Dentro do bar, por cima de uma improvisada cabine de DJ, há uma placa que salta à vista: “Rua da Barroca”, letras pretas sobre pedra branca, como se a estivéssemos a ver ali fora, na esquina. A estranheza é dupla, pela improbabilidade do sítio em que está colocada e pelo brilho que ainda tem. Qualquer pessoa que passe meia dúzia de horas em Lisboa sabe que não há nenhuma placa toponímica tão brilhante e bem tratada na cidade.
Nuno Machado sorri. “Uma das coisas que dissemos de início foi que queríamos materiais que fossem ganhando história”, explica, a meio caminho entre a porta onde os clientes se avolumam e a mesa onde nos pôs um prego à frente. O Pub Português abriu em Novembro e é por isso que a placa ainda parece estranha. Tudo neste bar, relatam os sócios Nuno, João Francisco e Yassin Nobre, foi pensado para ganhar calo, moldar-se à medida de quem por lá passa, tornar-se testemunho de fins de tarde e noites mais ou menos épicas.
A ideia principal deste pub é “ter o ADN português num conceito tipicamente inglês”, diz João Francisco. O amigo Yassin, que com Nuno idealizou tudo isto, explora um pouco mais. “Sempre fomos aos pubs aqui da zona, os ingleses e os irlandeses, e pensávamos ‘nós também merecemos’”. É por isso, defendem, que vir a este bar não é como ir aos muitos outros do Bairro Alto. O espaço não é grande, mas está cheio de coisas que querem funcionar como marcas identitárias. Há uma parede forrada a capas antigas de A Bola (um dos dois únicos jornais ainda em funcionamento neste bairro), há polaroids, caricaturas de Pessoa e Camões, e há cartazes de filmes pornográficos, mas relativamente longe de olhares púdicos. Um dos títulos é Marido fora, amante na cama.
Mais do que nas paredes, é sobretudo na carta que este pub quer mostrar que não é igual aos outros. “O que Portugal tem de bom, temos aqui”, resume João Francisco. Protegida por um pesado portão em ferro que veio de um monte alentejano, a garrafeira tem mais de vinte referências de vinhos portugueses (a copo, o mais barato custa 3,50 euros; garrafa a partir dos 14 euros). A carta de cervejas também é exclusivamente lusitana, das mais conhecidas marcas às artesanais referências (a partir dos dois euros).
Há ainda a comida, uma das forças-motrizes do projecto. “Era o nosso dilema: onde é que comemos um prego à noite?”, diz João Francisco, que depois tenta identificar os dois ou três sítios em Lisboa que servem refeições a desoras. Aqui, todos os dias até às 2h, há pregos mais ou menos simples, hambúrgueres, moelas e outros exemplos da petiscaria nacional (entre os 6 e os 8 euros).
O espaço enche enquanto debelamos um prego e um copo de tinto à conversa com os três sócios. São oito e tal da noite, o bairro começa a pulular de gente que procura alternativas para jantar e Nuno Machado vai recebendo os clientes e contando histórias da cidade e de outras paragens, aquelas por onde andou durante os anos em que trabalhou em navios de cruzeiro. Quer que as pessoas se sintam “desconfortavelmente confortáveis”, atira sorridente. “Nós queríamos que a experiência de vir cá não fosse só uma coisa individual ou a pares, queríamos que os grupos se misturassem.” Os sofás e bancos altos garantem o conforto básico ao local, mas o pé fica a pouca distância do chão e isso facilita movimentos, interacções, contactos, misturas.
- Nome
- Pub Português
- Local
- Lisboa, Lisboa, Rua da Barroca, 15, Bairro Alto
- Telefone
- 0
- Horarios
- Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 18:00 às 02:00