Ainda que orgulhosos do fascínio que Petra provoca nos viajantes, os Nabateus não foram os primeiros a instalarem-se nesta zona. Escavações levadas a cabo a dez quilómetros de Petra, em Al-Bheida, conduziram à descoberta de uma aldeia neolítica cujas origens remontam a sete mil anos antes de Cristo e que terá sido construída na mesma altura que Jericó. Como região habitada, nada mais se sabe até chegarmos à Idade do Ferro, 1200 anos antes de Cristo, período que dá conta da presença dos edomitas.
Originários do Sueste da Palestina, estabeleceram-se na região e fundaram a capital, Sela - que, tal como Petra, significa pedra. A Bíblia faz referência à cidade que inicialmente se julgava ter sido erguida no alto de uma fortaleza rochosa, em Umm al-Biyara, tese que tem vindo a perder força para uma outra, que aponta para a sua localização dez quilómetros a sul de Tafila. Mas foi em Sela, ainda de acordo com a Bíblia, que Amasias, rei de Judá, lançou do alto das falésias dez mil prisioneiros, conquistando a cidadela, 800 anos antes de Cristo.
As escadas íngremes sobem aos céus e, de quando em vez, no meu trajecto a caminho do Mosteiro, cruzo-me com beduínos que se fazem acompanhar dos seus táxis com ar condicionado. No céu, nem um farrapo de nuvens, o ar macio e o sol a cintilar lá em cima. Dissimuladas, um pouco por todo o lado, algumas sepulturas, a tal ponto que durante anos prevaleceu a ideia de que Petra era uma cidade-necrópole.
A teoria rapidamente caiu por terra e deu lugar a uma outra que aponta para a existência de uma cidade activa, cuja situação geográfica facilmente se explica: os seus primeiros habitantes eram nómadas e Petra, sendo muito fácil de defender de eventuais ataques, constituía um refúgio de excepção. Mas a maior parte das habitações, em terra crua, não resistiu à erosão e aos frequentes sismos, ao passo que a presença de um número elevado de túmulos com grande prestígio se deve ao facto da população ter uma ligação muito forte, do tipo religioso, ao lugar.
O Alto Lugar do Sacrifício
É a partir do século VI antes de Cristo que os Nabateus, um numeroso conjunto de tribos nómadas de origem árabe, provenientes do deserto arábico, se impõem na região, transformando Petra, ponto de passagem das caravanas, numa cidade próspera. Recorrendo inicialmente às pilhagens e instituindo, mais tarde, um sistema de portagens, os Nabateus controlavam todo o comércio de incenso (cujo valor chegava a multiplicar-se por cem ao longo do percurso) e mirra que eram transportados, em camelos, desde o Iémen ao longo da Rota do Incenso.
Em simultâneo, manipulavam o negócio das especiarias que eram canalizadas, de barco, para a Arábia e com procedência em lugares tão distantes como a Somália, a Etiópia ou a Índia. Nos subúrbios da capital, Petra, recebiam as caravanas e responsabilizavam-se pela logística, processando produtos, oferecendo serviços bancários e animais frescos para as mercadorias serem transportadas até aos portos de Gaza e de Alexandria (na época o centro económico e cultural do mundo) e logo embarcadas para a Grécia e Roma.