Fugas - Viagens

  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda
  • Adriano Miranda

Continuação: página 2 de 3

As paredes de Lara têm vidas dentro

Se o mapa de Portugal começa a ficar sarapintado, esta espécie de "antropóloga sem formação" concentra-se "no Centro, de Lisboa para cima". Quantos murais têm a mão dela (e Lara já ajudou a pintar muitas paredes)? "Já devemos estar perto de 200 — se não ultrapassámos já os 200 murais", anota de cabeça a promotora e curadora de arte urbana já convidada pelo Turismo de Portugal para ser guia de um grupo de jornalistas do Benelux numa acção que pretendia promover a arte urbana enquanto produto de coesão territorial e de promoção turística. 

Lara Seixo Rodrigues, a faz-tudo dos festivais de arte urbana que a própria inventa, diz-se "viciada" em conhecer a fundo os sítios por onde passa. "Vem da minha formação enquanto arquitecta". "Preciso saber em que território estou a trabalhar, qual o tecido social e humano, associativo, tudo o que compõe um território, das coisas mais básicas às mais complexas". Assim é com o trabalho, assim é com as viagens de lazer. "Eu e o meu namorado escolhemos a cidade e quando lá estamos descubro imenso até ao último minuto. Quando voltamos de férias estamos muito mais cansados do que quando vamos. Eu chego de férias para ter férias", confessa a covilhanense, que começou a viajar através das colecções de fotografias dos pais ("eles tinham uma loja de electrodomésticos e, na altura, as marcas premiavam as vendas das melhores lojas com viagens") até viajar em família rumo à recém-estreada EuroDisney, em Paris ("foi no nono ano, na Páscoa. Vimos um filme 3D com o Michael Jackson"). Neste momento tenta fazer duas ou três viagens por ano (acha "muito pouco") e confessa que todos os locais a marcam bastante. "Não tenho um tipo de cidade. Gosto de ser surpreendida. Gosto de chegar e de perceber."

Já levou artistas portugueses lá fora (nomeadamente ao Tour Paris 13 e ao Djerbahood, na Tunísia), mas é no vá-para-fora-cá-dentro que se sente realizada. Como o Espigar das Gentes, no Porto: "Contactaram-me e pediram 'Lara, queremos levar pessoas às traseiras da estação de São Bento através da arte. Pensa nisso'. E aí entra a minha necessidade de devolver à rua e às pessoas aquilo que elas me dão. Propusemos pintar nas portas as pessoas que lá estavam sempre. Há histórias sempre fantásticas de pessoas para contar". Como nas aventuras e desventuras do Lata 65, provavelmente o seu filho mais crescido — idoso, até —, fonte de "riachos lindíssimos", de vales sem rede de telemóvel, de terras com nomes característicos, de workshops (de filhoses, de colheres de pau, de...) com gente dentro e de "descobertas umas atrás das outras".

"Eu gosto de me perder. É uma excelente forma de conhecer cidades."

Já agora, se precisarem de uma dica de um bom restaurante, peçam à Lara. "Sou muito boa a recomendar restaurantes" — em Estarreja coma-se na Casa Matos. O mais provável é que por perto alguma parede vos conte uma história. Bom apetite.

Resposta rápida

Tens uma parede preferida?

A primeira. Dos ARM Collective. Na Covilhã, mesmo no centro, ao lado da igreja. Foi aí que eu percebi que era aquele tipo de projectos que eu gostava. A do Fintan Magee, também. Em Estarreja.

--%>