Fugas - restaurantes e bares

  • Nuno Ferreira Santos
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  • Estufado de búzio à moda de São Tomé, moqueca de peixe e Banana Pão frita
    Estufado de búzio à moda de São Tomé, moqueca de peixe e Banana Pão frita DR
  • Vegetais com molho de côco acompanhado com roti
    Vegetais com molho de côco acompanhado com roti DR

Era um bilhete para África, por favor

Por Francisca Gorjão Henriques ,

Há muito caminho para desbravar na relação dos portugueses com a comida africana. Esta Tas’Ka fica no centro de Lisboa e pode bem ser um ponto de partida: dedica-se a petiscos de toda a África.

Ainda não chegámos e já Zola nos entra pelos olhos dentro. Com a sua jaqueta branca e lenço de capulana amarela na cabeça, ela é toda sorriso e olhos, encostada à parede da rua. Nem é preciso confirmar na placa, mas lá está em cima da porta: Tas’Ka. 

São seis da tarde, o movimento ainda está para vir. Mas Zola começa a passar à acção. Aqui, a magia está nas mãos dela. Todos os dias traz um pouco de África pare este recanto ao lado da Bica. Ocupamo-la com perguntas, e ela responde com toda a alegria. Zola, Zola Almeida. Tem 37 anos. A sua biografia interessa aqui porque faz parte do segredo: nasceu em Angola, Luanda, mas aos seis anos foi viver para São Tomé. Estava aos cuidados da irmã mais velha, Vilma, e com ela aprendeu “tudo o que se pode fazer numa casa”. Principalmente cozinhar, com as tradições dos dois países no paladar. 

A comida angolana tem mais óleo de palma, por exemplo; a são-tomense é mais limão, alho e cebola. Mas há pratos do arquipélago onde também entra o óleo de palma, ou azeite de dendém, como é igualmente chamado. Como o calulu, de porco ou galinha. Ela não o faz aqui. E porquê? “Leva 37 folhas diferentes. Ervas típicas de São Tomé”. Libo d’água, olhos de goiabeira, folha de mosquito, ossame, pau pimenta, folha de tartaruga, folha de ponto… 

Neste momento está a passar a muamba para uma caixa. “É uma muamba típica de Luanda. Há de dendém ou de amendoim.” Acompanhamentos: funge de milho (também existe de mandioca) e arroz. “A farinha de mandioca é difícil de encontrar cá porque misturam-na com trigo para render mais.”

Em cima do balcão estão pastéis de fubá com atum, em forma de enormes rissóis. Na parede, três cestos redondos moçambicanos. Almofadinhas de capulanas em cima das cadeiras e mesas de ardósia. Poucos mais do que isso na decoração. E depois há a música, sempre africana.

Agora sentamo-nos à mesa com Mikas, o proprietário, que nos diz: “Há falta de espaços de comida africana em Lisboa. Há alguns virados para Cabo Verde ou Angola, mas não para África.” Parece haver um divórcio: “Lisboa é super-africana a muitos níveis, mas a cozinha africana não é fácil para os portugueses.” Talvez porque seja “pobre”. Ou melhor, simples. Porque há uma grande riqueza de sabores no caldo aparentemente humilde que Zola nos serve numa pequena taça (pouco mais do que água, sal, mandioca e duas cabeças de camarão; Mikas garante que é ideal para “matar a ressaca”, e até vai passar a abrir ao domingo, entre o meio-dia e as 20h por isso mesmo (3,50€). Ou nos búzios com tomate, alho, cebola, folha de louro e uma dose ideal de picante, bem acompanhados com banana-pão frita, perfeitamente capaz de fazer as vezes do pão para mergulhar no molho (7,50€/4€).

“A cozinha africana tem muito de cozinha caseira. Elevar-lhe o estatuto é fazer perder o sabor. Quando se começa a querer inventar muito começa-se a estragar a simplicidade que ela tem.” Por isso, na Tas’Ka, “a banda sonora é mesmo a única sofisticação”. Por isso se chama Tas’Ka. “Estamos a tentar fazer a primeira tasca africana. Não queremos ser um restaurante”, que serve um prato e pronto. Preferiu apostar nos petiscos, “para se experimentar vários sabores”. Bolas de frango com amendoim (5,50€), muqueca de tamboril (8€/4€), embrulhos de caranguejo (7,50€)…

Apesar de uma presença de cinco séculos no continente, “a relação dos portugueses com a comida africana é nula, porque a relação com África foi muito colonial: ‘Não comemos as comidas dos negros’. O negro cozinhava para o patrão e depois para si, e o patrão não comia a comida do empregado.”

A Tas’ka quer acabar com este desconhecimento. Começou com alguns pratos mais familiares, como a muamba, mas pretende abrir as fronteiras para deixar entrar a cozinha da Etiópia, Gana, Senegal… “A ideia não é ter um menu gigantesco, mas haver uma surpresa cada vez que as pessoas vêm cá.” Um dia um país, outro dia outro — “um laboratório para um dia montar uma coisa com um menu mais abrangente onde se possa fazer uma viagem pela África toda. Aqui vai-se viajando aos poucos”. Com Zola, que “é África na sua essência”.
 

Nome
Tas’Ka
Local
Lisboa, Santa Catarina, Rua Marechal Saldanha, 13
Telefone
218086930
Horarios
Terça a Sábado das 16:00 às 02:00
Website
https://www.facebook.com/taskatapasbar
Cozinha
Africana
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