Fugas - restaurantes e bares

  • Carolina
Matos explica
que todos
os produtos
à venda no
Tábua Rasa
são de origem
portuguesa.
    Carolina Matos explica que todos os produtos à venda no Tábua Rasa são de origem portuguesa. Nelson Garrido
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Numa casa portuguesa, queijo e enchidos sobre a mesa

Por Sandra Silva Costa ,

No Porto, a Tábua Rasa leva à mesa deliciosas obras de produção nacional.

Indicações terapêuticas: os queijos e enchidos que se servem no número 69 da Rua da Picaria, no Porto, contribuem para sensações gustativas que garantem pelo menos um par de horas de bocas e estômagos felizes. A interacção com bebidas alcoólicas é recomendada, de preferência vinhos do Dão, Douro e Alentejo. Posologia: os produtos devem ser consumidos com moderação, mas aconselha-se uma frequência que não provoque no organismo síndromes de abstinência. Efeitos secundários: é possível que os níveis de colesterol se ressintam, mas mesmo assim empurre a porta e vá em frente. Avance com confiança, que uma vez não são vezes. 

Foi o que fizemos ao almoço de uma sexta-feira diluviana. Aparecemos de surpresa, sem nos denunciarmos, e fomos muito bem recebidos por Carolina Matos, uma das sócias deste Tábua Rasa, que se anuncia como “especialista em queijos e enchidos portugueses”. Escolhemos uma das mesas de madeira feitas ali na rua — a Picaria foi, em tempos, a artéria dos marceneiros do Porto, e Carolina e o sócio Francisco Ré fizeram questão de encomendar o mobiliário aos poucos que ali ainda trabalham — e logo nos mostraram uma ementa prometedora. Entre as propostas de tábuas (pequenas, médias ou grandes) de queijos e enchidos, piscavam também o olho as alheiras (de Vinhais, de caça ou de javali), pelo que a escolha não se afigurava fácil.

Levantámo-nos e fomos colar os olhos à montra onde se exibem 25 queijos e 17 enchidos — todos, sem excepção, de produção nacional. Carolina estava a postos para nos apresentar e aconselhar os produtos que mais se adequam ao nosso gosto. Sobre os queijos, tínhamos ideias praticamente certas — na mesa teriam de estar o Serra, o Ilha e o Terrincho. Mas quanto aos enchidos não tínhamos tantas certezas. “Preferem mais ou menos gordura?”, perguntou Carolina. Respondemos que menos, embora sem total convicção. 

Acabámos com uma tábua mista média na mesa (12,50€), composta por três peças de queijos e outras tantas de enchidos. Os queijos foram da nossa exclusiva responsabilidade, os enchidos ficaram a cargo de Carolina: presunto bísaro, copita de porco ibérico e salpicão do lombo bísaro. Ainda pedimos uma alheira de javali (6,10€) – e uma sopa de feijão-verde (vagem, como se diz no Porto), para fingirmos que somos saudáveis. 

Começámos pela sopa (2€), saborosa até para quem, como nós, não aprecia muito feijão-verde, e muito quentinha, perfeita para aconchegar o estômago em dia de intempérie. Chegaram depois as tábuas e começou o festim para os sentidos. Notável o Terrincho Velho e guloso o Ilha São Miguel, com nove meses de cura. Quanto aos enchidos, delicioso o presunto, macio e no ponto de sal, e imbatível o salpicão do lombo. No que toca à copita, mais sensaborona, sobretudo depois da explosão de todos os outros sabores — mas na verdade fomos nós que pedimos menos gordura, certo? A alheira de javali, de sabores afinados e sem demasiada gordura, teria nota 10 não se tivesse dado o caso de a deixarmos arrefecer para além do recomendado. 

Acompanhámos com um copo de vinho tinto. Escolhemos Vallado, do Douro; o vinho da casa, Tábua Rasa, vem do Dão (Quinta dos Penassais) e também há Caiado do Alentejo. Com os queijos e enchidos vêm também para a mesa pão (somos da opinião que é preciso rever alguns dos tipos disponíveis), pickles e mel. 

Éramos dois à mesa e já nos daríamos por satisfeitos, mas ainda havia que experimentar a sobremesa: há mulato de chila e chouriço de mel. Optámos pelo último e a surpresa foi total: é feito com sangue, carne, frutos secos e mel, uma combinação inusitada que garante um resultado muito compensador.

Todos os produtos que aqui experimentamos podem ser levados para casa — para além da vertente restaurativa, este Tábua Rasa é também uma loja. E, garante Carolina, há já muitos clientes que vêm por este ou aquele queijo, “que chegam em dias certos”. “Às quartas-feiras, por exemplo, chega o requeijão de Seia e temos quem nos procure por isso”, nota a proprietária. A par dos queijos e enchidos, há doces e compotas; patés vários, castanhas em brandy e outras delícias que tais.

Conta Carolina que Francisco Ré, o outro sócio do Tábua Rasa, arquitecto, ficou responsável pelo projecto do Tábua Rasa. Ela vinha de uma experiência de vários anos a trabalhar com o pai, que tem uma empresa de distribuição de queijos e enchidos portugueses, pelo que o fornecimento de matéria-prima “de qualidade” ficou mais facilitado. É também de Carolina a responsabilidade pela memória afectiva do espaço. “Isto não surge do nada. A minha família materna é transmontana. Passei as férias grandes em Varge, uma aldeia de Bragança. Estive muito tempo em contacto directo com estes produtos. As sobremesas que cá temos, por exemplo, são aquelas que havia na aldeia na altura.”

Fica apenas a faltar falar da decoração minimalista deste Tábua Rasa. Para além das prateleiras onde se mostram os produtos que estão em venda, ganham destaque as tábuas de madeira decoradas por ilustradores (também têm preço, quem quiser pode levar uma para casa) e as cabeças de animais (porcos, cabras, vacas e ovelhas) trabalhadas pelo atelier de burel de Miguel Gigante. 

Nome
Tábua Rasa
Local
Porto, Vitória, Rua da Picaria, 68
Telefone
223197789
Horarios
Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 12:00
e Domingo das 13:00 às 16:00 e das 19:30 às 22:30
Website
http://tabua-rasa.com
Cozinha
Portuguesa
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