O Outono esqueceu-se que tinha chegado e os turistas não se importam nada. Sentados no jardim do centro de visitantes da Taylor’s, em Vila Nova de Gaia, um grupo de holandeses e polacos saboreia os vinhos que lhes pousaram na mesa, enquanto um dos membros do casal residente de pavões passeia calmamente ao sol quente de Outubro. E o que acharam do centro inaugurado em Junho? “Não chegámos a visitar. Percebemos que podia ser demorado e não tínhamos tempo para tudo”, explica Frank Rodenburg, um dos membros do grupo.
Se Ana Margarida, relações públicas do grupo The Fladgate Partnership, que detém a Taylor’s, o ouvisse, era bem capaz de o contrariar. “A visita pode ser feita ao ritmo de cada um e demorar o tempo que se quiser, consoante aquilo que se quer saber”, não se cansa de repetir. Ou não fosse o percurso no centro de visitantes feito sem guias oficiais. Um áudio-guia capaz de se fazer entender em cinco línguas (Português, Inglês, Francês, Espanhol e Alemão) é tudo o que é preciso para esta visita às caves que é mais do que uma mera visita a caves.
Kevin Shill pode explicar melhor. Em vez do jardim, ele e o grupo de amigos que o acompanha escolheram uma mesa no centro de provas para apreciar o vinho do Porto da Taylor’s, depois de terem percorrido o centro de visitas. Deixaram Gales, de onde são originários, para visitar o Porto e Gaia, já passaram por outra cave na marginal Sul do rio Douro e têm uma terceira agendada para esta tarde. Do que viram, não têm dúvidas. “Esta é muito melhor”, argumenta Kevin. Lee Williams dá uma ajuda: “Aqui podemos ouvir o que nos apetece, descobrir o que queremos."
Ana Margarida há-de sorrir e dizer: “É isto mesmo." Quando Kevin e os amigos fizeram a visita, a meio da manhã, ainda não havia muita gente no centro, mas pela hora do almoço são cada vez mais os que chegam e se dirigem à recepção para receberem o áudio-guia e as explicações para que possam partir, sozinhos, à descoberta do mundo da Taylor’s e do que significou a renovação das caves com três séculos de existência.
Desde que abriu de cara lavada, em Junho, já passaram pelo centro de visitas da Taylor's 40 mil pessoas, o que representa um acréscimo de 15% em relação ao mesmo período do ano passado. A maior parte delas chega de forma individual e não em grupo. Antes de os visitantes cruzarem as portas de vidro, há um mapa em três dimensões do vale do Douro e da localização das três quintas da Taylor’s: a Vargella, a Terra Feita e o Junco. Pode deixar-se ficar por aí, espreitando os armários em volta com alguns objectos históricos, ou pode apressar-se e entrar na cave, com o seu cheiro característico, gritando para o seu nariz que ali se produz vinho.
É provável que não lhe chame a atenção, mas uma das maiores mudanças que a cave sofreu foi ao nível da iluminação. Todo o design e tipo de luzes introduzidas serviram para criar uma atmosfera diferente da que se encontra, muitas vezes, em caves do mesmo género, escuras e húmidas. Ali, junto à porta, mas já no interior da zona de armazenamento propriamente dita, há filas de pipas perfeitamente alinhadas e, ao fundo, um enorme balseiro com o símbolo da Taylor’s. E há também homens a rodar pipas dali para fora. “Isto não é um museu, é um local de trabalho”, explica Ana Margarida.
E isto, para quem aprecia todo o processo do vinho do Porto, é mais uma vantagem. Porque as pipas perfeitamente alinhadas são bonitas de se ver, mas é mais curioso ver exactamente o que fazem aqueles homens empoleirados, que parecem estar a esvaziar uma pipa (estão mesmo, para que esta seja lavada antes de voltar a receber o vinho).
A visita está dividida em 11 estações, grande parte das quais com explicações detalhadas no áudio-guia. Nos outros casos, há pequenos vídeos que mostram mais alguns passos do processo. O primeiro ecrã está, precisamente, na cave onde repousam as pipas, no meio delas, e projecta constantemente imagens sobre a história do vinho do Porto. Depois, ao longo do percurso, há muitas outras explicações: sobre as diferentes regiões do Douro onde estão os vinhedos que fornecem as uvas para o vinho do Porto, sobre o solo, as castas, o processo de produção do vinho ou a arte dos tanoeiros. Sobre as famílias que estiveram na origem e desenvolvimento da Taylor’s e sobre o que a empresa é hoje. Sobre os diferentes tipos de vinho do Porto e como beber um vintage.
Tudo em doses controladas por quem tem o áudio-guia na mão. Se quiser ouvir tudo, ver os filmes, apreciar o céu espectacularmente estrelado captado na Quinta da Vargellas a 21 de Julho de 2015, por Cory e Tanja Schmitz, irá ter de esperar bem mais de uma hora antes de se poder sentar e apreciar a prova incluída no preço da visita (12 euros) – o Chip Dry, o primeiro vinho do Porto seco a ser produzido, e um Late Bottled Vintage (LBV). Se não for suficiente, há uma lista de outros vinhos a copo (com preços a variar entre os cinco e os 120 euros) e uma selecção de acompanhamentos (enchidos, queijos, amêndoas ou bolachas de água e sal) que podem servir como uma bela desculpa para se deixar ficar um pouco mais na casa da Taylor’s, com a sua vista imperdível sobre o rio e o Porto.
Melhor ainda é completar a visita com uma refeição no restaurante Barão Fladgate. E para que os visitantes não tivessem a desculpa de o centro de visitas fechar demasiado cedo (18h) para ser seguido de um jantar, a empresa já adaptou os horários: agora o espaço está aberto todos os dias entre as 10h e as 19h30.
E para que não se esqueça mesmo da experiência que acabou de viver – sobretudo do gigantesco balseiro que consumiu 3,5 toneladas de madeira de carvalho para ser construído – tem, na cave, a possibilidade de deixar que lhe tirem uma fotografia. É mesmo junto ao balseiro. Introduza os dados pedidos e sorria, olhando para as luzes à sua frente. Da próxima vez que aceder ao seu e-mail (uma das informações solicitadas) vai ter a fotografia à sua espera. E se se sentir minúsculo e até um pouco desfocado, não se importe. O balseiro, com o símbolo da Taylor’s, está impecável e ele é que é a verdadeira estrela da imagem.