Fugas - restaurantes e bares

  • Miguel Manso
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Um cantinho lusitano no bairro de todas as misturas

Por João Pedro Pincha ,

Qualquer pessoa que passe meia dúzia de horas em Lisboa e suba os dois degraus da entrada do Pub Português, no Bairro Alto, identifica logo uma estranheza.

Dentro do bar, por cima de uma improvisada cabine de DJ, há uma placa que salta à vista: “Rua da Barroca”, letras pretas sobre pedra branca, como se a estivéssemos a ver ali fora, na esquina. A estranheza é dupla, pela improbabilidade do sítio em que está colocada e pelo brilho que ainda tem. Qualquer pessoa que passe meia dúzia de horas em Lisboa sabe que não há nenhuma placa toponímica tão brilhante e bem tratada na cidade.

Nuno Machado sorri. “Uma das coisas que dissemos de início foi que queríamos materiais que fossem ganhando história”, explica, a meio caminho entre a porta onde os clientes se avolumam e a mesa onde nos pôs um prego à frente. O Pub Português abriu em Novembro e é por isso que a placa ainda parece estranha. Tudo neste bar, relatam os sócios Nuno, João Francisco e Yassin Nobre, foi pensado para ganhar calo, moldar-se à medida de quem por lá passa, tornar-se testemunho de fins de tarde e noites mais ou menos épicas.

A ideia principal deste pub é “ter o ADN português num conceito tipicamente inglês”, diz João Francisco. O amigo Yassin, que com Nuno idealizou tudo isto, explora um pouco mais. “Sempre fomos aos pubs aqui da zona, os ingleses e os irlandeses, e pensávamos ‘nós também merecemos’”. É por isso, defendem, que vir a este bar não é como ir aos muitos outros do Bairro Alto. O espaço não é grande, mas está cheio de coisas que querem funcionar como marcas identitárias. Há uma parede forrada a capas antigas de A Bola (um dos dois únicos jornais ainda em funcionamento neste bairro), há polaroids, caricaturas de Pessoa e Camões, e há cartazes de filmes pornográficos, mas relativamente longe de olhares púdicos. Um dos títulos é Marido fora, amante na cama.

Mais do que nas paredes, é sobretudo na carta que este pub quer mostrar que não é igual aos outros. “O que Portugal tem de bom, temos aqui”, resume João Francisco. Protegida por um pesado portão em ferro que veio de um monte alentejano, a garrafeira tem mais de vinte referências de vinhos portugueses (a copo, o mais barato custa 3,50 euros; garrafa a partir dos 14 euros). A carta de cervejas também é exclusivamente lusitana, das mais conhecidas marcas às artesanais referências (a partir dos dois euros).

Há ainda a comida, uma das forças-motrizes do projecto. “Era o nosso dilema: onde é que comemos um prego à noite?”, diz João Francisco, que depois tenta identificar os dois ou três sítios em Lisboa que servem refeições a desoras. Aqui, todos os dias até às 2h, há pregos mais ou menos simples, hambúrgueres, moelas e outros exemplos da petiscaria nacional (entre os 6 e os 8 euros).

O espaço enche enquanto debelamos um prego e um copo de tinto à conversa com os três sócios. São oito e tal da noite, o bairro começa a pulular de gente que procura alternativas para jantar e Nuno Machado vai recebendo os clientes e contando histórias da cidade e de outras paragens, aquelas por onde andou durante os anos em que trabalhou em navios de cruzeiro. Quer que as pessoas se sintam “desconfortavelmente confortáveis”, atira sorridente. “Nós queríamos que a experiência de vir cá não fosse só uma coisa individual ou a pares, queríamos que os grupos se misturassem.” Os sofás e bancos altos garantem o conforto básico ao local, mas o pé fica a pouca distância do chão e isso facilita movimentos, interacções, contactos, misturas.

Nome
Pub Português
Local
Lisboa, Lisboa, Rua da Barroca, 15, Bairro Alto
Telefone
0
Horarios
Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado das 18:00 às 02:00
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