O mercado do vinho está tão difícil que exige aos produtores novas e originais acções de marketing. A duriense Quinta dos Poços, situada em Valdigem, no concelho de Lamego, está na posse da família Mesquita Guimarães há 25 anos e a data, por ser redonda, foi aproveitada para lançar um vinho comemorativo, o tinto Quinta dos Poços MG XXI. Leva a designação XXI porque é o século em curso, por ter sido lançado no passado dia 21 de Setembro e por haver 21 elementos naquela família.
Quem comprar o vinho, embrulhado numa bonita embalagem, leva também um pequeno livro com a história da propriedade, escrito por José Braga-Amaral. Apesar da espessura histórica de muitas quintas do Douro, não existe a tradição de escrever monografias sobre elas. A Quinta dos Poços foi uma das primeiras a fazê-lo.
Braga-Amaral, poeta e romancista duriense, foi investigar a origem da propriedade e descobriu haver uma história de 300 anos por trás, iniciada pela família Pacheco Pereira. Em meados do século XVIII, a quinta foi dividida em duas parcelas, a de Cima e a de Baixo, e esta última foi vendida à família Pereira Leitão de Carvalho, que a manteve na sua posse até ao último quartel do século XX. Por altura da 1ª Invasão Francesa, a Quinta dos Poços de Baixo terá sido obrigada a acolher tropas francesas lideradas pelo general Loison, que ficou conhecido como o "Maneta". Mais tarde, a propriedade terá também servido de refúgio a Paiva Couceiro, líder do falhado movimento Monarquia do Norte (1919).
Em 1986, o médico dermatologista Mesquita Guimarães e a mulher, Maria Luísa, professora, compraram a Quinta dos Poços de Baixo (12 hectares), ignorando a história da propriedade. Gostaram do sítio, isolado e com vista para o Douro e as quintas que se estendem na margem direita do rio. Não tinham caseiro, "nem cão", lembra Mesquita Guimarães, e a casa, um singelo solar rural do século XVIII com capela interior, estava em muito mau estava e sem electricidade. Em 1997, o casal adquiriu a Quinta dos Poços de Cima (oito hectares) e, cinco anos depois, comprou a vizinha Quinta da Liberata (cinco hectares). Juntas, as três propriedades formam hoje a Quinta dos Poços.
Como muitos outros produtores, Mesquita Guimarães e Maria Luísa sonhavam com uma propriedade no Douro apenas para as suas férias.
Maria Luísa tinha raízes no Douro e guardava boas recordações dos tempos de infância passados numa quinta da família em Lamego. Não percebiam nada de vinhas, mas, ao fim de alguns anos, acabaram por também entrar no negócio do vinho. Construíram uma adega nova e hoje produzem entre 40 a 60 mil garrafas devinho por ano, exportando cerca de metade para países como Angola, Bélgica, Brasil, Irlanda, Suíça e Estados Unidos.
A quinta integra o grupo Douro Family Estates (DFE), juntamente com a Quinta do Soque, Quinta das Bajancas e Brites Aguiar. Detida em partes iguais, esta sociedade tem como objectivo principal potenciar a capacidade de vinifi cação instalada nas quatro quintas e ganhar escala para o mercado de exportação.
Mas, além dos vinhos comuns comercializados sob o chapéu DFE, cada uma das quatro famílias produz os seus próprios vinhos. A enologia está a cargo da firma 2PR (António Rosas e Pedro Sequeira).
Do tinto Quinta dos Poços MG XXI foram cheias 3066 garrafas de vinho da colheita de 2009. Cada embalagem com o vinho e o livro da propriedade custa 40 euros. Não é barata, mas não também não é nenhuma exorbitância. O livro, uma espécie de pequena monografia de bolso que mistura história com poesia, é curioso e ovinho ainda mais.
Lote de uvas de Touriga Nacional, Tinta Francisca, Donzelinho Tinto, Rufete, Tinto Cão e Sousão, é um tinto moderno, no sentido em que surge já pronto para beber,com fruta muito expressiva no aroma, excelente volume e taninos sedosos. Tem 15% de álcool, mas está bem equilibrado por uma boa acidez.