Fugas - restaurantes e bares

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Bem petiscar e outras atracções na Boavista

Por José Augusto Moreira ,

À diversidade de petiscos, juntam--se peixes, carnes e os bifes da tradição, num espaço moderno, abrangente e cosmopolita. No Terrella, no Porto, ligado ao chef Hélio Loureiro, há cozinha dinâmica e competente. Para toda a hora e todo o tipo de refeições.

Aberto há pouco mais de dois anos, o Terrella apresentou-se como espaço de restauração com uma vocação ampla, do simples petisco à refeição mais elaborada e requintada. O horário alargado, para funcionar o dia inteiro, e o ambiente informal e descontraído, para todos os públicos, davam asas ao conceito, apoiado numa carta com propostas diversificadas para servir em pequenas porções e complementada com pratos de peixe e de carne ao estilo mais convencional. 

Com a assinatura de Hélio Loureiro, a cozinha propunha um estilo moderno e sabores tradicionais. “Um espaço também para uma refeição ligeira ou para um copo ao final da tarde, onde o cliente pode compor o próprio menu, à medida do momento e dos seus objectivos”, como então o conhecido cozinheiro explicava o projecto. 

Assim é, hoje em dia, o Terrella, mantendo no essencial o conceito e o conteúdo da carta original concebida por Hélio Loureiro, cuja ligação parece ser agora na qualidade de consultor. O nome remete para a “pequena terra”, uma esfera magnetizada que foi usada por William Gilbert para explicar à rainha Isabel I as suas teorias sobre o magnetismo terrestre. Um efeito de atracção também pretendido pelo restaurante em relação às várias tribos que gravitam em redor da Boavista e Casa da Música, no Porto. 

O espaço é amplo e alargado. Tectos muito altos, paredes de vidro a toda a volta a proporcionar abundante luz natural, mobiliário moderno e funcional, ambiente elegante e despojado onde impera o branco e o prateado dos metais. Há um espaço de recepção e mais duas áreas que, embora separadas, se mostram irmanadas pela decoração, função e também contacto visual. Há separação, mas sem barreiras e a resultar sobretudo de um desnível aí de uns três degraus. 

Seguindo a lógica do magnetismo terrestre, a carta organiza-se num permanente conceito de atracção. Abre com o “Princípio da Atracção”, uma longa lista de 24 “petiscos” acrescida ainda de seis sanduíches de substância, como é o caso do “preguinho de lombo com quatro molhos”, “rabo de boi com cebola caramelizada”, ou “hambúrguer de carne de novilho alentejana” (4/7,5o€). 

Seguem-se mais quatro capítulos correspondendo a outras tantas “atracções”: “Pelo Mar”, com seis pratos de peixe; “Pelas Carnes”, em cinco declinações; “Pela História”, com bifes em quatro preparações históricas; e “Pela Felicidade”, com as sobremesas. 

Petiscaram-se “ovos rotos com presunto” (2,50€), “gambas envoltas em massa filo com molho picante e agridoce” (6,50€), e o “torricado de bacalhau” (3€), todos a causar satisfação e muito boa impressão. Desde logo pela quantidade, tratando-se de petiscos que podem muito bem compor toda uma refeição. E se no caso dos ovos o sal do presunto acabava por dominar, já as gambas se mostraram delicadas e cozidas no ponto certo, tal como o bacalhau impecavelmente frito.

Um reparo para as designações, que parecem não corresponder ao que é servido. O “torricado” não dá a ideia dos três primorosos tacos de bacalhau do lombo que chegam à mesa sobre pão tostado com azeite e coroados com cebola frita. Saboroso, bem cozinhado e boa apresentação, e, portanto, nada “torricado”. Não se trata também de “ovos rotos”, mas antes de generosa taça de ovos mexidos com pedacinhos de presunto, servidos sobre um fundo com cubinhos de batata frita e salsa picada. 

Entre os restantes “petiscos” há desde coisas tradicionais, como “crocante de alheira”, “tachinho de tripas à moda do Porto”, “favas com chouriço”, “presunto ibérico com pão e tomate”, à diversidade da “quinoa com legumes e tomate”, “queijo camembert panado com agridoce de groselhas”, “cogumelos Paris e Shitake salteados em azeite e alho” ou “feijoada de tofu com legumes”. Os preços vão de três a cinco euros e, pelo aspecto, sempre em doses nada contidas. 

Do mar, são seis as atracções, das quais se provou o “filete de robalo sobre arroz caldoso de gambas” (14,50€). Dose generosa, mais uma vez, com metade do robalo, de aquacultura, delicadamente grelhado sobre a pele. Destaque para o arroz de tomate com gambas de confecção primorosa. Carolino de grão aberto, com goma e sabor como mandam os melhores cânones. 

As restantes propostas marinhas vão do “lombo de bacalhau confitado sobre esmagado de batata com emulsão de tomate seco e azeite” (12€) ao “espeto de polvo grelhado com batata a murro e grelos salteados” (14€), do “salmão em papelote a vapor com legumes e batata primor” (9,50€) ao “tagliatelle salteado, camarão e folhas de manjericão” (11€) e ao “camarão tigre com creme de malagueta verde, arroz de lima e coco” (20€). 

Mesmo atraente o “tornedó de novilho sobre fatias de broa de Avintes com quenele de rabo de boi e molho de vinho do Porto” (13€). Naco alto e espesso de carne saborosa, macia e suculenta, acompanhado por um cacho de tomatinhos assados, batata corada em quatro palitos grossos e uma base com lâminas de broa de Avintes e rabo de boi esfiado, que, mesmo não aparecendo em quenele, estava muito bem. 

A tradição das carnes atrai ainda em mais quatro vertentes: “posta de vitela arouquesa com azeite, alho e louro, batata primor no forno com alecrim” (13€); “coxa de pato confitada sobre marmelos salteados, puré de batata doce e castanhas” (12€); “bochechas de porco ibérico em vinho tinto sobre puré de batata e aipo” (12€); e “pernil de porco no forno com migas de pão à alentejano” (12€). 

Segue-se o capítulo dos bifes, onde a “atracção pela história” se decanta em “tornedó Rossini” (19,50); “bife Marrare” (14€); “bife à portuguesa” (13€); e “entrecôte café de Paris” (14€), todos com breve história da respectiva receita e explicação da preparação. Muito bem! 

Menos palpitante a “atracção pela felicidade”, com triviais mousse e bolo de chocolate, crepes, trilogia de doces tradicionais, gelados e fruta laminada (de 3,50€ a 6,50€). 

Pouco estimulante também a carta de vinhos, se bem que com o louvável propósito de contenção nos preços. As propostas abrangem todas as regiões mas as opções são mínimas e, por isso, incapazes de acompanhar a variedade e diversidade dos pratos e petiscos. Correcta e muito útil (e pouco habitual) a arrumação pelo tipo de vinho, se bem que sempre sem indicação da colheita. 

A par da diversificada carta, há também um menu executivo, que no dia da visita da Fugas oferecia “posta de pescada gratinada com maionese e batata salteada” ou “entremeada assada com arroz de enchidos” (por menos de 10 euros), e parece concentrar a procura diária ao almoço. Muito procurado é também, ao que parece, o brunchdominical (13,50€), que fazem com que o restaurante se converta por estas alturas numa espécie de cantina moderna. 

Mesmo assim, e foi ao almoço que agora o revisitámos, destaque para a capacidade de resposta da cozinha, quer em tempo quer na qualidade culinária. 

Pena que, com tanto espaço, não haja uma clara diferenciação para o serviço à carta. Permitindo não só um serviço mais afinado e melhor ambiente de degustação, como afirmaria também a vocação e o propósito de atracção gastronómica que corresponde à ideia de Terrella. 

Nome
Terrella
Local
Porto, Cedofeita, Rua Ofélia Diogo da Costa, 105 A
Telefone
910659368
Website
https://www.facebook.com/terrellaporto
Preço
25€
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