Fugas - Viagens

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À descoberta da natureza da Colômbia com os índios kogi

Julian lança o chapéu branco com uma fita preta para trás e acena-me com um olhar meigo no momento em que o sol bate uniformemente no seu rosto. Os 27 cavalos continuam à espera dos turistas e Enrique vira, finalmente, a página para onde os seus olhos não deixavam de resvalar.

Uma actriz mal preparada

- Lady, se tu deixas, elas comem-te viva.

O aviso parte da tia e a mãe da jovem, de apenas 19 anos, acena com a cabeça em sinal de concordância. Uma árvore quebrada sobre as águas onde se projectam retalhos do céu serve de passagem para uma miríade de formigas incansáveis que transportam fragmentos de folhas.

- Não acreditas, Lady? Olha que te comem mesmo, viva!

Um vigilante do parque, parado como um espectador num cortejo, jura, através daquele olhar insinuante, que as formigas não seriam as únicas. Lady vem de Bogotá, veste um top em tons de azul que apenas lhe cobre os seios, uma saia justa que lhe realça as curvas e calça uns sapatos prateados com uns saltos altos que se espetam, como agulhas, na terra arenosa. Ao ombro, tem uma mala preta e branca. Assemelha-se a uma actriz num palco a representar um papel para o qual não está minimamente preparada. Mas ela encarna apenas o fascínio que os colombianos sentem pelo Tayrona, que chega a receber, entre Dezembro e Fevereiro, mais de duas mil pessoas por dia.

Uma família de macacos agita os ramos das árvores que recebem os raios solares estilhaçados e desperta a atenção de Lady. Ela prossegue, naquele penoso caminhar, até se deter para observar um jacaré que, sentindo a presença humana, levanta a cabeça dourada pelo sol. Tayrona, com uma área de 150 km2, incluindo 30 de área costeira, acolhe mais de 100 espécies de mamíferos e 300 espécies de pássaros. Alguns turistas, muitos deles provenientes do Chile, passam por nós a cavalo e todos, ou quase todos, depositam um olhar nem sempre discreto nos saltos dos sapatos cuja cor prateada não é mais do que uma recordação.

- O avô é o último da fila mas será o primeiro a chegar.

Álvaro Gimenez, bem perto dos 70 anos, guia no parque há mais de 20, leva na mão direita um cajado e caminha num passo vigoroso, numa clara demonstração de robusta virilidade. Acompanha dois casais neste passeio até Arrecifes.

- Precisas de transporte para regressar a Santa Marta?

Respondo que não e agradeço. Lady sorri.

- Que saúde, avô!
- Faço isto diariamente, mais do que uma vez se for preciso.

A jovem parece invejar as sandálias que Álvaro Gimenez leva calçadas numa altura em que o traçado começa a tornar-se mais difícil. A água sulcou a terra e Lady, naquele equilíbrio precário, assemelha-se a um trapezista em cima de uma corda sem rede. Mas irradia simpatia por todos os poros e uma total disponibilidade para o diálogo que vai mantendo ao longo do percurso.

O avô volta à carga. Pergunta-me:

- E onde vais dormir?
- Vou até Pueblito, depois desço até Calabazo e espero regressar a Santa Marta ao fim do dia.

Ele sorri.

- Não é possível. A partir daqui, do lugar onde nos encontramos, precisas de pelo menos dois dias para chegar ao outro lado, a Calabazo.

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