Fugas - Viagens

  • Nelson Paiva
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Uma casa, três corações, pelo mundo: Menina Mundo

Neste papel de pequena naturalista, muitas vezes parava e nós atrás, parava por uma pedra no chão ou por um pau, que viria a servir de lápis que desenha sobre a folha que a terra sabe ser. Numa das vezes tínhamos os templos de Angkor Wat à distância de uns passos, imaginava-me passar a primeira formação em pedra enquanto ia desenhando, a pedido, um coração, uma árvore, uma casa. E consigo ver a preciosidade nos dois lados, nos templos seculares e no tempo que lhe damos, que nos damos.

E, a cada novo lugar, os episódios de desenrasque, a excitação a cada viagem, o comer com pauzinhos, as palavras em várias línguas, as caminhadas na selva, a adaptação à mudança, a habituação a novos sons, cheiros, sabores e, de todas as coisas, há esta, a sua definição de casa:

O que é uma casa, Mia?

A Mia, o papá e a mamã.

Aos dois anos, a meio desta longa viagem, ela sabe que o que faz de nós família não é vivermos sob o mesmo tecto e as mesmas paredes todos os dias, é o que nos mora dentro do peito. Estarmos juntos é sermos casa, lar, família, independentemente do lugar no mundo. E isto relembra-nos que tudo o que é vivido, desde tenra idade, contribui para a forma como vemos o mundo, como o compreendemos, como o apreendemos. E é assim que queremos que ela o veja, pelo coração.

Foi nesse outro lado do mundo que ela observou diferentes rituais religiosos, diferentes traços do rosto, diferentes formas de vestir, orar, comer e falar. Trocou sorrisos por sorrisos. Brincou ao berlinde com os meninos da margem do Mekong e atravessou uma ponte suspensa com a sua primeira melhor amiga, na Malásia. E aqui, neste contacto, estarão as raízes para essa ausência de filtro que ela aplica às diferenças: uma ausência que se manifesta na forma como as vê - sem as ver. É sempre mais e maior o que nos une a qualquer outro ser humano do que o que nos separa e diferencia dele. O corpo, esse que evidencia as diferenças físicas, será sempre mais do que isso: é lugar onde bate um coração.

Termino como comecei, com esse relógio que parou – que paramos para ela, para nós. Tudo o que vimos e vivemos apenas se conta fora das horas. O tempo deixou de ser contado em números (em horas, minutos, segundos), passou a ser contado em histórias, países, pessoas, tradições; em palavras novas, em sorrisos, em tangerinas descascadas pelas suas mãos pequeninas. Passou a encher-se de primeiras vezes: como a primeira vez que andámos de bicicleta juntos; a vez em que descemos o rio numa jangada de bambu no rio Yulong; aquela em que vimos uma serpente na selva do Bornéu e aquela em que ficámos presos numa ilha deserta, com uma avaria no barco.

É isto que lhe queremos deixar, memórias do que vivemos juntos (no lugar de paredes de cimento e um papel que diga que são dela). O nosso amor e este tempo – que enchemos de mundo – serão a sua melhor herança, a prova de que o amor e os sonhos cabem em vidas simples; em vidas com mochilas; em pés descalços ou em sapatilhas.

E o blogue menina mundo é o lugar onde moram essas histórias: em palavras e fotografias.

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