Fugas - restaurantes e bares

Reuters/DANIEL MUNOZ

Misfornøyelsesbar, o bar norueguês onde ser mau é bom

Por Claudia Carvalho Silva

É um espaço de diversão nocturna em Oslo que tem como objectivo ser desagradável, tanto na decoração como no atendimento. Construído num antigo asilo, a decoração aposta em temas como as doenças mentais. E, mesmo assim, o bar consegue atrair clientes.

Chama-se Misfornøyelsesbar e o nome já é, por si, mau de pronunciar. Mas, para além do nome, que traduzido significa Bar da Insatisfação, este novo bar na capital norueguesa quer ser mau em tudo. Quer ser uma experiência desagradável e quer fazer com que as pessoas se sintam desconfortáveis e inquietas.

Existem três salas no bar, chamadas Paranóia, Esquizofrenia e Ansiedade, descreve a editora de guias de viagem Lonely Planet. E, em cada uma dessas salas, o ambiente é criado para estabelecer um paralelo com o nome que lhes foi atribuído: a sala Paranóia está coberta com olhos, a Esquizofrenia com ilustrações de doenças mentais e muitas pinturas em cores néon e na sala Ansiedade não faltam desenhos de feições perturbadoras. A ideia de retratar várias doenças mentais não foi feita ao acaso. Antes de ser um bar, o espaço foi um asilo psiquiátrico durante mais de 75 anos, daí que o espaço pretenda dar a sensação de loucura e de sofrimento.

A decoração, que pretende que o espaço seja não só um bar mas também uma exposição de arte, é obra de Cristopher Nielsen, um artista norueguês conhecido pelas bandas desenhadas que já tinha criado anteriormente para um parque com uma decoração semelhante à do bar, o Misfornøyelsespark — onde havia, entre muitos outros elementos surreais, palhaços em tamanho real ou um tabuleiro gigante de xadrez em que as peças tinham feições bizarras.

A diferença do Misfornøyelsesbar com os restantes espaços de diversão nocturna é evidente. As cores são garridas, as cadeiras são tão pequenas que não se consegue estar sentado, há genitais flácidos desenhados à espreita em qualquer esquina. Tudo isto pode causar estranheza, mas a peculiaridade do espaço e as referências à cultura pop fazem com que a insatisfação seja ultrapassada e o interesse suscitado.  

O bar abriu a 9 de Junho deste ano, depois de a data de abertura ser marcada e desmarcada várias vezes para que a insatisfação dos futuros clientes começasse mesmo antes da inauguração. “Podem acreditar em nós desta vez”, lê-se no evento de abertura criado no Facebook (onde mais de 1800 pessoas confirmaram presença). Uma das datas marcadas anteriormente para a inauguração foi a noite de consoada, 24 de Dezembro, o que gerou alguma comoção nas redes sociais, havendo quem se revoltasse repetindo a frase “Os hipsters também têm uma mãe”, escreve o jornal norueguês Dagbladet.

Vi lurte "Hipsters har en mor de også" trill rundt, Lukket Selskap og vi hadde vårt på det tørre, tyste til snuten eller...

Posted by Misfornøyelsesbar on Sunday, 25 December 2016

Se não gostar da experiência, queixar-se pode não ajudar muito: no local existe uma caixa onde podem ser depositadas reclamações, só que essa caixa funciona simultaneamente como uma trituradora de papel.  

Já as críticas no Facebook não são trituradas. “Fiquei com ansiedade… Fiquei assustado… Não percebi nada… Tenho de voltar!”, escreveu um utilizador na página do bar, atribuindo-lhe a pontuação de uma estrela (em cinco possíveis). “Fiquei muito insatisfeito. O copo trazia só metade da cerveja, o assento para bebés era desagradável, foi tudo aquilo por que esperava! A única coisa negativa que posso apontar é que a cerveja era muito boa”, escreve um outro, atribuindo-lhe cinco estrelas. Em média, o bar conta com uma pontuação de 2,3 estrelas das 111 críticas que recebeu — deixando pairar no ar a dúvida se o bar será muito mau ou, na verdade, muito bom. Dentro do género a que se compromete. 

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