Fugas - Viagens

  • Grutas da Ponta da Piedade
    Grutas da Ponta da Piedade
  • Há mais de 30
anos que José
Jorge conduz
turistas pelos
encantos da
Costa d’Oiro,
    Há mais de 30 anos que José Jorge conduz turistas pelos encantos da Costa d’Oiro,
  • Grutas da Ponta da Piedade
    Grutas da Ponta da Piedade
  • Rocha da direita - Grávida, rainha Vitória ou De Gaulle
    Rocha da direita - Grávida, rainha Vitória ou De Gaulle
  • Gorila de perfil na rocha da direita com cabeça virada para a esquerda
    Gorila de perfil na rocha da direita com cabeça virada para a esquerda

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Pelas grutas de Lagos, no mar transparente das histórias

“É bom a praia ficar maior, traz mais turismo e a cidade precisa. Mas foi a melhor do mundo e deixa de ser, porque as rochas dentro de água, que era o que as pessoas gostavam, vão deixar de existir.”

Casa de tamanhos encantos

“Agora vamos entrar na gruta do Amor”, indica à entrada da primeira cavidade, as ondas balançam um início de Sueste mas não chegam para intimidar as mãos experientes ao motor. “Demos-lhe este nome porque no Verão vêm muitos nudistas para aqui, entram por aquele buraco ali ao fundo que dá para a praia dos Pinheiros”, conta o barqueiro.

“Olá Afonso, bom dia”, acena pouco depois a um estrangeiro que mergulha despido na enseada. “Este casal já está aqui há uma semana. Fazem-me sempre adeus, que eu meto-me com os turistas.” Existem dezenas de barcos e empresas de caiaques a oferecer este tipo de passeios. Nas alturas de maior afluência chegam a existir verdadeiros engarrafamentos, especialmente à entrada das pequenas grutas. Entre a multidão, José Jorge dificilmente passa despercebido: boné vermelho com “España” a amarelo (“Ofereceram-me uns turistas espanhóis”) e um sapo de peluche que prendeu em cima; um “chamamento” que se tornou imagem de marca — primeiro sopra um enorme búzio, depois comprime o lábio inferior com a mão para produzir um assobio forte, semelhante ao soar de um apito.

“Quando eu comecei a trabalhar nisto havia um senhor que tocava o búzio e ensinou-me. Depois, como eu era novo e sabia falar várias línguas, ele quis deixar de tocar para eu ser o único”, conta. Nos últimos anos surgiram outros a fazer o mesmo, começou a rematar com os estranhos assobios. “Estes ninguém consegue imitar”, garante.

Cruzamos alguns arcos rochosos, passamos ao largo de enseadas de areia branca e um mar sempre translúcido. Pouco depois chegamos à Ponta da Piedade, cada reentrância com o nome de uma assoalhada, como se de uma casa se tratasse. Entramos primeiro na “cozinha”, separada do oceano por um penedo em forma de “papá elefante” (o bebé já o víramos atrás). Depois a “garagem” — uma pequena gruta repleta de fósseis no tecto — e a “sala”, onde vários barcos esperam clientes na sombra de chapéus-de-sol.

Este é um dos locais onde estacionam as embarcações tradicionais, cada semana atribuída a um dos quatro grupos de pescadores. “No meu grupo trabalhamos em conjunto, ganhamos o mesmo ao fim do dia, divide-se tudo”, conta. Na altura em que a Fugas esteve em Lagos, faziam “três ou quatro passeios por dia”; nos meses de Julho e Agosto um pouco mais. “Estamos a trabalhar mal por causa da concorrência”, lamenta. “Na marina já há muitos barcos que levam 12 pessoas”, os tradicionais têm capacidade para quatro. Mas José Jorge nunca quis trocar por um maior. “Em certas alturas da maré não conseguem entrar nas grutas, não ia representá-las bem.”

As mais belas, como quase sempre, coroam o final do passeio. Na “catedral”, a água de vidro deixa ver pequenos ouriços-do-mar mergulhados entre as rochas. À saída, o sol entra por uma minúscula fresta e reflecte no fundo de areia, produzindo um azul-turquesa cristalino que impressiona — o que é dizer muito num pedaço de costa já famoso pelos tons transparentes do mar. “Toda a gente fica emocionada.” A seguir, percorremos o “corredor” para entrar na “gruta das Belas Artes”, assim nomeada “por causa da beleza das cores”. Algas marinhas pintam o chão, nas paredes os tradicionais dourados, laranjas, negros, verdes e acastanhados rivalizam com sedimentos roxos, que brilham com mais intensidade quando molhadas.

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