Fugas - hotéis

  • Enric Vives-Rubio
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Pestana CR7: Um hotel com 'fair play'

Por Victor Ferreira ,

A primeira unidade que une o maior grupo hoteleiro português e o maior futebolista luso da actualidade abriu no Funchal. Por todo o lado, o Pestana CR7 vive e revive o mito Cristiano Ronaldo.

A primeira coisa que é preciso ter quando se dorme num hotel que ainda nem abriu é uma certa dose de fair play. Mesmo que a marca dê garantias, é natural que um ou outro aspecto da equipa, das instalações ou do serviço ainda necessitem de afinação. No fundo é como acompanhar a preparação de uma equipa de futebol em pré-época. É preciso dar algum desconto.

Não é por acaso que a comparação é esta, uma vez que o hotel de que se fala é o Pestana CR7, que abriu no início de Julho, no Funchal, Madeira. O nome não deixa muita margem para dúvidas: o grupo Pestana, liderado pelo madeirense Dionísio Pestana, e o “capitão” da selecção portuguesa de futebol, Cristiano Ronaldo, que costuma jogar com o número sete às costas, uniram vontades e juntaram dinheiro e decidiram investir em quatro unidades hoteleiras, para um segmento de clientes que é um desafio para o primeiro e o ambiente do costume do segundo.

Um hóspede habitual de uma unidade deste grupo percebe logo à entrada que o Pestana CR7 é diferente de outros hotéis desta marca, que já geria três submarcas diferentes (Pestana Hotels & Resorts, Pestana Collection e Pestana Pousadas de Portugal). Esqueçam o lobby ou átrio de entrada, o grande balcão da recepção, as placas a indicar como se vai para os quartos, para o restaurante ou bar. Aqui é-se recebido num imenso lounge que tem uma recepção minúscula do lado esquerdo, o balcão do bar e a cozinha do restaurante do lado direito, umas escadas cor de laranja que dão acesso ao primeiro e único piso com quartos e à esplanada. “Fizemos exactamente o contrário do que é habitual”, diz-nos o presidente do grupo, Dionísio Pestana. “Abandonámos a ideia do lobby, isto é um ponto de encontro”, prossegue, acrescentando que estando apostado em atrair a geração Y, ou os chamado millenials, o que se pretendeu fazer aqui foi criar “um ponto de encontro”, um espaço onde se transmita “energia às pessoas através do serviço prestado”.

Não é, aliás, por acaso, que o balcão de recepção — concebido pelo atelier Cristina Matos e que guarda uma peça escultórica em forma de troféu, da autoria de Vasco Futscher — tem espaço para apenas um funcionário: como o check in é expedito, não precisa de mais; e quem gere o hotel promete simplificar ainda mais, em breve, o processo de registo, com o lançamento de uma aplicação para smartphones que permitirá fazer o registo online, bem como desmaterializar a própria forma de acesso aos quartos, controlando por telemóvel a abertura da porta, por exemplo. 

Aliás, se há algo que demonstra que há uma nova marca Pestana a pensar numa nova geração de clientes é precisamente o omnipresente convite que a casa faz aos hóspedes para que se mantenham online, através do wifi gratuito em todos os espaços, e a possibilidade de cada um conectar os aparelhos ao sistema de TV e Audio disponíveis em todos os quartos. “Queremos refrescar a nossa marca, estamos a abrir portas e esta associação com o Cristiano Ronaldo vai funcionar como porta de acesso de um novo segmento ao nosso universo”, declara Dionísio.

Espelhos e desenhos

Ir a jogo com esta ideia inspira, porém, questões mais estratégicas, que ou são aceites com fair play ou, melhor ainda, são debatidas. Que risco há em abrir uma unidade que apela aos jovens quando o turismo da Madeira é feito sobretudo de visitantes adultos e famílias? Responde José Roquette, administrador com o pelouro do desenvolvimento estratégico: “A Madeira tem de se reinventar. Não tenhamos ilusões, o fluxo turístico vai mudar e não vai ser sempre o mesmo mercado que serviu a Madeira nos últimos 30 anos que vai servir a Madeira nos próximos 30.” Nesse sentido, o grupo “está um passo à frente”, conclui, numa pequena conversa junto à piscina vermelha da qual se avista todo o porto de cruzeiros e, olhando para a esquerda, a baía do Funchal, desde a ponta do Garajau (que já pertence ao concelho de Santa Cruz), São Gonçalo (e o seu miradouro do Pináculo) e Boa Nova, bem como a capital da ilha.

Chegado ao quarto, um dos 23 CR7 Superior, que tem vista para o porto e 24 metros quadrados de área e uma varanda, há a sensação de que talvez não se tenha dado apenas um passo em frente. Há CR7 por todo o lado, o armário parece um cacifo de balneário, a roupa de cama tem bananas amarelas em cima de um fundo verde. O tal passo foi longe de mais e coloca o hóspede em fora de jogo? Cristina Matos, 53 anos, com atelier em Lisboa e responsável pela decoração desta unidade, considera que não. “Este foi um projecto dificílimo, porque está associado a uma figura mundial. As pessoas estarão à espera de ver bolas, relva, balizas. Quisemos dar um cheirinho de tudo isso, mas sem sermos demasiado evidentes”, responde a decoradora.

E a presença abundante de espelhos no quarto, que praticamente elimina a existência de ângulos mortos, é uma alusão ao cuidado que CR7 tem com a sua imagem, segundo dizem os jornais populares? Não, garante a mesma responsável. “Por um lado, os espelhos conduzem a uma percepção de que o espaço é mais aberto. Por outro, toda esta geração a que nos dirigimos gosta de se rever. Ao contrário da minha geração, que tinha um espelho dentro do armário, o público-alvo desta marca está habituada a espelhos.”

Na cabeceira da cama, há 11 desenhos da autoria de Mário Linhares, professor de desenho e co-fundador, ao lado de Eduardo Salavisa, da comunidade portuguesa Urban Sketchers. Cada desenho representa uma etapa da vida de Cristiano Ronaldo. É impossível escapar ao craque do Real Madrid. Bem… Mentira. Quando chega a hora de ir dormir, surge a oportunidade de ligar a SmarTV de 49 polegadas que foi afixada à parede, a meia altura, na parede oposta à dos desenhos. E entre os 71 canais disponíveis naquele momento, sobressaiu um: o canal do FC Barcelona. Estando numa casa que transpira CR7 por todo o lado, era inevitável perguntar. Será que funciona ou está barrado? Quase apetece deixar a pergunta no ar. Mas como a resposta é a prova de que ao hotel não falta fair play, aqui vai: naquela noite funcionava. E naquele momento passava uma reportagem dos golos de Messi, o grande adversário de CR7, agora também na pele de empresário do turismo. Inimigos, inimigos, mas negócios à parte…

Na manhã seguinte, e porque a chegada ao hotel na noite anterior foi tardia, há tempo para descobrir o que há para lá do quarto e o que propõe a ementa do chef Pedro Relvas (que antes esteve no Pestana Carlton, também na Madeira) para as diferentes refeições do dia. Os 49 quartos, todos no mesmo piso e nos quais se inclui uma suíte com cama redonda e 40 metros quadrados de área, estão ligados por um longo corredor de 100 metros, coberto por uma alcatifa verde que imita relva. Ali perto há um WC todo ele coberto de relva sintética, menos no chão. Kitsch? Talvez, e não menos do que a grande fotografia de cara de CR7 com óculos de aviador que está por cima do lavatório da casa de banho que dá apoio ao lounge de entrada, em que as lentes foram substituídas por espelhos. No acesso a esse corredor há uns binóculos e uma pergunta: onde está CR7? Desta vez, pede-se fair play ao leitor, porque a resposta fica por revelar.

Descendo ao piso térreo, volta-se ao lounge. Há uma carta de pequeno-almoço que dispensa produtos habituais, como o bacon e as salsichas, substituindo-os por opções mais alinhadas com uma clientela jovem que quer cuidar do corpo e da saúde, como pastelaria e pão integral, uma variedade de cereais, frutos secos e sementes, iogurtes naturais, queques sem glúten, produtos sem lactose. Mas quem prefere algo mais clássico também conta com os ovos mexidos — substituídos a nosso pedido por quatro claras e uma gema. A destoar desta carta para gente em forma, uma selecção de sumos embalados postos à disposição em canecas. Mesmo que sejam vendidos como sendo naturais, não equivalem a sumos frescos, sem açúcar nem processamento. Um aspecto que pode vir a ser tido em conta no futuro, se essa for a vontade dos clientes e dos responsáveis desta unidade, que terá “irmãos” em Lisboa (ainda este ano, na Rua da Prata), em Madrid (na Gran Vía, com abertura provável em 2017) e Nova Iorque (no cruzamento da Rua 39 com a Oitava Avenida, entre 2018/19).

Para almoço e jantar, Pedro Relvas propõe uma ementa assente em poucos produtos tradicionais — o bolo do caco é uma das raras excepções, aqui numa versão mais “leve” devido ao facto de fermentar e ser cozido durante mais tempo, explica o chef. O resto da carta propõe uma selecção de pizzas e hambúrgueres de vaca (Angus e Kobe). Opções que parecem altamente calóricas, mas que podem ser substituídas por saladas.

A estadia está quase a acabar, e para rematar o momento foge-se outra vez para o Rooftop Bar, junto à piscina, à minúscula sauna e ao “ginásio” ao ar livre, que oferece uma dezena de máquinas. O sol ainda vai alto sobre o mar, mas como vai pousando o contraste de luz nas encostas vai esmorecendo. Seria uma imagem digna de gravação, mas a câmara mais perto, para surpresa dos hóspedes, está no quarto. Um gimmick (artifício) dentro de cada casa de banho, com uma imitação de uma câmara de videovigilância, que não grava nada, e que foi apontada para o chuveiro. Uma “surpresa”, diz Cristina Matos, destinada a dar uma ideia de como deve ser a vida de CR7, constantemente vigiada. Quem leu este texto até aqui, fica com a surpresa estragada. Mas aqueles que entretanto se perderam, que se lembrem de uma coisa, antes de pensarem em arrancar a “câmara” da parede e atirá-la ao mar: ou há fair play ou então estão no hotel errado.

A Fugas esteve alojada a convite do grupo PestanaPestana CR7 Funchal

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Como ir

O hotel desenvolve-se num edifício que é um paralelipídedo situado entre a Avenida do Mar (a marginal do Funchal) e a Avenida de Sá Carneiro. Tem como vizinhos o Museu Cristiano Ronaldo, bares como o Sete Mares e até a Quinta Vigia, residência oficial do presidente do Governo Regional da Madeira. Tem bons acessos a partir da cidade e do aeroporto, sendo servido por diversas linhas de autocarro. Quem viaja desde o continente tem voos directos desde Lisboa (TAP, Transavia e easyJet), do Porto (TAP, Transavia e easyJet) e de Faro (TAP/Sata). Há ainda voos com escalas de diferentes companhias, incluindo low cost.

 

Texto corrigido a 18/07/2016: no quarto parágrafo, a autoria do balcão era erradamente atribuído a Vasco Futscher, em vez de ao atelier Cristina Matos

Nome
Pestana CR7 Funchal
Local
Funchal, Sé, Avenida Sá Carneiro / Praça do Mar
Telefone
291 140 480
Website
www.pestanacr7.com
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