme se adentram no beach camp dão de caras com mais exemplares deste artesanato de madeira, onde ganham particular destaque as máscaras. Conforme anotou Luigi Scantamburlo, um missionário italiano que chegou a Bubaque nos anos 1970, “os bijagós são os melhores entalhadores da Guiné-Bissau”. “Todos eles parecem possuir uma aptidão inata para esta actividade, que requer uma formação longa e paciente sob a orientação do pai ou de outro familiar próximo. O artista bijagó, trabalhando com uma faca afiada, é capaz de transformar um bocado de madeira numa imagem perfeita de animal ou bailarino ou fazer um utensílio para a cozinha.” (“Etnologia dos Bijagós da Ilha de Bubaque”, 1978).

Para Adelino, não fazia qualquer sentido instalar na ilha um resort que voltasse as costas à cultura bijagó. A par do museu ao ar livre, há no Dakosta Island Beach Camp espaço próprio (e tempo) para performances tradicionais, como a música e a dança, que reflectem traços de personalidade dos bijagós. “Este povo é muito espiritual e eu quero que as pessoas que cá vêm façam parte dessa espiritualidade.”

Mariana, a romena

Esticamos ao máximo a nossa escala no Dakosta Island Beach Camp — e o máximo não passou de umas horas. Queremos mais um mergulho, só mais um!, mais uma foto, mais um passeio pela praia para descobrir novas máscaras. E assim, apesar de todos os avisos, largamos para Orango na pior hora possível de maré.

O relógio bate nas 17h e temos pela frente três horas de travessia até à mais longínqua ilha dos Bijagós. Grande parte da viagem é feita com água a bater-nos na cara, na cabeça, nas pernas, em todos os centímetros de pele. Aportamos já a noite está a cair, encharcados até aos ossos, e pouco vemos do Orango Parque Hotel, o único da ilha, inserido no Parque Nacional de Orango, criado em 1998. Só pedimos um banho quente — mas nem essa parte é fácil, que queremos todos o mesmo e a água quente esgota-se rapidamente.

“Dez minutos e logo volta”, informa Mariana Ferreira, a gerente do hotel. É romena, da cidade de Oradea, e foi lá que conheceu o marido, guineense, com quem se casou em 1986. Mudou-se para Bissau e desde então a Guiné tem sido a sua casa.

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Mariana é etnóloga e durante cinco anos trabalhou num projecto da União Europeia destinado a resgatar os valores culturais guineenses. Foi também directora-geral da Cultura entre 1992 e 1995 e em 2004 fundou a primeira organização de comércio justo do país. “Chama-se Artissal e tem como objectivo defender os panos de pente feitos em teares muito rudimentares pela etnia papel”, conta Mariana.

Em 2016, já este projecto tinha ganho asas, o marido de Mariana morreu. Ficou o vazio e por isso aceitou o desafio de vir para Orango, a ilha dos Bijagós mais distante do continente. “Era o momento certo para uma coisa destas”, conta a romena de 57 anos. O Orango Parque Hotel, construído por um italiano em 1997, já tinha vivido várias vidas. Durante a guerra civil de 1998/99 foi abandonado e posto à venda, tendo depois sido comprado pela fundação suíça Mava e doado ao Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP). O IBAP, por sua vez, deu a sua exploração à organização não-governamental espanhola CBD Habitat, que se dedica ao desenvolvimento comunitário.

É aqui que entra Mariana. “Tudo o que aqui se ganha fica para a população”, explica. Os lucros do hotel são canalizados para projectos na área da saúde e da educação das comunidades de Orango — e o próprio hotel, claro, cria postos de trabalho. “No espaço de um ano”, conta Mariana, sem esconder uma ponta de orgulho, “consegui levantar um pouquinho este hotel e melhorar a vida das pessoas da ilha.”

Sendo este um projecto de ecoturismo, não se esperem por aqui grandes luxos. Aliás, os três bungalows disponíveis são bastante básicos e a comida que se serve no restaurante é igualmente simples, sem floreados gastronómicos. As infra-estruturas foram construídas respeitando a arquitectura local e o meio ambiente, numa atmosfera propícia ao contacto com a natureza. O hotel, localizado na Ponta Anabaca, tem capacidade para apenas 20 pessoas. É de ver com atenção o Museu da Cultura Bijagó instalado numa sala do edifício que serve de recepção, bar e restaurante. De resto, o mais que há para ver em Orango, uma das ilhas com maior biodiversidade da Guiné-Bissau, está aqui à volta: é famosa a sua colónia de hipopótamos, mas não os  encontramos porque, por causa da época das chuvas, migram para zonas mais favoráveis. Também há tartarugas marinhas e manatins africanos. 

E depois há a tabanca Eticoga, onde temos uma das experiências mais intensas desta nossa viagem pelos Bijagós. Para lá chegarmos, seguimos Teófilo da Silva, guia do Parque Nacional de Orango e membro desta comunidade onde vivem umas 2000 pessoas. Temos que andar três quilómetros por um caminho de areia paralelo ao mar, debaixo de calor intenso — e ainda são dez da manhã. Mesmo assim, a caminhada faz-se sem sobressaltos e em pouco mais de meia hora estamos a entrar na tabanca, onde somos recebidos por bandos de crianças sorridentes. Mas há um cerimonial a observar: esta é a tabanca onde viveu Okinca Pampa, a rainha dos bijagós, e temos que pedir-lhe autorização para entrar. É um ritual breve, interior, que cada um cumpre para si. Em Roma, sê romano.

Okinca Pampa — a rainha que resistiu à colonização portuguesa e, por isso, é amada pelo seu povo — morreu em 1930 mas a sua presença continua muito viva em Eticoga. Logo à entrada, deparamo-nos com o Jardim Infantil Netos Pampa, onde os miúdos que aqui vivem aprendem que “a escola é orientada pela professora”, “a escola é a higiene”, a “escola é ser alguém na vida”. É também em Eticoga que está o túmulo da rainha, um lugar sagradíssimo para os bijagós, que visitamos na companhia do régulo da tabanca, Augusto Fernandes Pereira, 92 anos apoiados numa vara comprida e pontiaguda.

Antes, porém, ainda assistimos a uma cena de filme. Manuel Alípio da Sílvia, director-geral do Turismo da Guiné, é bisneto de Okinca Pampa, mas nunca esteve em Eticoga. “A minha mãe saiu daqui com cinco ou seis anos”, conta. E criou-lhe uma “imagem muito diferente” da tabanca onde entra agora pela primeira vez. “Quando a minha mãe morreu, muita gente desta tabanca foi a Bissau ao funeral dela com trajes típicos”, diz, emocionado. E mais emocionado fica quando encontra familiares, como a prima Joaquina. Sorrisos, abraços, alegria genuína à solta. 

Genuína é a palavra certa para definir Eticoga — e é difícil não cair no cliché quando se fala de lugares assim. Não há outra forma de dizer isto: esta é uma comunidade pobre. As casas de adobe e cobertas de palha falam por si e é por caminhos de terra batida e areia que nos movimentamos por toda a tabanca, entre baldes abandonados e porcos à solta. Agora sim, o cliché: a grande riqueza de Eticoga são as pessoas. Nem sempre a comunicação é fácil, vale-nos que temos Teófilo connosco e ele vai traduzindo o que é verdadeiramente indispensável. Tudo o resto não precisa de tradução: quando Graça, Sandra, Vânia, Ianisi ou Zidan nos dão a mão e nos guiam pela aldeia; quando pedem que lhes peguemos ao colo; quando põem uma branca num círculo e lhe afagam o cabelo com mãos pequeninas; quando nos acompanham até à saída da tabanca e ficam a acenar-nos quase a perder de vista, temos a certeza que as palavras, às vezes, não servem para nada.

A Fugas viajou a convite da TAP e do Ministério do Turismo da Guiné-Bissau

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