Fugas - restaurantes e bares

Paulo Pimenta

Onde o rock é um monstro de Frankenstein

Por Andreia Marques Pereira ,

É hardcore, metal, garage, rockabilly e stoner com muito orgulho e sem culpas. Não tem medo que lhe chamem “pesado”: o Cave 45 quer ser a alternativa na noite portuense, a casa do rock’n’roll mais impenitente, e servi-lo, sobretudo, ao vivo.

Dizer que há guitarras ao alto no Porto é subestimar o poder sonoro do Cave 45. Se na cidade há homogeneidade na oferta noctívaga (e, sobretudo, musical), aqui pretende-se ser a pedrada no charco — que faz mesmo ondas. Ondas de rock impenitente, que abraça a diversidade intrínseca da família, seja hardcore, metal, garage, rockabilly, stoner e que se apresenta semanalmente ao vivo nesta “cave com rés-do-chão”, como lhe chamam Iolanda Pereira e Óscar Pinho, dois dos três sócios. É uma originalidade deste monstro de Frankenstein — e são eles que assim o definem, utilizando, aliás, a imagem do monstro verde como “rosto” da “casa do rock’n’roll”, como se assumem — que vem também preencher o que consideram ser outra lacuna da noite portuense. “Há alguns bares com concertos, mas o conceito de bar-sala de concertos é mais raro.”

E foi, então, a “cave” que chamou a atenção dos três amigos que se decidiram lançar na aventura de abrir um canto “mais pesado” na noite do Porto. “Tinha grandes potencialidades, não é muito grande, não é muito pequena”, explica Óscar. Agora é o coração do Cave 45, onde hoje à noite, por exemplo, vão tocar os Capitão Fantasma (e venham o rockabilly mais o psychobilly, com uns pós de punk e garage) — e onde, só à laia de curiosidade, há pouco mais de uma semana tocaram os Parkinsons — seguidos de uma sessão de DJ: o vocalista, Jorge Bruto, primeiro, Rodas, o terceiro dos proprietários do Cave 45, a fechar. Há quase sempre esta dualidade: concertos seguidos de DJ que seguem a linha musical da noite; quando não há concerto, a música continua a não fugir aos parâmetros rigorosos do rock (esqueçam-se electrónica, pop, comercial), com honrosas excepções — “Já tivemos concerto de free jazz”, recorda Iolanda. E como a cave vem com o tal rés-do-chão, conte-se aqui sempre com uma alternativa, atmosfera mais lounge, mais “leve”, portanto: ska, blues, punk menos agressivo.

O rés-do-chão é a antecâmara da sala principal, onde o altar é um palco negro num dos cantos. “Não podemos esticar mais. Tentámos fazer o melhor com o que temos. Temos um pé-direito baixo mas conseguimos um bom som”, avalia. Um balcão comprido num dos lados do palco, a cabina de som em frente às escadas, pousa-copos negros encostados à parede com bancos-cadeiras de acrílico colorido (que sobem e baixam à vontade do freguês) constituem o mobiliário, esparso, porque o que se quer é espaço livre para receber as marés-cheias dos concertos. As paredes são uma espécie de galeria informal de street art, com trabalhos de tatuadores, cenógrafos, ilustradores, graffiters. “Aproveitamos para pôr desenhos de pessoas de quem gostamos”, diz Iolanda, e ao mesmo tempo atenuar a escuridão do sítio — sem esquecer a homenagem do terceiro sócio, Rodas, ao seu Comix, um bar lendário da noite portuense mais underground. Assim, temos desde o graffiti “personalizado” que representa uma banda de rock imaginária, a outro com referência aos Motorhead, sem esquecer, por exemplo, uma caveira a voar levada por um pássaro.

O rés-do-chão também não evita os clichés do rock, brinca Iolanda, ostensivos no papel de parede com animal print (leopardo, no caso) que forra um dos lados, enquanto o outro se encontra coberto de cartazes antigos de concertos em diversos bares do Porto, aos quais de alguma maneira estiveram ligados (alguns dos quais onde Óscar participou – é baixista e passou por várias bandas, como os Cães Vadios). “A ideia”, explica, “é em pouco tempo começarmos a cobri-los com os cartazes dos concertos do Cave 45”. Um dos elementos que mais sobressai, um candeeiro de vários tentáculos, é, curiosamente, herança de outras vidas (recentes) deste espaço que foi bastante indiscreto no nome e noctívago de vocação.

Também Iolanda e Rodas têm vocação nocturna, tendo cada um deles estado ligados a vários bares na cidade — apenas Óscar levava uma vida mais diurna, brinca, tendo sido, por exemplo o fundador da Carbono e da Lost Underground, lojas de música icónicas da cidade. Foi o mais renitente do grupo em lançar-se na aventura, (“da noite eu sempre fui mais consumidor”) que para Iolanda, por exemplo, sempre foi vista como um passo natural. “Depois de passar tantos anos a trabalhar à noite acabas por pensar em ter um sítio teu”, confessa. Aqui, o trio encontrou uma casa que montou à sua imagem e à medida de nichos da noite portuense que têm estado esquecidos, sublinha Iolanda. Que assumiu também a responsabilidade de delinear a carta de bebidas, ainda que saiba que o público da casa, o público do rock pesado, tem uma tendência clara — a cerveja. Ainda assim, os copos de vinho têm tido um consumo surpreendente e ela tem especial cuidado com os gins. Afinal, vai tudo bem com o rock’n’roll.

Nome
Cave 45
Local
Porto, Vitória, Rua das Oliveiras, 45
Telefone
223266724
Horarios
Terça-feira, Quarta-feira e Quinta-feira das 22:00 às 04:00
Sexta-feira e Sábado das 22:00 às 06:00
Website
https://www.facebook.com/pages/CAVE-45/422226761262949
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