Fugas - Viagens

Rui Gaudêncio

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Nas duas margens do grande diamante por lapidar

90 quilómetros para navegar

Seja qual for a escolha, o importante é embarcar para não perder pitada deste "diamante por lapidar", como gosta de o definir Manuel Maia, da Amieira Marina. O Alqueva proporciona-nos mais de 90 quilómetros de possível navegação, com distâncias entre margens que chegam aos quatro quilómetros. Uma semana seria pouco para ir andando ao sabor do vento e da suave ondulação e poder parar com calma em cada ilhota ou em cada aldeia e sentir o cheiro a terra. O cheiro da natureza. A Amieira está a apenas dez quilómetros da barragem propriamente dita e a 83 quilómetros de Juromenha, uma terra já espanhola e que em breve acolherá também uma zona de marina preparada para lazer e desportos náuticos e a partir da qual se pode olhar para Portugal numa zona que convida a estender uma toalha e a reflectir.

A água verde límpida faz de um verdadeiro espelho do sol e permite que os tons amarelados e verdes da paisagem não pareçam secos. As árvores dão a ideia de terem sido geometricamente plantadas e cada pedaço de terra é um convite a um piquenique e a um passeio. Tudo parece acessível, tudo convida à descoberta. Nesta altura do ano só a água gélida não convida a banhos. O vento, esse, ajuda a refrescar as ideias. E, quando sopra mais forte, obriga-nos a fechar os olhos e a ficar a imaginar a natureza que ainda continua fixada na nossa retina. Mas, embrulhados num bom casaco e com um cachecol atafulhado no pescoço, o nariz frio quase que passa despercebido.

Depois do passeio, para ajudar a aquecer e reconfortar o estômago, nada melhor do que um almoço no restaurante panorâmico Amieira Marina. Dentro de um verdadeiro cubo de vidro (ou nas suas varandas, que se prolongam por cima do lago) podemos continuar a desfrutar da barragem. Que tal um creme de tomate, um pavé de garoupa em caldinho de amêijoa e, para terminar, uma sericaia com ameixa de Elvas? Tudo acompanhado pelo incomparável pão e pelo aromático vinho da região.

Turismo, a palavra-chave

Turismo. Esta é a palavra que explica todas as mudanças que aqui aconteceram. A serenidade da paisagem não se perdeu, mas nota-se que há várias coisas a acontecer. E muita vontade para que aconteçam ainda mais, de preferência com Espanha, a vizinha do lado de lá do lago onde também vale a pena demorarmo-nos a namoriscar cada aldeia alva, cada casa à beira lago plantada. Aliás, os dois países constituíram o Pegla (Projecto Estruturante para o Desenvolvimento das Terras do Grande Lago Alqueva), que tem em vista a cooperação transfronteiriça em tudo o que diga respeito a este recurso que é o lago. O projecto abrange sete municípios portugueses (Alandroal, Moura, Mourão, Portel, Reguengos de Monsaraz, Serpa e Vidigueira) e cinco espanhóis (Alconchel, Cheles, Olivença, Táliga e Villanueva del Fresno).

É com Espanha que se está a preparar uma rota dos castelos. As fortalezas que um dia serviram para proteger os povos estão agora de portas abertas para receber os curiosos. E as entidades turísticas alentejanas e extremenhas gostavam que o percurso passasse pelos dois países, com o lago como intermediário e como desculpa para uma viagem à volta da água mas recheada de muitos outros momentos únicos.

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