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Piscina das Marés: Siza ao fresco

Por Patrícia Carvalho

Fica em Leça da Palmeira e tem o atractivo de se estar a mergulhar em piscina com a assinatura de um prémio Pritzker. Mas em causa pode estar também um acto de coragem. É o Norte, carago!, e a água do mar pode estar bem gelada.

Pode acontecer-lhe, por isso fique já com o aviso. Pode estar no Porto ou na Maia, sob um sol resplandecente e que a obriga a andar sem casaco quando ainda nem são 10h, pensar que está um belo dia para ir dar uns mergulhos à Piscina das Marés, em Leça da Palmeira, e descobrir que, por aqueles lados, o tempo é uma coisa completamente à parte. Pode ser que assim que entra no concelho de Matosinhos o sol desapareça sob um manto bem espesso de nevoeiro e que quando chegar às piscinas que são Monumento Nacional já só queira ficar enroscado sem tirar a roupa, porque está frio, carago.

Mas isso é se for mesmo muito, muito friorento. Porque depois de estar na Piscina das Marés há que ter coragem e enfrentar qualquer nevoeiro para dar, pelo menos, um mergulho naquele rectângulo límpido de água salgada, embalado pelo som do mar a bater nas rochas à sua volta. “A que horas é que o nevoeiro costuma levantar por aqui?”, pergunta-se na recepção. Do outro lado do balcão vem uma resposta bem-humorada: “À tarde, mas nessa altura levanta-se o vento. É o Norte.”

É o Norte ou é Leça da Palmeira, não sabemos bem. Só sabemos que, ao passarmos pelos acessos rectilíneos saídos das mãos do arquitecto Álvaro Siza, já ouvimos gargalhadas de crianças, que nevoeiro algum consegue abafar. A areia está ocupada por pessoas com pouca vontade de ficar em calções ou biquíni, mas na piscina maior (há outra apenas para crianças), os miúdos de uma escola viraram as costas ao frio e deliciam-se naquela água salgada que é bem mais quente do que a do mar ali ao lado e se oferece lisinha, sem perigo de ondas ou marés fortes.

Sob o olhar atento de um adulto, tomam como sua a parte mais baixa da piscina, onde a água lhes chega aos ombros, mas que não vai muito além da cintura de um adulto. Riem-se, saltam, mergulham e, depois, fazem tudo isto outra vez. Pouco depois das 10h30, contudo, são intimados a sair da água. É hora de irem lanchar e secar. Já não voltam.

É nessa altura que outras pessoas aproveitam para se abeirar da piscina. Gente que aguentou, estóica, a neblina a cair-lhe nos corpos, desfazendo-se em minúsculas gotículas de água. Vai o casal de namorados. Ele mergulha, decidido, ela estica-se, deixando o máximo do corpo fora de água, avisando que não aguenta, que está muito frio, que ele não se atreva a tocar-lhe, quanto mais a molhá-la. E desiste ou finge que desiste. Sai da piscina, vai ganhar coragem na areia e volta dali a pouco, para mergulhar, finalmente, e se deixar ficar, largos minutos.

Chegam duas adolescentes, muito morenas e a fingirem-se sem coragem para entrar. Abeiram-se das escadas e ficam ali, até que um rapaz que as acompanha, de ombros esfolados, as desafia, de dentro de água, no seu melhor sotaque tripeiro: “Fogo, a água dá-me pela cintura, estão à espera de quê?”. Elas não querem ser fáceis, soltam uma gargalhada, deixam-se ficar e são ultrapassadas por um bando de miúdas que surge do lado da piscina infantil.

A maior parte entra devagar na água, descendo a escada de acesso, mas uma, de caracóis compridos, atira para uma das amigas: “Ó Catarina, a água está boa?”. E, mal esperando pela resposta, salta, chapinando todos em redor.

Perante a diversão das miúdas, as adolescentes lá acabam por entrar na água e não tarda até ao primeiro mergulho. Chegam depois dois casais de cabelos brancos, eles de barriga proeminente, elas de passo lento, uma delas escondendo os cabelos sobre uma touca protectora. Vão para a parte mais próxima da parede de rochas, que separa a piscina do mar, e começam a nadar, até ao lado mais fundo, onde não há quase ninguém.

O nevoeiro não desapareceu durante toda a manhã, mas a maior parte dos que escolheram o dia para um mergulho na Piscina das Marés tentam não lhe dar grande importância. Os que circulam com uma pulseira negra, indicando que compraram o bilhete de apenas meio-dia, sabem que é agora ou nunca. Só ficam por ali até às 14h, por isso o melhor mesmo é aproveitar. Os de pulseira azul-clara, que podem ficar o dia todo, até às 19h, estão na expectativa da tarde. De preferência com sol e sem vento, mas não é por isso que vão deixar passar a manhã em claro.

Afinal, não é todos os dias que se mergulha numa piscina de água salgada, desenhada por um Pritzker e que é, desde 2011, Monumento Nacional. Inaugurada em 1966, depois de a construção ter sido iniciada em 1960, a piscina aninha-se entre as rochas naturais da costa, oferecendo tudo o que a praia tem de apelativo (a água salgada, o areal, o ruído do mar) sem os inconvenientes (para alguns) do mar nortenho (gelado e com forte ondulação). Tudo isto contribuiu para que Rosalina Sousa, 49 anos, e Sandra Sousa, 35 anos, pegassem nas crianças e as levassem até ali.

Chegaram de Gondomar e não há quem as arraste para fora de água. “É a primeira vez que cá estou, porque das outras vezes que tentei estava sempre com lotação esgotada”, diz Rosalina. Assim que os miúdos da escola saíram da água, o grupo dirigiu-se para a piscina. Rita, de oito anos, à cautela, até perceber como era a profundidade e até onde podia ir sem perder o pé. Mas, alguns minutos depois, já corria, satisfeita por todo o lado, e incitava Rosalina a outras aventuras: “Ó Lina, Lina, salta! Medricas”, brincava, enquanto a mulher entrava lentamente na água. “A piscina é boa, a água é salgada. Além disso é fixe, porque tem mais espaço que as outras”, sentenciava quando, ao final da manhã, se deixou guiar, finalmente, por alguns minutos até à toalha. Tem pulseira azul, vai ficar o dia todo, pode esperar pelo sol.

No grande tanque de água clara, continua o corrupio do entra-e-sai. Entra mais um casal de namorados, abeira-se um miúdo louro que fala castelhano, mas está com pouca vontade de se deixar molhar, meio encolhido com a falta de sol. Vem mais uma mãe de roupa enfiada, a acompanhar uma menina de biquíni, que salta entusiasmada para a água. E surgem mais três mulheres, a acompanhar um menino muito pequeno, apetrechado com braçadeiras azuis, unidas no peito por uma espécie de almofada, onde está desenhada uma tartaruga sorridente. Ele saltita e ri-se, em antecipação. Está quase a entrar na água e o rosto está pintado de felicidade.

Uma das mulheres (a mãe?), num biquíni cor-de-rosa, entra na água fazendo caretas à temperatura e estende-lhe os braços. Ele acede, mas cola-se a ela como uma lapa. Nada de ficar sozinho. Regressa à beira da piscina e, pouco depois, nova tentativa de o enfiar na água, novo rosto sorridente e expectante, novo agarrar apertado ao pescoço de quem o segura. À hora do almoço, ainda tentavam convencê-lo a saltar para a água, mas ele não estava pelos ajustes. Mas havia tempo. O grupo tinha pulseira azul e talvez o sol da tarde o animasse a deixar-se ir.

Informações

A Piscina das Marés abriu a 15 de Junho e assim permanecerá, pelo menos, até 15 de Setembro, mas a data de encerramento depende sempre da meteorologia e da afluência. Durante a semana, um bilhete de meio-dia custa 2,50 euros (crianças até 12 anos) ou 4 euros (adultos), enquanto a permanência por todo o dia ficará, respectivamente, por 3,50 e 6 euros. Aos fins-de-semana e feriados, os preços sobem para 3 (criança) e 5 euros (adulto), por meio dia, e para 4 (criança) e 8 (adulto) euros pelo dia inteiro. Os bilhetes de meio dia podem ser usados de manhã, entre as 9h e as 14h, ou de tarde, das 14h às 19h. Há pacotes de dez entradas, com desconto. As crianças até aos três anos não pagam.

A piscina está aberta entre as 9h e as 19h e além de casas-de-banho, balneários e vestiários (todos com pouca iluminação), tem um bar, onde se servem cafés e bebidas frescas, mas também pizzas, saladas ou sanduíches.

Piscina das Marés
Avenida da Liberdade, Leça da Palmeira
Tlf: 229952610

www.matosinhosport.com

Actualizado com dados e tarifas de 2016

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