Fugas - Viagens

Um mapa para pedalar Lisboa

Por Mara Gonçalves (texto), Vera Moutinho (fotos e vídeo)

Pegámos nas bicicletas e, guiados pelo Lisbon Bike Map, pedalámos a baixa da capital portuguesa. Da zona ribeirinha a Alfama, da Sé ao Rossio, descobrimos que é possível (e que até pode ser fácil) conhecer Lisboa em duas rodas.

- Até está bonito, de manhã [o tempo] não estava nada assim.
– Se não fosse o frio podia ser perfeitamente um dia de Verão.

Lisboa acordou dormente numa neblina cerrada e as recomendações que nos tinham enviado para vestir “camadas de roupa quentes e confortáveis, ténis, casaco à prova de vento e de água, luvas e gorro” fizeram-nos temer o pior. Passear de bicicleta na cidade das sete colinas e em Janeiro? Chegámos ao fim agradavelmente surpreendidos, confessamos, num dia que se compôs de Inverno perfeito: céu azul, luz suave, sol acolhedor, sem chuva nem vento, e o frio aquecido no movimento dos pedais.

O Lisbon Bike Map, lançado no final do ano passado, reúne dezenas de sugestões de percursos para circular de bicicleta em Lisboa e nos arredores, numa cartografia desenhada a pensar nos amantes da “bicla”. Em papel resistente e à prova de água, algumas ruas da capital vão serpenteando a azul (fácil), laranja (via movimentada), verde (fora de estrada) e amarelo (ciclovia), com indicações relevantes para velocípedes: sentido e intensidade das subidas, existência de escadaria ou auto-estradas; assim como diversos pontos de interesse turístico. Num lado, surge Lisboa dobrada entre a parte alta e a baixa da cidade, num harmónio de fácil utilização. No verso, uma visão alargada da região, com caminhos para explorar da Ericeira a Tróia.

Não fomos tão longe (apesar de um dos percursos que recomendam para ciclistas menos experientes ou famílias até se pedalar ao longo das praias da Costa de Caparica), mas desafiámos Jorge Didier Mimoso e Tânia Caldas, da Bikeiberia, empresa responsável pelo Lisbon Bike Map, a guiar-nos de mapa na mão pelas ruas do centro da cidade.

Subir para aquecer

O percurso inicia-se frente ao Terreiro do Paço, no “paredão” ribeirinho que, plano e sem carros, se revela ideal para o tiro de partida de um passeio que se fará tanto de (re)descoberta da cidade como de (re)equilíbrio em duas rodas. A manhã vai a meio e a névoa já segue lá ao fundo, ficando-se somente para envolver de mistério e beleza a Ponte 25 de Abril. É o cenário-postal de um Inverno alfacinha a abençoar o início do trajecto e a provar que Tânia e Jorge tinham razão: o dia até se punha bonito, o ar de Verão apenas interrompido pelo frio.

Viramos, no entanto, costas à ponte e pedalamos pela Avenida Infante D. Henrique. Curiosamente, o troço que percorremos junto ao rio — apesar de pintado a azul no mapa, com trechos de laranja — é a excepção à ciclovia de 20 quilómetros que corre paralela ao Tejo, de Belém ao Parque das Nações (óptima para famílias e iniciados, sugerem). No entanto, tínhamos pedido um percurso o mais diversificado possível e, no Jardim do Tabaco, o projecto de arte urbana de Vihls e Pixel Pancho — o homem-máquina que devolve, com um sopro escavado, um velho barco ao Tejo — marca as nossas despedidas do rio e o início das subidas.

O passeio faz-se para Alfama, um dos bairros mais turísticos e carismáticos da capital, “muito agradável para andar de bicicleta, sobretudo porque não tem [muitos] carros”. Bom, também, “para nos aquecermos” e provar que é possível chegar a zonas mais elevadas da cidade de bicicleta. “Parte do atractivo de Lisboa são estas elevações que ela tem, é isto que lhe dá algum charme, carácter e personalidade e que, de facto, as pessoas apreciam quando cá chegam”, defende Jorge Didier Mimoso. Estas famosas colinas, que sempre lhe deram a imagem de uma cidade pouco amiga dos veículos de duas rodas, são, contudo, “tão acessíveis de bicicleta como com outro meio de transporte qualquer”, garante.

Há que encontrar, contudo, “o melhor caminho para lá chegar”, muitas vezes contornando as subidas íngremes com percursos mais compridos, e ter alguma preparação física, força e hábito no pedal. Tudo aquilo que não temos, confessamos, e por isso à mínima elevação saltámos da bicicleta e levámo-la pela mão, por subidas curtas e com inclinação aceitável, que não chegaram para questionarmos onde nos tínhamos ido meter.

Rapidamente atravessamos o bairro histórico, por entre vielas e ruas estreitas, unindo dois dos locais sugeridos no mapa para visitas turísticas: o Museu do Fado, lá em baixo, e a Sé Catedral de Lisboa, a meia colina. No total, são 45 sugestões de atracções turísticas dignas de paragem e visita na cidade e arredores, desde o Castelo de São Jorge ao Oceanário, da Basílica da Estrela ao Miradouro de São Pedro de Alcântara, do Palácio da Pena ao Cabo de Espichel.

Apesar de incluir percursos e informação útil para quem utiliza a bicicleta como meio de transporte no dia-a-dia (nomeadamente a localização dos principais pólos universitários e hospitais), o mapa foi criado sobretudo “como uma forma de descobrir a cidade”, pensado “tanto para visitantes nacionais como estrangeiros” (embora a versão impressa seja maioritariamente em inglês).

Além das principais atracções turísticas da cidade, em destaque, estão ainda coloridos no mapa diversos pontos de interesse, como museus, jardins, monumentos ou postos de turismo, entre outros. Assim como a localização dos vários transportes públicos onde é possível transportar a bicicleta (com informação detalhada numa caixa lateral).

Recomendar, explorar

A ideia de criar o Lisbon Bike Map surgiu numa viagem de Jorge aos Estados Unidos, onde “os mapas para ciclistas são relativamente comuns”. “Gostei imenso do de São Francisco e pensei logo na utilidade que teria para os utilizadores de bicicleta em Lisboa”, conta. O arranque definitivo foi dado no ano passado, como forma de celebrar o 15.º aniversário da Bikeiberia, empresa especializada em serviços na área do cicloturismo em Portugal e Espanha (passeios guiados e aluguer de bicicletas e de material), fundada por Jorge em 1999.

“Cada linha pintada no mapa foi pedalada por nós”, garante. “A informação que damos tem por base não só a experiência da equipa como a nossa avaliação das condições para utilizar a bicicleta nos diferentes percursos”, tendo em conta factores como o declive, a qualidade do piso, a existência de carris de eléctrico, o volume e a velocidade do trânsito. Mas não é exaustivo, antes um conjunto de ruas seleccionadas entre uma teia urbana de possibilidades. “As vias que recomendamos são apenas sugestões, mas há muitas mais”, sublinha Jorge, defendendo que “os visitantes só têm de ter, de facto, espírito de aventura e explorar a cidade”.

O percurso por onde nos guiam faz-se, por isso, ora de estradas marcadas no mapa a traço colorido ora por ruas deixadas em branco neutro. Da Sé, descemos em ziguezague empedrado até à Rua dos Bacalhoeiros — onde a Fundação Saramago é outra das sugestões de visita — e só na Rua da Prata reencontramos a linha azul de trajecto recomendado, que nos leva pelas praças da Figueira e do Martim Moniz, com paragem para almoço e recarregar baterias. O renovado espaço na Mouraria é “central e de fácil acesso para quem anda de bicicleta nesta zona da cidade”, “óptima para ir no Inverno e com crianças”, recomendam.

Tivéssemos tempo (e pernas) e o objectivo seria subir ao Jardim do Torel, para provar que é possível chegar facilmente (q.b., diríamos, sem grande confiança na subida da Rua São Lázaro) a um qualquer miradouro da cidade. Em vez disso, a volta fez-se mais curta, até à larga Praça D. Pedro IV (Rossio), para depois descer pela Rua dos Sapateiros até ao Terreiro do Paço, num regresso à loja que a empresa tem junto à frente ribeirinha.

Feitas as contas, em pouco tempo percorremos algumas das principais actracções turísticas do centro da cidade (diz o mapa que, em média, numa hora conseguimos andar 6km, pedalar 16km), entre subidas, descidas, avenidas e vielas em ziguezague, sem problemas com trânsito, quedas, dores musculares, grande cansaço ou frio (chegámos a dispensar as luvas e o cachecol). Afinal, é possível passear por Lisboa de bicicleta. Até mesmo no Inverno.

Informações

Lisbon Bike Map
Lançado no final de Novembro de 2014, o Lisbon Bike Map integra uma rede de percursos em Lisboa e arredores, seleccionados pela sua adequação à utilização da bicicleta, seja por iniciados, turistas ou utilizadores mais experientes. Os trajectos, por estrada, ciclovia e caminhos de terra, integram ainda informação relevante para os ciclistas, como o sentido das vias, intensidade de subidas, existência de auto-estradas, escadas ou transportes públicos onde é possível transportar as bicicletas. O documento inclui também pontos de interesse e dicas de utilização e segurança.

Existe em duas versões: impressa (exclusivamente em inglês e paga) e online (bilingue e gratuita, onde a página portuguesa tem mais informações, nomeadamente o Código da Estrada actualizado, mas as imagens do mapa são meramente ilustrativas, de dimensões que dificultam a sua consulta).

wwww.lisbonbikemap.com
Email: info@lisbonbikemap.com
Preço: 7€ (versão impressa)
Pontos de Venda: Rede de Postos de Informação do Turismo de Lisboa e LisbonHub, loja da Bikeiberia no Largo do Corpo Santo, 5

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