Há uma harpa, sim senhora, logo na entrada, numa antessala onde se alinham também interessantes instrumentos vínicos que ajudam aos acordes afinados da composição gastronómica. Como instrumento musical, o seu efeito parece meramente decorativo, com o objectivo único de captar a atenção e sublinhar a designação dada ao restaurante.
Começou, segundo nos foi explicado, por ser uma casa dedicada à cozinha e gastronomia italiana. Há cerca de três anos, no entanto, as coisas mudaram de rumo, tendo-se fixado a cozinha e os produtos portugueses, numa versão cuidada e clássica. É caso para dizer que se mantém a harpa mas agora a música é outra.
É avantajada a oferta, que se decompõe em assados, cozinhados de tacho, carnes de diferentes peças e preparações, os tradicionais rojões, tripas à moda do Porto, cozido à portuguesa e o bacalhau ou polvo à lagareiro. E os peixes e mariscos frescos, que variam segundo a faina diária mas que tanto podem passar pelo forno, cataplana, grelhados ou arrozes caldosos.
Particular sucesso parecem fazer a vitela e o cabritinho assados no forno, que são muito requisitados. Mas a oferta vai variando ao longo da semana dependendo da temporada e da oferta de mercado. Ou seja, uma cozinha de proximidade, com base nos produtos regionais e o receituário tradicional. A carta de vinhos é abrangente, com predominância de Douro e Alentejo e algumas opções para as outras regiões.
O espaço é amplo, confortável, decoração cuidada e mesas bem-postas, com espaço e disposição para não incomodar ou interferir com as conversas dos vizinhos. Tecto alto e com candeeiros a condizer, cozinha adossada e separada por vidraça mas cuja decoração deixa pouco por onde se ver. É pena, porque é bem interessante o que de lá sai e seria interessante perceber também como se trabalha.
Cestinho com pãezinhos de trigo e broa de milho e uma pasta de atum sobre a mesa, sendo servido um espumante de cortesia, da Bairrada, enquanto se entrega a carta.
Das entradas, optou-se pelo “presunto Pata Negra” (10€), “crepe de legumes” (6,50€) e “folhado de bacalhau” (9,75€). Trivial mas bem fatiado o presunto, enquanto o crepe e o folhado se revelaram de primorosa execução culinária. Fofo e envolvente o crepe, enrolado sobre finíssima e saborosa juliana de legumes de cozedura impecável. No folhado, a massa fina e crocante acolhia no interior um leve refogado com lascas de bacalhau, cebola e tomate. Tudo bem afinado, sabores e texturas bem definidos e em dimensões e quantidades de grande generosidade.
Apetecia provar o “bacalhau à chef”, mas a clientela que se sentara para esse jantar de sábado já o tinha esgotado. Tal, de resto, como a “vitela assada à Harpa”. Ficou a explicação de que o bacalhau é levemente confitado e depois envolto em pão de Ul para ir ao forno acabar a cozedura.
Coisas simples
Convocaram-se, então, os “filetes de pescada” (12,50€) e o “arroz de kototxas” (15,75€). Nova afirmação de cuidado e rigor culinária com os filetes, suculentos, saborosos e envoltos num polme escorrido e crocante. Como se seguiria um arroz, optou-se por uma salada como acompanhamento em vez do proposto arroz malandrinho de tomate: alface, tomate, agrião, rúcula e cebola, apenas com um leve vinagrinho que a tornava fresca e apetecível. Bem se diz que o mais difícil são as coisas simples, mas assim se revela também a competência culinária.
- Nome
- A Harpa
- Local
- São João da Madeira, São João da Madeira, Av. da Misericórdia, 278
- Telefone
- 256 042 945
- Website
- www.facebook.com/restaurante.aHarpa/