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Vila Velha de Ródão: portas e varandas do Tejo

Na freguesia de Vilas Ruivas, pequena aldeia que encontramos a desfrutar do final de tarde de um dos primeiros dias de calor do ano, perguntam-nos pelas gravuras rupestres.

- Já ouvimos falar mas nunca as vimos.
- Também acho que estão debaixo de água.
- Onde estão?

A conversa é com Joaquim Ribeiro, Maria Noémia Cardona e vizinhos que preferem não dar o nome: têm receio de ladrões e burlões. Todos nasceram em Vilas Ruivas, viveram décadas em Lisboa ou arredores e regressaram na reforma. Os filhos ficaram lá, muitos mantêm as casas, mas preferem “estar aqui, na rua, a conversar”, a “presos num apartamento”. “E no Verão há festas, muita gente.”

Não conhecem as gravuras, mas as Portas de Ródão, a “gargantilha”, são a companhia de uma vida. Vistas de baixo para cima, sobretudo da Fonte das Virtudes, aos pés das portas, onde já funcionou uma espécie de balneário termal informal, com “banheiras artesanais e barraquinhas”. “Vinha gente de todo o lado, nós íamos lá lavar a roupa e vínhamos com ela à cabeça”, conta Maria Noémia. Fica a meia-hora a pé ou menos “se não temos amor ao carro”. Agora está “cheio de silvas”, mas a bica continua de fora - continua também a ser propriedade privada e veremos o casarão branco, agora fechado, do rio.

Não chegamos a ir à Fonte das Virtudes, porém a nossa primeira abordagem  à “maravilha” geológica é de um dos seus miradouro privilegiados - e ponto de encontro de duas das (muitas) lendas que povoam estas terras. É uma espécie de dois em um, portanto, o castelo do Rei Wamba. O castelo é mais uma torre de atalaia (oca, preenchida por estrutura de ferro sobe as entranhas até  à “janela de Ródão” – vista para as Portas, o rio, os campos do lado de lá, já Alentejo) com quase 900 anos no topo de uma da escarpas das porta - com sorte, vemos os grifos a planarem bem pertinho de nós. Recentemente, uma plataforma foi acrescentada à rocha, abrindo-se como uma espécie de varanda sobre os penhascos graníticos, severos guardiões do Tejo – e do tempo –, e austero lar para 25 casais de grifos, a maior população do país.

O mito atribui a edificação do castelo a Wamba, um dos últimos grandes reis visigóticos (século VII), contudo o mais provável é ser de construção posterior – e certa parece ser a sua reedificação, pelos templários, já no século XII. Claro que as lendas não querem saber da história e no caso deste castelo, a lenda prefere o rei Wamba e a sua mulher, que tendo-se apaixonado por um rei mouro que vivia do outro lado do penhasco acabou por ir ter com ele provocando a vingança do rei: este conseguiu resgatá-la e o castigo, decidido pelo filho mais novo, foi atar a rainha a uma mó de moinho depois lançada pela encosta até ao Tejo.

Longe de histórias sangrentas está o presente no castelo. Por estes dias, os terrenos estão cobertos de vegetação fora de controlo (consequência das chuvas intensas), contudo, nada que impeça o olhar de deambular pelo horizonte fechado em serras onde os afloramentos rochosos e rugosos sobressaem entre o arvoredo, guardando campos cultivados ou não, alinhando oliveiras em filas precisas, recebendo povoações ao fundo. Quem tem a sorte de estar sozinho neste miradouro está entre uma sinfonia feita de vento, água e o cantar de pássaros – e quando se vêem os grifos planarem parece que toda a terra se fecha em silêncio para os ver passar.

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