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Barranquilla, o Carnaval imperdível da Colômbia

Por Sousa Ribeiro

Declarado Património Oral e Imaterial pela UNESCO, o Carnaval de Barranquilla é a maior expressão da amálgama de identidades culturais que caracterizam esta cidade. Sob o véu multiétnico do qual Shakira é apenas uma das muitas representantes, a antiga La Arenosa, Porta de Ouro da Colômbia, vive quatro dias de uma loucura que reflecte o seu espírito criativo.

“Quien lo vive, es quien lo goza.” A frase, estampada na camisola de alças da jovem que olha com um ar sonhador o mar que quase lambe o asfalto, exacerba a minha ansiedade.

- Tens de sair muito cedo, se queres desfrutar.

Na noite anterior, ainda em Santa Marta, escutando o ruído das ondas sob um céu cheio de estrelas, decidira seguir os conselhos de Ângela Llanes e, aos primeiros alvores de um dia que se anunciava esplendoroso, já me encontrava confortavelmente sentado num autocarro a caminho de Barranquilla. Enquanto o olhar se perdia, dividido entre as águas das Caraíbas, de um lado, e os pântanos, do outro, na mente fervilhava a dúvida de poder assistir, sem acreditação, à maior manifestação cultural da cidade colombiana.

- Irás ver com os teus próprios olhos. É uma loucura, um acontecimento imperdível. O Carnaval de Barranquilla junta mais de um milhão de pessoas na rua.

No horizonte, sob uma luz cristalina, avistava agora os arranha-céus da cidade e pensava, imbuído de uma crescente euforia, nas palavras de Ângela Llanes, no brilho dos seus olhos negros e, como que movida por um propósito inexorável, na ênfase que colocava na descrição da parada, dos trajes, das ruas, de uma festa onde parecia não haver lugar para tréguas. E, naquele momento, no autocarro, não pude deixar de sorrir ao recordar fragmentos do diálogo da véspera.

Ela perguntou:

- De que te estás a rir?

Eu respondi:

- Da forma como falas, tão pungente, não resisto a fazer uma associação com um orgasmo colectivo.

Percebi que a sua face se ruborizava.

- Não estás longe da verdade. É uma metáfora razoavelmente sensata. Se me expresso desta maneira, é porque sinto uma certa nostalgia por ter vivido essa sensação e, ao mesmo tempo, um sentimento de pena por não poder participar este ano. Nem sabes a inveja que tenho de ti.

A moldura da janela deixa-me ver os cargueiros sulcando docilmente as águas da boca do rio Magdalena.

Dada a sua situação geográfica e o bulício constante do maior porto fluvial do país, Barranquilla é considerada a capital do Atlântico, graças à suavidade do clima costeiro da desembocadura do rio e de um cenário paisagístico com uma orografia muito particular, composto, em grande parte, por manguezais que podem ser percorridos em embarcações vulgarmente conhecidas por planchones.

Numa cidade em que o betão por vezes asfixia, uma viagem por este território mergulhado no silêncio é como o sol a brilhar durante um aguaceiro e representa a oportunidade para entrar em contacto com uma grande variedade de espécies animais, algumas em vias de extinção, o tigre, a arara ou o macaco sagui.

E, uma vez de regresso à baía do Magdalena, ninguém fica indiferente aos mil tons de azul, do turquesa ao pastel, das Caraíbas, precisamente no ponto, conhecido como Bocas de Ceniza, em que as águas, como um casal de namorados, se beijam.



O direito dos pobres

“Se va el caimán, se va el caimán, se va para Barranquilla”, assim cantava, na década de 1940, José Maria Peñaranda, compositor nascido no início do século passado nesta cidade que agora me abre os braços e que, na época, quando a música foi proibida em Espanha por alegadamente satirizar os falsos anúncios da retirada de Franco, era conhecida como La Arenosa. A etimologia da actual designação resulta, com efeito, da referência à sua paisagem envolvente, às barrancas que se formavam em redor do rio Magdalena por causa dos pântanos, barrancas onde costumava acorrer o gado dos povos vizinhos para beber água. Reza a lenda que, cansados de ir buscar, vezes sem conta, os animais, os aldeões decidiram instalar-se nesse terreno fértil para onde lanço o meu olhar no exacto momento em que o autocarro inicia a travessia da Ponte Pumarejo, a mais comprida do país.

“Rio Magdalena, que cruzas por tanto pueblo, pasas orgulloso, bajo el puente Pumarejo,  Rio Magdalena, de mi Colombia querida, pasa por el puente, pa’unirnos pa’ to’ a la vida.” Se os Melódicos me ouvissem cantar, a esta hora, quando a manhã ainda preguiça, provavelmente encerrariam todas as portas desta metrópole para barrar a minha entrada. Barranquilla é a cidade da música, o traço mais forte da sua identidade, o admirável mundo do vallenato, da cumbia, do porro, da chalupa, do fandango, do bullerenge e não admira que o Carnaval, esse orgasmo colectivo que apenas é superado pelo do Rio de Janeiro, entre por todas as casas, alegrando ainda mais um povo que dá ideia de viver numa alegria eterna, capaz de contagiar mesmo o mais frio dos turistas.  

O boneco empalhado, deitado sobre o alpendre, com uma perna e um braço pendendo para a rua, segurando na mão direita uma garrafa de cerveja Aguila e com três outras de bebidas espirituosas, todas vazias, a decorar a moldura ébria, assemelha-se a um prenúncio de desnorte e remete-me de novo para a minha realidade feita de angústias. Como um sonho bom que dá lugar a um pesadelo, volto a pensar na acreditação enquanto caminho ao longo das ruas de El Prado, com as suas vivendas sumptuosas e os seus jardins viçosos, num ambiente de uma tranquilidade ordeira, em contraste com tudo o que se ouve, lê ou vê sobre a Colômbia e sobre Barranquilla. Sob o fundo azul de cobalto do céu, os olhos divagando por todo o lado, pressinto o murmúrio de vozes e o esboço de sons festivos ainda antes de alcançar a Calle 76 e de me deixar envolver por aquele frenesim típico dos preparativos. Dirijo-me a alguém que está identificado como fazendo parte da organização, de pé do outro lado das barreiras metálicas:

- Tens de pedir uma credencial onde funciona o centro de imprensa.

As indicações que o homem me forneceu quanto à localização do espaço destinado aos media não deixavam lugar para dúvidas: perante aquele tumulto, vendo como o formigueiro humano crescia e enlouquecia, só mesmo um milagre me traria de volta a horas de assistir ao desfile. Bem próximo, o dono de uma barraca de bebidas alinhava cadeiras de plástico para quem pretendesse presenciar o evento, cobrando entre 70 e 170 pesos por cada lugar. Eu quedava-me por ali, pouco confortável para fotografar, quando um elemento da protecção civil, furioso, rompeu as barreiras e se dirigiu ao vendedor, numa altura em que algumas pessoas já se encontravam instaladas:

- As cadeiras têm de sair daqui já. Os pobres também têm direito a ver.

Senti que era a minha oportunidade. Ele ouviu-me com atenção pouco depois de dois caças terem sobrevoado os céus de Barranquilla. E, virando-se para um agente da polícia, deu ordens para eu transpor a barreira.

- Cuidem bem dele. É um estrangeiro.   

O destinatário seguiu tão à letra a mensagem que um minuto depois estendia a protecção à minha pele:

- Toma! É melhor colocares um pouco de protector, De outro modo sais daqui como uma lagosta.

Um camião distribuía água entre a assistência que já se acomodava nas bancadas e eu começava a sentir os 32 graus, ainda o início da tarde se anunciava. E a sentir-me em casa numa cidade que desde tempos que a memória já não alcança se revelou hospitaleira e totalmente aberta ao mundo.


Cidade multicultural

“Mira en Barranquilla, se baila asi.” O cortejo assoma, a música enche a atmosfera, as bailarinas não desmentem Shakira e Shakira não mente: “Hips don’t lie.” A cantora colombiana, natural de Barranquilla (comemora hoje, sábado, 36 anos), baptizada com o nome sonante de Shakira Isabel Mebarak Ripoll, tem ascendência libanesa — os avós paternos deixaram o Líbano para rumar a Nova Iorque — e é apenas uma das muitas representantes do multiculturalismo que é, a par da música, um dos rasgos mais atractivos da cidade.

Fundada em 1629, Barranquilla apenas ganhou importância em meados do século XIX, graças ao potencial como porto da sua mais importante artéria fluvial. Nessa época, no entanto, enfrentava ainda sérios problemas de navegação no delta do Magdalena, levando os mercadores que subiam e desciam o rio a passar por Cartagena, utilizando o Canal do Dique, que se junta ao rio uma centena de quilómetros para lá da desembocadura. É já no final do mesmo século que o progresso chega verdadeiramente a Barranquilla, com a abertura do Puerto Colômbia, a 15 quilómetros do centro. A cidade garantia, finalmente, um estatuto sem paralelo como porto fluvial e marítimo, adquirindo ainda maior expressão no início do século XX, face ao incremento do comércio e ao aumento das exportações dos produtos locais, principalmente café, para diferentes destinos mundiais.

Os ecos do crescimento económico da então denominada Porta de Ouro da Colômbia não tardaram a atrair uma vaga de imigrantes das mais distintas proveniências, com especial incidência durante e após as duas guerras mundiais, conferindo à cidade uma dinâmica que fez dela pioneira na América Latina em diferentes áreas. Barranquilla, gozando já de um certo cosmopolitismo, orgulha-se de se ter convertido na primeira metrópole a contar com um hotel de luxo e foi também através dela que penetraram na Colômbia inventos como a rádio, o telefone e a aviação — na cidade foi construído o primeiro aeroporto e coube a Charles Lindbergh o acto heróico de inaugurar os céus colombianos a bordo de um intrépido aeroplano.

Com um chapéu multicolorido na cabeça, a pele enegrecida e uns lábios de um vermelho vivo, um dançarino fita a minha câmara enquanto agita o corpo a um ritmo frenético. O sol queima o asfalto e um homem desfalece entre a assistência eufórica perante a presença, mesmo ao meu lado, de Laura Acuña, apresentadora de televisão e vencedora de cinco concursos de beleza.

O corso avança, um longo dragão vermelho indica a presença da comunidade chinesa, um homem com uma farta cabeleira dá toques numa bola, tentando imitar o mais proeminente futebolista colombiano, Carlos Valderrama. Nas costas de dezenas de camisolas de um amarelo vivo está estampada a letras verdes uma frase que retrata na perfeição o carácter multiétnico dos curramberos (gentílico dos habitantes locais): Barranquilla, ciudad feliz. Declarado Património Cultural da Nação, em 2002, e Património Oral e Imaterial da Humanidade pela UNESCO, no ano seguinte, o Carnaval, mais do que uma festividade alegre, reflecte o espírito criativo das gentes das Caraíbas.

Se a mescla de culturas é visível para quem assiste, como eu, à passagem do vistoso desfile ou através de uma caminhada ao longo da Calle 98 ou da 84 — conhecida como La Rumba por ser a zona da moda —, nada melhor do que uma visita ao Museu do Caribe para compreender o carácter singular da mistura de culturas aborígene e africana e a sua capacidade para resistir aos invasores espanhóis e preservar os seus mitos, as suas expressões populares e as suas crenças. Trata-se de um espaço versátil para ver, sentir e tocar elementos culturais da costa atlântica e que foi erguido sobre os antigos terrenos de uma cervejaria, um total de 22 mil metros quadrados que, graças à tecnologia, mostram as lendas do imaginário das Caraíbas, bem como momentos importantes da história social e política da região.

Integrado num ambicioso projecto arquitectónico designado Parque Cultural Caribe, o museu tem também uma sala dedicada ao realismo mágico de Gabriel García Márquez, sempre presente na mente dos curramberos — o escritor colombiano, Prémio Nobel da Literatura em 1982, viveu em Barranquilla na década de 1950. “Barranquilla permitiu-me ser escritor. Tinha a maior população de imigrantes de toda a Colômbia — árabes, chineses, etc. Era como Córdova na Idade Média. Uma cidade aberta, cheia de pessoas inteligentes que se estavam nas tintas para serem inteligentes.2 As palavras do escritor, escutadas pelo seu biógrafo, Gerald Martin, em Uma Vida (D. Quixote), não nos deixam mentir sobre o carácter das gentes da cidade onde Gabo chegou com duzentos pesos, uma sandálias nos pés e apenas duas mudas de roupa que lavava no duche.


O enterro de Joselito

- Esta gente poupa para viver o Carnaval. Se não tem dinheiro, penhora uma televisão ou um frigorífico para comprar umas grades de cerveja.

A simpática agente da polícia, do Departamento de Investigação e Combate ao Narcotráfico, passa grande parte do tempo ao meu lado, ora sorrindo, ora contando histórias de um Carnaval histórico, durante o qual, segundo números que podem pecar por defeito, são vendidas cerca de 100 mil caixas de rum e aguardente. No total, mais de três mil agentes garantem a segurança do evento, também controlado desde o espaço aéreo por dois helicópteros. O homem que, vítima de um enfarte, desfalecera entre a multidão por vezes histérica, regressa na ambulância a tempo de presenciar ainda grande parte da festa e é aplaudido e recebido com abraços pelo povo em êxtase.

- Parecia mais morto do que um morto e está de volta mais vivo do que eu.

A jovem, com uns bonitos cabelos encaracolados que lhe caem pelos ombros e uns olhos negros como o carvão, sorri ao pronunciar estas palavras, enquanto encosta o gargalo aos grossos lábios. A cerveja desaparece nas gargantas sequiosas, o sol continua a castigar com a sua inclemência e a agente da polícia estende-me duas garrafas de água no exacto momento em que ambos recebemos um banho de espuma. É Carnaval, o mundo saiu para a rua, quien lo vive, es quien lo goza. Oficialmente inaugurados há mais de um século mas com uma tradição que remonta a muito antes, os festejos prolongam-se por quatro dias, paralisando, literalmente, qualquer actividade na cidade.

As ruas, órfãs de transportes e com as portas do comércio encerradas, são invadidas por dançarinos, músicos, paradas e mascarados. O evento, que se prolonga por quatro dias, tem início no sábado, com a Batalha das Flores, uma parada em carros alegóricos, prossegue no domingo com a Grande Parada, com milhares de festeiros enchendo as ruas com os seus costumes carnavalescos, e dedica a segunda-feira ao Festival das Orquestras, uma maratona de concertos de grupos das Caraíbas.

O último dia, depois de uma noite que parece não ter fim, está reservado para o simbólico enterro de Joselito, o personagem que representa o Carnaval de Barranquilla. O seu corpo é sepultado pelas viúvas alegres que com ele compartilham os dias de festa, uma despedida com um regresso prometido ao fim de 361 dias. Percorrendo algumas das ruas do típico Bairro Abajo, centenas de Joselitos são chorados numa representação cómico-teatral que expressa a dor pelo final dos festejos.


O mundo das rainhas

As bancadas agitam-se, gritos ensurdecedores enchem a atmosfera, misturando-se com a música e os tambores, algo de muito importante, no meio deste espectáculo de cor, está prestes a acontecer.

- Olha que vem aí a Rainha do Carnaval.

A agente avisa-me da chegada mais aguardada, o mistério de tamanho alvoroço entre a assistência contagiada pelos ritmos musicais e pelo constante movimento das dançarinas, com corpos tão elegantes e flexíveis que mais parecem feitos de borracha. Do alto do carro alegórico, Marcela Dávila, estudante de comunicação social e desportista — integra uma equipa de futebol feminino — saúda a multidão em delírio, mulheres dançam no meio da espuma, todas as extravagâncias são permitidas, como se, sob aquele céu pintado de azul, não houvesse lugar para o limite. Os decotes descem e a temperatura sobe, a passagem da rainha provoca um sentimento de alegria mas também, em muitas mulheres, de inveja, de tal forma alimentam, muitas delas, o sonho de um dia serem coroadas.

A eleição ocorre, todos os anos, em Agosto, e este ano a eleita é Daniela Cepeda, uma morena de 23 anos, advogada, concorrente derrotada na edição anterior e que, por força do seu apelido, se viu, logo que a notícia foi tornada pública, envolvida em acesa polémica. A jovem, natural de Barranquilla, é filha do senador e director do Partido Conservador, Efraín Cepeda, correndo rumores, sempre difíceis de provar, de que a alcaidesa Elsa Noguera terá intercedido junto de alguns membros da Junta Directiva, a quem compete definir a vencedora, no sentido de favorecer a candidatura de Daniela Cepeda e, desta forma, expressar a sua gratidão ao pai pelo facto de a ter apoiado nas eleições para a alcaidaria.

Com mais ou menos suspeitas, mais ou menos polémica, Barranquilla prepara-se para viver um ano memorável que, pelo menos aos mais velhos, soará sempre como um eco de um passado glorioso. Conhecida pelo caos urbano e por oferecer escassas atracções aos turistas (com o regresso dos tempos de paz o número já se eleva a três milhões por ano em todo o país), Barranquilla tem feito um esforço para restaurar os seus lugares mais emblemáticos e será, no ano em que celebra os 200 anos da sua passagem a cidade, a 7 de Abril de 1813, a Capital Americana da Cultura.

Ao início da tarde, sob um sol abrasador, bebo uma cerveja no Hotel el Prado, um elegante edifício neoclássico construído nos anos 30 do século passado que é a jóia currambera e o maior motivo de orgulho dos habitantes de Barranquilla. Património de Interesse Cultural e Nacional, oferece terraços lindíssimos, jardins tropicais e amplos salões por onde desfilaram Carlos Gardel, Grace Kelly (durante a rodagem de Green Fire, de 1954), Greta Garbo e Gabriel Garcia Marquez. “Por aqueles dias de boa sorte, encontrei-me por acaso com Mercedes Barcha, a filha do boticário de Sucre a quem propusera em casamento desde os seus treze anos. E, ao contrário das outras vezes, aceitou por fim um convite para dançar no domingo seguinte no Hotel el Prado.” Aqui sentado, imerso nos meus pensamentos, imerso ainda na ressaca da loucura do Carnaval, tenho de dar razão ao grande escritor: Viver para Contá-la (D. Quixote), mesmo que se viva apenas durante quatro dias de folia.

No céu escuro começavam a cintilar as estrelas quando, uns dias depois, regressei a Santa Marta, em trânsito para Cartagena das Índias. Preenchi a moldura da porta da pensão e avistei, ao fundo de um longo corredor, Ângela Llanes sentada no pátio exterior, conversando animadamente com a mãe. Ambas me deram as boas noites e, após um breve silêncio, senti o rubor na minha face perante a pergunta da morena e o incómodo da presença da mãe:

- Então, que tal esse orgasmo colectivo?

Não tive tempo para pensar mas a resposta assomou-me rapidamente aos lábios:

- Quien lo vive, es quien lo goza!


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Guia prático

Quando ir
A Colômbia, com um clima que sofre poucas variações, pode ser visitada em qualquer altura do ano. Sem ter, propriamente, uma temporada alta ou baixa, os períodos de maior afluência de turistas correspondem aos meses de Dezembro e Janeiro, à época da Páscoa e das férias escolares (em Junho e Julho). No caso específico de Barranquilla, se pretender visitar a cidade no Carnaval, é imperioso reservar hotel com alguma antecedência, face à escassez de oferta e à subida (pelo menos 20 por cento) dos preços durante os quatro dias em que decorrem os festejos.

Como ir
Iberia e Avianca (utilizando um voo da companhia aérea espanhola para o trajecto entre Lisboa e Madrid) oferecem as opções mais em conta para chegar a Barranquilla (inclui ainda uma escala em Bogotá). O preço, embora dependa da altura do ano, ronda, tanto num caso como no outro, os 800 euros.

O que fazer
Para os amantes da natureza, há alguns lugares interessantes nas cercanias de Barranquilla. Um deles é a Ciénaga de Mallorquin, uma lagoa costeira e um ecossistema com milhões de anos, rica em flora e em fauna, com um grande número de mangues e diferentes variedades de peixes. A apenas 60 quilómetros da cidade, está situado o Vulcão Totumo, um lugar em cujo interior (acesso através de uma escada) pode relaxar e esfoliar o corpo na lama natural, com propriedades curativas. Finalmente, para os amantes das caminhadas, justifica-se uma visita ao Parque Natural da Ilha de Salamanca, abundante em pássaros e espaço privilegiado de algumas tartarugas. Estando numa região costeira, é difícil resistir à tentação de dar um mergulho nas águas das Caraíbas, devendo optar por praias como Pradomar (ideal para a prática do surf e famosa pela sua vida nocturna), Sabanilla, Salgar (ambas com bons restaurantes e barracas de comida) e, a menos de meia hora de carro, Puerto Caimán, uma praia de areia branca e palmeiras. 


Onde comer
La Casa del Sonchito (Calle 74, nº 47-48), com algumas das especialidades colombianas no menu, é um dos melhores restaurantes da cidade, num ambiente descontraído (mesas de madeira no exterior, normalmente cheias) e preços em conta.
Em alternativa, se preferir comida saudável do Médio Oriente, pode optar pelo Restaurante Sareb (Carrera 49 C, nº 76-139) ou, caso seja adepto de uma boa carne, pelo El Merendero (Carrera 43, nº 70-42).
Qualquer um dos restaurantes fica situado na zona de El Prado mas se o orçamento para a viagem apelar à contenção, o Centro, nas proximidades do Paseo Bolivar, é o lugar ideal para saciar o apetite.


Onde dormir
A exemplo do que acontece um pouco por todo o país, Barranquilla tem assistido, nos dois últimos anos, a um verdadeiro boom hoteleiro. Em 2013, serão inaugurados seis novos espaços, dois deles de cinco estrelas. Para já, as alternativas mais credíveis passam pelo SmartSuites Royal, na Calle 80, nº 51 B-25, no Alto Prado e, na mesma zona, situada nas proximidades do distrito financeiro e de alguns dos lugares mais emblemáticos da cidade, o Hotel Estelar, na Calle 76, nº 78-29. Para os nostálgicos, recomenda-se o Hotel el Prado, na Carrera 54, nº 70-10. 


Informações
Um euro equivale a 2340 pesos colombianos. O visto para entrar no país pode ser obtido no aeroporto, necessitando apenas de apresentar um passaporte com o mínimo de seis meses de validade. Mantenha na sua posse um formulário que terá de preencher à chegada, sob pena de ser multado na hora de partir. Iberia e Avianca incluem no preço da viagem a taxa aeroportuária aplicada a quem visita o país.

Site oficial do Turismo da Colômbia

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