Fugas - restaurantes e bares

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Animais de palco em boa companhia

Por Sílvia Pereira ,

Esta não é a história de dois amigos que sempre sonharam abrir um bar ao seu gosto. Esta é a história de uma banda que se expandiu para uma sala de espectáculos à medida de um estilo de música. A banda chama-se RCA, sigla para Real Companhia dos Animais, nome que já incorporava a ideia de expansão que agora se concretiza no novo espaço nocturno lisboeta.

Quando visitamos o clube, são os próprios RCA que asseguram o concerto da noite. Estão a celebrar 15 anos de uma carreira votada a forjar versões de música pesada, tocando ao de leve apenas o rock alternativo. A longevidade deve muito ao séquito. Entre os seguidores está Miguel Fernandes, um médico-cirurgião adepto de sonoridades pesadas - além de baixista nas (poucas) horas vagas. Foi nestas andanças que, há cerca de seis anos, conheceu Sérgio Duarte, baixista dos RCA e vocalista do grupo desde a saída de Rui, seu irmão e frontman dos RAMP. Hoje, Miguel e Sérgio são sócios. Juntaram-se na vontade de criar uma sala de concertos como nenhuma outra. “Tinha de ser em Lisboa”, explica Sérgio, para “conseguir entrar no circuito de concertos ao vivo a nível nacional, mas também internacional”. Encontraram a casa ideal numa fábrica de componentes eléctricos desactivada, na zona industrial de um dos bairros culturalmente mais dinâmicos da cidade: Alvalade.

Sérgio, o megalómano, e Miguel, o terra-a-terra (descrição dos próprios), fizeram-se empreendedores. Só a perseverança, a ética de trabalho e a paixão não os deixaram perder o ânimo perante o “calvário” de longos meses de espera para verem desatados os nós burocráticos (de Março de 2012 até à abertura, no final de Novembro de 2013) e poderem ostentar as credenciais de legalidade naquilo que hoje apelidam de “muro das lamentações”. Pelo caminho, foram lançando mãos à obra. A antiga fábrica - um dos muitos edifícios do género que se sucedem pelo quarteirão - parecia feita de encomenda, toque industrial incluído. 

Estruturalmente, alteraram pouco. As paredes brancas tiveram de enegrecer, claro. O palco foi instalado no topo da sala, o balcão foi criado com materiais encontrados no local e o solo transformou-se em plateia/bar com bidões-mesas e muito espaço para o headbanging de um total possível de 300 pessoas. Para outra perspectiva, basta subir aos mezaninos. Atenção: não são permitidos mergulhos (nota ao humor do sinal estrategicamente colocado). Este é o local ideal para tomar um copo e conversar antes, durante ou após os concertos, de pé ou em bancos-paletes que alternam com mesas feitas a partir de bobines de cabos.

Dissemos “conversar”? Sim. Desmistifique-se (mais uma vez) o preconceito de que música pesada seja sinónimo de som agressivo. Antes de subir ao palco para debitar um som tão forte, brutal e musculado como exigido pela cartilha metal dos RCA, Sérgio deixara a garantia: “Não se sai daqui com os ouvidos a zunir”. Eficácia comprovada em toda a sala. O mérito é do profundo trabalho acústico, cujo resultado põe a um canto muitas salas de espectáculo emblemáticas da capital.

Se o público se sente confortável, as bandas podem dizer que estão na sua sala de estar. Bons equipamentos, bastidores e lounge privado são “mimos” que alimentam a estratégia que procura fazer do clube uma paragem a considerar nas digressões. “Por vezes, as bandas tocam em sítios em que as condições são más e isso acaba por ser contraproducente para músicos e agentes”, detalha Miguel. “Mas já começam a saber que, aqui, existe essa preocupação.” 

Nome
RCA Club
Local
Lisboa, Alvalade, Rua João Saraiva, 18
Telefone
211972610
Horarios
Sexta-feira e Sábado das 22:00 às 04:00
Website
http://www.rcaclub.com/
Observações
Música ao vivo. Estacionamento fácil. Todo o espaço é de não fumadores, mas o sistema com cartão pré-pago permite sair e entrar facilmente. (A 3 de Abril realiza-se festa do 15.º aniversário do grupo, apenas por convite)
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