Quase um ano depois do lançamento de Viagens pelas Receitas de Portugal - o tributo do autor à gastronomia lusa - ter "esgotado em poucos meses", chega agora a edição internacional. Com Portuguese Travel Cookbook espera deixar os leitores “com fome para uma viagem por Portugal”. E com a promessa de "mostrar a boa maneira portuguesa de dizer "eu amo-te" através da gastronomia"
Choco frito à setubalense, arroz de lingueirão, sardinhas grelhadas, pataniscas de bacalhau, perceves, javali na púcara, tripas à moda do Porto, cabrito assado no forno, folar de Chaves, pudim abade de Priscos, pão-de-ló de Ovar, tigeladas, licor de cereja… Ficou com o apetite aguçado?
Agora imagine-se a vislumbrar a Arrábida enquanto come o choco. Seguinte. Aprecie uma chanfana olhando para a quase milenar universidade de Coimbra. Volte à serra, ao Gerês e coma um bacalhau à minhota. Siga em frente. Coma umas lulas grelhadas ao fim do dia na praia do Furadouro, ou nas “normalmente esquecidas pelos portugueses, as praias desertas do Oeste Atlântico: Leirosa, Osso da Balaia, Vieira”. Folheie. Participe numa matança de porco em Terras de Bouro. Volte ao inicío. Dê uns mergulhos e no intervalo coma uns choquinhos à algarvia. Páginas 288 e mais de 50 receitas tradicionais são o resultado desta viagem de 32 dias.
As histórias são contadas por mestres de tascas e aldeias, pescadores, agricultores e cozinheiros. “Uma das histórias mais especiais ocorreu na Casa Guedes no Porto, onde o proprietário me contou que uma vez vendeu uma sandes de pernil a um cliente estrangeiro, este disse-lhe que nunca tinha comido peru tão bom. A questão é que era pernil e não peru e o homem era muçulmano. Hesitações e preocupações deram lugar a mais uma sandes” contou o viajante à Fugas.
Nesta viagem por Portugal profundo foi também ao encontro de ícones da nossa gastronomia. O cozido de grão na Adega Velha em Mourão, a tibornada de bacalhau na Taberna do Alfaiate no Cartaxo e o guisado de camarão no Café Correia em Vila do Bispo fazem exemplo, mas o blogger diz que “não há nada como provar os pratos na maneira como eles deveriam ser feitos e ficar com esta boa memória para toda a vida”.
Não há lugares especiais sem momentos especiais. “O amor pela gastronomia foi-me mostrado pelas minhas avós, que me criaram junto a elas na cozinha”, Nelson cresceu numa quinta em Coimbra apanhava as frutas e legumes que iria comer na próxima refeição e tinha animais de criação. A Marinha das Ondas na Figueira da Foz era a aldeia dos avós, perto da praia, era aí que o avô pescava. Talvez por isso, a maioria das receitas do livro dedica-se ao peixe.
Actualmente, Carvalheiro vive muito longe do mar, em Berlim. “Vim por amor, a minha futura esposa é alemã”, mas é Portugal a sua identidade. No blogue ou no Facebook, a maioria das suas partilhas são sobre um país orgulhoso da sua herança culinária, com paisagens emblemáticas, fiel às tradições. E são muitos os estrangeiros a questionar “onde é este lugar?” a resposta acaba geralmente com um “venha conhecer”.