Se as memórias de um fim-de-semana pudessem ser traduzidas em formas e cores, as minhas dos dias que passei no Memmo Baleeira seriam circulares - isso mesmo, redondas e brancas. Com azul, algum castanho e todo o oceano Atlântico lá fora na varanda à minha espera. O prédio (o antigo hotel da Baleeira), construído na década de 1960, ganhou cara nova em 2007 pelas mãos do arquitecto Samuel Torres de Carvalho, que escolheu o branco, a cor da arquitectura tradicional do Algarve, para dar um ar minimalista e cosmopolita ao novo hotel.
É fácil perdermo-nos nos corredores imaculadamente brancos à procura do quarto. São mais de 100 quartos, além das suites ou das suites duplex que abrigam famílias inteiras. Uma das surpresas é justamente encontrar num único hotel um espaço onde circulam em certa harmonia quem vem sozinho para descansar, casais enamorados a beijarem-se e famílias com miúdos em férias. É igualmente fácil perdermo-nos à varanda a viajar no tempo até a época do Infante D. Henrique, da Escola de Sagres e dos navegadores a aventurarem-se entre as falésias antes de partirem em busca de novos mundos.
"Sagres está na moda" - anuncia no presente, com ar descontraído, o director do Memmo Baleeira, Tiago Pereira - "porque é uma alternativa para quem já está cansado do ''outro Algarve''". Aqui há praia e sol, "mas também há história, e um turismo de aventura com maior contacto com a natureza", resume. Para facilitar a vida dos hóspedes, o hotel criou Living Sagres by Memmo, um roteiro que pretende reunir "o melhor que a região tem para lhe oferecer" com as melhores praias, spots de surf, de pesca, mergulho, passeios de barco ou a cavalo, lojas, restaurantes e bares. Mas aqui entre nós, living (viver) Sagres pode significar não precisar leaving (sair) do hotel. A começar por um pequeno-almoço quase cinco estrelas para um hotel de quatro estrelas.
A piscina, com vista esplêndida do mar, é um convite à preguiça. Uma caipirinha no fim da tarde sentada (cadeira e mesas brancas, claro!) numa das esplanadas a observar a revoada de gaivotas dispensa qualquer actividade de birdwatching mais profissional. É só fechar os olhos e tentar imaginar os céus de Sagres no Outono, quando a península e o Cabo de São Vicente tornam-se passagem migratória de aves como a águia-calçada, o falcão-peregrino, a cegonha-preta... Mas por agora a aventura máxima é uma ida ao spa. Recomenda-se um tratamento de body touch. São 45 minutos (70 euros) de Secret Garden descrito como "um ritual de bem-estar aromático para o corpo e para o rosto". As mãos da brasileira Daniela Carpane, que trocou o sul do seu país pelo sul de Portugal, dispensam qualquer descrição. Sai-se de lá ainda sonâmbula, relaxada para o resto da estadia. Depois do Secret Garden não apetece nem ir à sauna, banho turco ou à piscina indoor sob pena de perder-se toda a sensação de bem-estar.
A noite ainda mal começou. Mesmo que a massagem lhe tenha feito dormir (inevitável) depois de observar o sol ir-se da varanda, há que ir jantar. O restaurante do Memmo Baleeira oferece um menu especial de 15 euros por pessoa (sugestão do chefe, Dário Santos, discípulo de Henrique Sá Pessoa) que inclui prato principal e um copo de vinho. Um jantar para uma pessoa à la carte com entrada (por exemplo um carpaccio de atum), prato principal (risotto de gambas com ervilha e carril) e um copo de vinho branco (Planalto) fica o dobro do preço. Acho que tenho sorte.
Experimentei Sagres e o Memmo Baleeira no último sábado do Inverno e no primeiro domingo da Primavera. O tal vento de que todos me alertaram e que me faria gelar não apareceu. Também não deu tempo de descobrir todas as praias, saborear todas as novidades gastronómicas nem descansar todo o tempo do mundo. Mas se Sagres fosse mesmo o fim do mundo, como acreditavam os romanos, não me importava de acabar por cá. Que venha o Verão!
O que fazer
O Memmo Baleeira é o único da vila de Sagres que tem uma escola de surf comandada pelo português João Mialha e windsurf pelo belga Daniel Salvaterra. As aulas de windsurf são mesmo na praia do Martinhal, literalmente a três minutos a pé do quarto. Há ainda um centro de surf do hotel na praia de Cordoama que, junto com a de Castelejo, tornaram-se rapidamente as minhas predilectas pelo ar paradisíaco (e onde o som de telemóveis não existe). Passeios obrigatórios são ao Cabo de São Vicente (não importa se já tenha ido, a vista é sempre de tirar a respiração) e a Fortaleza de Sagres e a sua avassaladora posição geográfica.
Onde comer
Seguimos uma das sugestões do Living Sagres by Memmo e jantámos no Mar à Vista, na praia da Mareta, a 10 minutos a pé do hotel. Começámos com a oferta da casa aos hóspedes do Memmo Baleeira, ostras frescas ou batidas na chapa. Depois um esparguete com gambas que, dizem, só perde para o com amêijoas. Mas o forte mesmo são os peixes. Amêijoas à Bulhão Pato, ostras da ilha, camarão à Mar à Vista, percebes da costa de Sagres. O jantar com vinho sai em média 20 euros por pessoa sem sobremesa. Quem ainda quiser tomar um copo, os bares da avenida que vai dar ao hotel são a opção: Namasté, Pau de Pita, Água Salgada...um ao lado do outro.
- Nome
- Memmo Baleeira
- Local
- Vila do Bispo, Sagres, Sítio da Baleeira
- Telefone
- 282624212
- Website
- http://www.memmohotels.com