Fugas - restaurantes e bares

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Já há aroma e sabor a mar na Baixa do Porto

Por José Augusto Morei ,

Ambiente moderno e cuidado com oferta alargada de peixes e mariscos frescos. Das ostras, camarões, lagostas sapateiras e santiagos, até aos menos comuns, como zamburinhas, lapas e cavacos.

Há apenas filet mignon e alheira num mar de peixes e mariscos que se instalou na Baixa do Porto. O restaurante Ostras e Coisas assume sem equívocos a vocação para os mariscos e peixes frescos e, por muito estranho que possa parecer, continua a correr praticamente sem companhia no centro da Invicta. 

E fazia falta num panorama de oferta alargada, abrangente e de afirmada tradição como é o da clássica restauração portuense. Principalmente depois da revolução dos últimos anos, que tem enchido as ruas de bares e restaurantes com estilos e propostas gastronómicas de todo o tipo. Faltavam, de facto, os peixes e mariscos frescos no centro do Porto.

Ora, foi precisamente no coração da zona onde essa dinâmica transformadora é mais evidente que o Ostras e Coisas abriu portas há coisa de um ano. Na Rua da Fábrica, num belo prédio clássico em esquina com a Rua do Conde de Vizela e criteriosamente recuperado para o efeito. 

Ambiente moderno e cuidado, do mobiliário à decoração minimalista que casa com evidente bom gosto a estrutura tradicional e acabamentos de elegante contemporaneidade. Até os aquários foram colocados a um nível elevado, funcionando como espelhos de água onde brilha o movimento colorido dos crustáceos. Há também, logo na entrada, uma atraente montra com os peixes do dia a brilhar em cama de gelo e um balcão quadrado, com uma dúzia de lugares tipo snack-bar para uma petiscadela mais rápida. Por cima, um “estendal” redondo onde a diversidade de copos brilha como se fosse um largo lustre. Belo efeito! 

As mesas estão compostas de forma igualmente elegante, alfaias a condizer e abundante luz natural. A par da sala de entrada, com cerca de 30 lugares, há mais duas no piso superior, uma delas apenas com uma grande mesa, próprias para grupos ou eventos especiais. Decoração e mobiliário na mesma linha de cuidado e bom gosto e grande janelas voltadas à rua.

À alargada lista de peixes e mariscos frescos, juntam-se as propostas de pequenas porções para saborear de forma alargada e informal. Ostras, claro (2€ a unidade), mas também amêijoas, mexilhões, vieiras, sapateiras, camarões, escabeche de peixes, calamares em tempura, feijoada de chocos e pataniscas de polvo (doses entre 2,50 e 7€). 

Nos mariscos, que podem incluir espécies da Galiza ou dos Açores como as zamburinhas, lapas e cavacos, há o rol completo. Da santola, sapateira e navalheira ao lagostim e lagosta; do lingueirão, percebes e burriés aos camarões, gambas e santiagos. Vivos e frescos, como está à vista do cliente. 

Os peixes frescos, que podem ser cozidos, grelhados ou assados, ora acompanham com batata e legumes ora com arroz caldoso de grelos ou tomate, a pedido do cliente. São filetados e limpos e assim são servidos, ou seja, de forma mais cuidada e elegante que nas tradicionais marisqueiras, mesmo que o trato culinário seja idêntico. 

Por preços (500g), a oferta divide-se em quatro grupos: cherne, melo, rocaz e rodovalho (26€); goraz, linguado, pargo, robalo e solhão (22,5€); salmonete e peixe-galo (21€); boca negra, lula fresca e sargo (19€).

Há também “outras coisas”, propondo prego de atum ou de filet mignon (8/8,5€), arroz ou massada de mariscos (19/32€) e cataplana de peixes (44€/2pax). O prego de atum, servido num pão tipo bolo do caco, de proporções generosas e cozinhado com critério e rigor, é um petisco a que não estávamos habituados por terras nortenhas. Vale a pena! 

A lista do dia sugeria creme e marisco, sopa de peixe (4€ cada) ou uma sopa do dia (1,80€), mas optámos pela “sugestão do chefe”. Ostras panadas (6 unidades/13,50€) e escabeche de peixe galo (4€). Interessante o exercício de fritura com as ostras, com polme delicado, crocante e bem executado, mas que retira o efeito de frescura marinha que é a essência da ostra. Atraente e saboroso o escabeche, em dupla dose servida sobre tosta de pão. 

Dose bem montada e servida em louça branca elegante e a acentuar o conceito de modernidade da casa. Na mesma linha os recipientes com pão (tostas, pão rústico e broa de mistura) e manteigas (de ervas e de tomate, mais azeitonas e cubinhos de queijo feta), colocados no início do serviço. 

Primorosos os camarões da costa (16€/200g), fresquíssimos, saborosos, a saber a mar e ainda a resistir ao dente, numa execução irrepreensível que, por isso, contrastou com os percebes carregados de sal (8,40€/200g). Interessante também a tosta de broa com filete de sardinha (avisaram logo tratar-se de conserva em tomate) em dose dupla (4,50€) que acentua a vertente de petisco e pequenas doses para degustação. A terminar, navalhas à Bulhão Pato (3,90€) que logo ali ditaram uma irreprimível vontade de voltar para poder apreciar mais uma quantas propostas marinheiras. 

Parece, claramente, consistente esta cozinha de aroma e sabor a mar que se instalou na Baixa do Porto, a que um tudo-nada de definição não faria nada mal. Expliquemo-nos: a cozinha é competente e segura, o produto de qualidade e a oferta alargada, mas nota-se aqui e ali — sobretudo no serviço — alguma oscilação entre o conceito de marisqueira popular e o restaurante qualificado que está montado. 

Divergência que é igualmente notória na carta de vinhos. Alargada, com boas opções e a cobrir todas as regiões do país, mas não particularmente adaptada à oferta de peixes e mariscos. E sabe-se como os peixes podem fazer brilhar os vinhos e vice-versa. 

Para as ostras é claramente curta a oferta de espumantes (falta Bairrada) e também nos brancos a oferta tem dificuldade em responder ao que pede a alargada oferta de preparações de peixes e mariscos. São precisos brancos de vários estilos e sobram, obviamente, tintos robustos, quando há apenas o filet mignon. De louvar a oferta alargada a copo, essa sim ajustada e adequada às propostas mais petisqueiras.

Pormenores, sem dúvida, mas que são importantes para definir o patamar da oferta e serviço. E este parece, e posiciona-se, como uma clara proposta de qualidade no coração da cidade.
 

Nome
Ostras e Coisas
Local
Porto, Sé, Rua da Fábrica, 73 (esquina com Conde de Vizela)
Telefone
223280527
Horarios
Terça-feira, Quarta-feira e Quinta-feira das 18:00 às 23:00
Sexta-feira e Sábado das 12:00 às 00:00
e Domingo das 12:00 às 23:00
Website
https://www.facebook.com/ostrasecoisas/
Preço
25€
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