Fugas - Viagens

  • Díli
    Díli Reuters/Beawiharta
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  • Miguel Madeira
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De Lorosae a Loromunu, Timor é um espanto

Vista daqui, Díli é uma cidade cosmopolita (com galos esquizofrénicos que cantam a noite toda), onde não faltam restaurantes de comida de praticamente todos os cantos do mundo. Suspeitamos que nesta cidade se come melhor do que em muitos dos melhores restaurantes ocidentais. E também podemos apostar que se bebe o melhor café do mundo, no Letefohoe Coffee Shop, junto ao Royal Beach (sim, já provámos o famoso, e delicioso, café indonésio que os Luwac defecam).

Ainda por cima, também há o equivalente às barracas das bifanas, ou carrinhos de hot dogs, que é uma coisa que fica sempre bem em qualquer cidade do mundo, só que tipicamente timorense, com espetadas de vários tipos de carne e katupa, um arroz com leite de coco embrulhado em folhas de palmeira.

Robby Sanety na estereofonia

É quando passeamos no centro da cidade que nos apercebemos o quanto Díli é confusa, suja e excitante. Há sempre muito trânsito, as motorizadas parecem formigas desencarreiradas e não nos parece que as regras sejam uma preocupação dos condutores. Depois, está sempre muito calor. Sair de casa depois das 10h não é lá muito boa ideia na altura do ano que começa a pedir chuva, como é o caso de Novembro. Além disso, as lojas de Comoro são quase todas de chineses, portanto a quantidade de brinquedos, flores e outras tralhas de plástico, roupa sintética e aparelhos electrónicos é bastante avultada por metro quadrado. Isto para não falar das gigantescas colunas de som, que mostram o que valem em decibéis pouco recomendáveis. Pelo menos é o Robby Sanety que canta Hakarak o mai lalais (qualquer coisa sobre querer que a sua amada chegue depressa). Percebe-se o sucesso da música entre os jovens timorenses com penteados rockabilly e olhares de soslaio para as jovens de sorrisos rasgados e cabelos esticados em rabos-de-cavalo que entram e saem das microlets, os “autocarros” que circulam pela cidade.

Mas no meio de tanta confusão de lojas há algumas preciosidades, como a dos alfaiates, que costuram, nas suas Singer a pedal, virados para a rua. Os modelos expostos não nos convencem muito, ao contrário do que acontece no Mercado dos Tais, o tecido tradicional de Timor. Aqui somos bem capazes de perder a cabeça. Algumas mulheres tecem os fios de algodão tingidos nos teares de madeira e a profusão de cores e motivos, num mercado bem arranjado e bastante silencioso, são uma espécie de bálsamo no meio de uma cidade caótica e barulhenta. As mulheres de dentes vermelhos do betel, uma planta que se masca para ajudar a enganar a fome, e vestidas com os camabatic (tecidos tingidos enrolados à cintura) contrastam com a população que anda de um lado para o outro nas ruas.

Também há uma boa parte da população que fica em casa, sentada atrás das bancas de legumes da horta, rodeada de dúzias de crianças e bebés seminus, de cães, uma ou outra cabra e várias galinhas. Ao lado das bancas é comum encontrar-se a campa dos familiares mortos. Mortos e vivos lado a lado.

Outros penduram os legumes e as frutas em paus e andam com eles às costas pela cidade, ou em carrinhos de mão puxados por bicicletas. Um cacho de bananas, mais quatro abacates (que acabam por apodrecer, porque não sabemos o que fazer com eles), custam-nos três dólares.

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