João Liberato e Natali Santos estão a dar a volta ao mundo num veleiro. Largaram empregos, viveram um ano no estaleiro onde reparavam o Babilé e em Novembro partiram de Portimão rumo ao sonho: velejar o globo. Uma odisseia que os levará pelos sete mares nos próximos três anos ou “até quando as saudades deixarem”.
João é português, engenheiro náutico e velejador desde os 11 anos. Natali é brasileira e oceanógrafa. Ele sonhava dar a volta ao mundo de veleiro desde pequeno. Ela sempre quis viver a bordo de um barco. Os sonhos cruzaram-se no momento em que se conheceram, há mais de cinco anos em Alfama, através de um amigo em comum. “Foi nesse dia que surgiu a ideia desta viagem e depois, com o passar dos anos, foi-se concretizando”, contam-nos a partir de Cabo Verde numa entrevista via Skype. “No dia em que nos conhecemos surgiu isto e a partir daí já não conseguimos fugir.”
Há um ano e meio deixaram os empregos em Angola, para onde tinham emigrado para juntar mais facilmente o dinheiro necessário à viagem, regressaram a Portugal e viveram a bordo do veleiro Babilé em pleno estaleiro até à data da partida. Depois da “decisão mais difícil” que tiveram de tomar – recusar ofertas de melhores condições profissionais e despedirem-se em tempos de crise – veio um ano igualmente “complicado”. “Choveu muito, o que atrasou os trabalhos, passou-se muito frio e foi desconfortável viver num barco em obras no estaleiro; mas foi importante para estarmos aqui agora e completamente à vontade com o barco”, recorda João.
No início de Novembro, João e Natali içaram âncora rumo ao sonho a partir de Portimão, cidade natal do português. Passaram quinze dias nas Ilhas Canárias e a 12 de Dezembro fundearam em terras da morabeza, onde ainda se encontram à espera de bons ventos para a primeira travessia oceânica rumo ao Brasil. “É muito bom chegar a um lugar que nunca vimos antes e hastear a bandeira desse país”, conta Natali.
O início da viagem tem sido marcado pela falta de sorte na meteorologia: mau tempo até às Canárias, percurso sem vento e por isso longo até Cabo Verde, chuva e céu nublado inesperados nas ilhas cabo-verdianas. Mas o que mais receiam é a pirataria. “O que se ouve falar mais é na costa da Somália, mas também acaba por acontecer na costa de muitos países da América do Sul, por isso depois convém evitarmos navegar com esteira e ter sempre o máximo de atenção a qualquer barco suspeito”, explica Natali. Por agora, afastados desse perigo, aproveitam para passear pelas várias ilhas de Cabo Verde e fazer pequenas manutenções no Babilé, o veleiro de casco amarelo e mais de 20 anos que os leva nesta odisseia.
Cabo Verde era um dos países mais aguardados da viagem, principalmente a capital da Ilha de São Vicente. “No Mindelo foi onde conseguimos passear mais, desfrutar da cultura e conviver mais com as pessoas dos sítios”, conta João. “É uma cidade muito activa culturalmente, o povo é muito acolhedor e está a ser muito giro nesse aspecto.” No Mindelo passaram os primeiros Natal e Fim de Ano da viagem, onde não faltou o bacalhau, trazido de Portugal, nem sequer as rabanadas, os sonhos ou o bolo-rei.