Mesmo com o turismo e a febre urbanística gananciosamente agarrados ao areal, Vila Praia de Âncora sempre será terra de pesca e dos homens do mar. O espadarte e a sardinha têm aqui honras de festividade anual, mas também robalo, sargo ou faneca se continuam a pronunciar como se fossem elementos da própria família.
Claro que os tempos são outros, mas nem por isso perde actualidade o retrato que há quase um século nos deixou Raul Brandão. “Há quatrocentos pescadores, pouco mais ou menos, e cento e trinta e dois barcos varados na praia, todos pintados de vermelho. São maceiras, de fundo chato, tripuladas por dois homens, volanteiras ou lanchas de pescada por doze homens, e barcos de sardinha, que levam cinco ou seis peças de sessenta braças cada uma, e quatro homens.”
São hoje muito menos os barcos e os pescadores. Há que somar também os apetrechos e as modernas instalações do portinho e abstrair da envolvente de betão, mas lá permanecem “o forte de Lippe” e toda a azáfama ligada às artes da pesca a dar presente à magnífica descrição de Os Pescadores, obra publicada em 1923.
O forte foi construído na ressaca da guerra da Restauração (1640-1668), para prevenir eventuais arremetidas da armada espanhola, tal com o Forte do Cão, que está mais a Sul, depois do areal, na outra margem da foz do Âncora. Com o recente restauro e valorização deste último foi construído um amplo e moderno apoio de praia.
É nele que se acolhe o restaurante Camarão, de paredes envidraçadas e ampla esplanada como que lançadas sobre as ondas e absorvendo a frescura salina das vagas de espuma.
Está muito bem para “poentes todos de ouro, céu em brasa, mar azul”, mas impressiona também de Inverno, quando “uma parede de nuvens parda e compacta barra o céu, o mar enlameado e uniforme é um gigânteo vagalhão a rugir cólera”, como igualmente nos descreveu Raul Brandão.
É um espaço bem-posto e acolhedor. Sem arrebiques pretensiosos ou luxos supérfluos, mas com o louvável objectivo de servir produtos regionais: carnes de abate local e animais alimentados nos prados verdes do alto Minho; enquanto nos peixes e mariscos há uma ligação directa com o mar em frente e as embarcações de Âncora. Os peixes são do dia e apenas da pesca local, mesmo sabendo que se faz escasso com alguma facilidade. Pode não ser agradável, mas é uma boa notícia!
Ao almoço e em fim-de-semana, tinha-se acabado já o camarão da costa (57,50€/kg), linguado, robalo e sargo (33-39€/Kg) e houve que recorrer a rateio na sardinha.
Entrou-se com as navalheiras (3€ a unidade), ainda a soltar vapores da cozedura simples e breve. Sem temperos ou condimentos, carnes brancas e sabor a mar. Imaculadas e um exemplo de cozedura.
Seguiu-se amêijoa à Bolhão Pato (19,75€). Variedade macha, devidamente assinalada na carta, que é a autóctone da nossa costa. Babosas cheias, saborosas e novamente de trato culinário exemplar. Havia também da variedade branca (13,75€), num cardápio de mariscos que incluía ainda sapateira recheada (16€), camarões (tigre grelhado; ao natural; e ao alhinho, 34-71,50€/Kg), lavagante ao natural (58€/kg).
- Nome
- Camarão
- Local
- Caminha, Vila Praia de Âncora, Av. Forte do Cão, 497
- Telefone
- 965 704 489
- Horarios
- Domingo, Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado