Fugas - hotéis

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No parque das Pedras Salgadas sonham-se poemas

Por Sandra Nobre ,

Há cenários que nos transportam para lá da realidade. Este poderia ser o País das Maravilhas de Alice. A cabana das travessuras de Tom Sawyer. Encontram-se as personagens que habitam o nosso imaginário entre as árvores. O Pedras Salgadas Spa & Nature Park não é ficção, é poesia.

Na mala de fim-de-semana seguia Concerto a Céu Aberto Para Solos de Ave, de Manoel de Barros. Não podia ter sido melhor companhia. Os versos do poeta pareciam ter sido escritos para este lugar, onde a natureza é pródiga e parece indiferente ao bulício da vila. O Pedras Salgadas Spa & Nature Park não é um hotel, é um conjunto de "casas ecológicas" que convida a ficar entre as árvores e esquecer o mundo lá fora.


Deixei uma ave me amanhecer

Acordamos com os primeiros raios de sol a entrarem pela casa - esquecemo-nos de fechar as cortinas na noite anterior - e corremos para o alpendre para ver espreguiçar o dia. Um pássaro pousa num ramo em frente e dá-nos música. A chuva acentuou os cheiros da terra e da vegetação. Estamos em pleno parque natural e sentimos o pulsar da natureza.

Dormimos numa das sete eco-houses, uma casa de madeira, de traço moderno, que se enquadra na paisagem como se fizesse parte dela. No interior, a serenidade do branco distribui-se por dois quartos e uma sala, paredes meias com a cozinha, com capacidade até seis pessoas. Como combinado na véspera, chegou o nosso cesto de pequeno-almoço pelas 10 horas. Demoramo-nos em volta da mesa com apetite e conversas avulso.


Certas palavras delinquem / como qualquer farmacêutico

O Parque de Pedras Salgadas, situado no interior de Portugal, a 580 metros de altitude, entre Vila Real e Chaves, ganhou fama pelo poder das suas águas. Nos 20 hectares do conjunto turístico sobressaem as fontes monumentais - agora recuperadas, mantêm os poderem medicinais. Das cinco, apenas a de Pedras Salgadas está aberta ao público - de Julho a Setembro - e qualquer pessoa pode dali beber. A do Penedo e a Grande Alcalina, junto ao edifício do balneário, abre só para tratamentos. A D. Fernando e a Preciosa continuam fechadas. Em tempos, ainda jorrava água na nascente Maria Pia, que ficou conhecida como "a gruta", mas secou.

Os poderes curativos das águas continuam a ser o ex-líbris do parque. O histórico Balneário Termal, integrado no projecto de requalificação, foi recuperado por Álvaro Siza Vieira - autor também do spa da vizinha unidade do Vidago -, que modernizou as instalações de forma sóbria e minimalista.

O edifício divide-se na zona termal, destinada a tratamentos respiratórios, osteoarticulares, metabólicos, digestivos e bem-estar, duche vichy, hidromassagens ou duches de jacto; e o spa mais vocacionado para massagens. A piscina interior é um dos atractivos nestes dias gélidos. Nem pensamos duas vezes antes de mergulhar nas águas tépidas. Depois, ficamos de papo para o ar a olhar as árvores lá fora a balançarem-se ao sabor do vento.


Melhor para entardecer / é encostar em árvore

Deambulamos pelos caminhos de terra atentos aos pequenos mistérios da natureza: os diferentes tipos de cogumelos, os medronhos maduros que pincelam as árvores de vermelho vivo, o musgo que se estende sobre as pedras, o orvalho que escorre das folhas... Tom Sawyer e Huckleberry Finn podiam andar por aqui em grandes aventuras.

Adiante, um carro parece ser engolido pela terra. "É o Monte Avelames", explica-nos, mais tarde, António Rodrigues Simões, director de Turismo da Unicer. "Todas as instalações técnicas, parqueamento, serviços administrativos, manutenção e zona de pessoal ficam aqui escondidos, onde antes era o hotel com o mesmo nome. E apesar de estar debaixo da terra é uma zona desenhada para que a luz natural esteja sempre presente." É lá também que está depositado o mobiliário que resta das várias unidades hoteleiras que habitavam no parque - velhos relógios, centenas de cadeiras, candeeiros, mesas, etc. -, que, aos poucos, vão sendo restaurados e ganham nova vida nas actuais instalações.

O Grande Hotel continua de pé, como uma memória viva, mas inactivo e ainda sem planos. Um pouco mais à frente, recupera-se a capela, que em breve promete acolher celebrações.


Na beira do entardecer / o canto das cigarras enferruja

Também está enguiçada a porta de entrada do antigo casino. Entramos clandestinamente para espreitar o que ainda resta: um cenário que remete para 1920 continua no palco, como se tivessem apagado agora as luzes do espectáculo; papéis caídos do que resta da selecção - "restaurar", "manter"... -; ao cimo de umas escadas de caracol, uma máquina de projecção de filmes espreita sobranceira a sala sem espectadores... Curiosamente, o casino nunca foi a jogo - pelo menos, legalmente, apesar de ter tido um alvará a autorizar. Agora, vai ser totalmente recuperado para voltar a receber como nos tempos áureos e promete grandes festas já a partir do Verão.

Da varanda, avista-se o jardim em fase de recuperação, podia ser o País das Maravilhas de Alice, com o Chapeleiro Louco, a Rainha de Copas, a Tartaruga do conto de Lewis Carroll. Deixamo-nos levar pela imaginação.


Quando as sombras avançam / na estrada é preciso aldear

Para lá dos portões do parque fica a vila de Pedras Salgadas, terra pacata, de pouco comércio, mas com oferta variada. Quando ficar concluído o projecto de requalificação do parque, as antigas garagens vão acolher lojas de parceiros e produtos nacionais, de forma a dinamizar ainda mais a região.

Fazemos compras para o jantar - por hoje, ficamos em casa, porque é realmente assim que nos sentimos. Junta-se um par de amigos e temos um fim-de-semana perfeito. Quem cozinha? Bem, o melhor é tirar à sorte.


Desceu um tédio / de verbena em mim

O aconchego da casa, quentinha, com a chuva a bater nas vidraças, pede um chá. Ficamos assim a ver passar o tempo na televisão. O livro jaz fechado no sofá. Por hoje, descansamos os olhos de poesia.

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Pedras Salgadas SPA & Nature Park
O conjunto turístico disponibiliza sete casas no parque, a que se vão juntar mais cinco até ao Verão e outras três instaladas na copa das árvores. Cada eco-house pode ser adaptada para um máximo de seis pessoas. Todas têmkitchenette e, à chegada, vai encontrar chá, café, leite, manteiga, compotas e, na primeira noite, o pão é por conta da casa, entregue no dia seguinte. Para estadias mais prolongadas, pode optar pelo cesto extra de pequeno-almoço que custa 5 ou 10 euros. Está incluído o acesso ao spa termal - piscina interior aquecida, sauna, banho turco e circuito de jactos de água.
Preço para duas pessoas: 110 euros na época baixa e 150 euros na época alta. Há pacotes promocionais de duas, quatro e sete noites no site.


Como ir
De Lisboa, seguir pela A1 em direcção ao Porto. Depois, apanhar a A3 no sentido Braga até surgir a indicação da A7 para Guimarães. Sempre na auto-estrada, seguir pela A24 em direcção a Chaves. Sair para Pedras Salgadas. São cerca de três quilómetros até à vila e o Pedras Salgadas Spa & Nature fica mesmo à entrada.

Onde comer
O complexo tem um restaurante, a Casa de Chá que só abre sazonalmente (por agora está fechado). Pode optar por preparar as refeições em casa ou descobrir a gastronomia local. Na vila, a Pizzaria Bellandré (Tel.: 259 433 107) tem carta variada - a parte que interessa - com pratos regionais, que pode pedir para entregarem "em casa". O lugar, como a comida, é simples, mas é uma boa opção. Em Vidago, a cerca de 10 quilómetros, experimente os famosos bifes na pedra do restaurante Bataclan (tel. :939 557 513). Em Chaves, a 25 quilómetros, a Adega Faustino (Tel.: 276 322 142) serve petiscos e pratos típicos da região. A proprietária, Odete Faustino, é uma cozinheira de mão-cheia e enche a casa com a sua boa disposição. Vale a pena o desvio.

O que fazer

Pedras Salgadas pertence ao concelho de Vila Pouca de Aguiar, entre Vila Real e Chaves. O complexo turístico ganha forma aos poucos e ainda não tem todos os serviços disponíveis - mais para o Verão, vai ter um campo de ténis e por essa altura também vai poder optar por outra modalidade de estada: três casas empoleiradas na copa das árvores. Para já, pode marcar bicicletas na altura da reserva e com o calor a piscina exterior abre. Na vila, o Centro Equestre organiza passeios com guias.

Saindo de Pedras Salgadas há muito para descobrir. O complexo mineiro de Tresminas, a cerca de 20 quilómetros, é considerado uma das maiores explorações mineiras do período romano, que remonta a 27 a.C., desenvolvida pela técnica de extracção a céu aberto e associada a várias galerias subterrâneas. Para visitar as galerias com acompanhamento é preciso marcar visita: tel.: 259 403 133/4 ou geral@vitaguiar.pt. Nas imediações, o castro de Cidadelha de Jales, que se impõe pelas dimensões das suas muralhas, é outro ponto de interesse, cuja origem ao ano 1000 a.C.

Na serra do Alvão, o Castelo de Aguiar (12 quilómetros), também do período romano, ergue-se isolado como um ninho de águias, apoiado numa gigantesca formação granítica. Daí avista-se o vale de Aguiar e as serranias circundantes.

Nome
Pedras Salgadas Spa e Nature Park
Local
Vila Pouca de Aguiar, Bornes de Aguiar, Parque de Pedras Salgadas
Website
http://www.pedrassalgadaspark.com
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