Foi a descoberta da loucura dos anos 80 da nostalgia de tantos, foi a referência dos anos 90 e foi (muitas vezes) a caricatura de si nos anos 00. As primeiras noites brancas, aquela banda que nunca se esqueceu, as matinées que duram uma vida inteira, os excessos que não se esquecem. O Swing sempre foi excessivo em tudo - até nos altos e baixos que viveu - e acabou consumido em fogo. Literalmente. Em Junho de 2007, ardeu a discoteca que marcou intensamente três décadas da noite portuense. Poderia ser o fim, mas mais uma vez se provou que o Swing tem, pelo menos, tantas vidas quanto um gato - e, neste caso, tal qual uma Fénix, das cinzas se fez um novo Swing. Demorou três anos, é certo, mas o Porto tem novamente Swing.
A esquina do Parque Itália continua negra - a fachada ali no rés-do-chão, as portas. A placa voltou ao lugar, Swing Club na conhecida assinatura personalizada, e quem passa pára. Comenta. E se a porta está aberta - e por estes dias está muitas vezes porque os trabalhos continuam - espreita. "Está quase igual", dizem alguns. Outros nada dizem. Do Swing só conhecem o nome, alguns diriam o mito. E foi pelo nome, pelo mito, que renasceu o espaço ali às portas da Rotunda da Boavista. "Nós queríamos o Swing", assegura João Magalhães, um dos responsáveis pelo regresso à noite da discoteca, que agora é "club" - e isso é para levar a sério, como veremos. O Swing queriam - João e os outros três sócios, Ezequiel Gomes, antigo funcionário da casa, Mário Machado e João Magalhães -, o Swing conseguiram. "Nunca pensámos mudar o nome. Não íamos pegar num espaço com este carisma, uma história de 30 anos, conhecido em todo o país mudá-lo", explica. "As pessoas passam por aqui e não precisam de placa", diz, enquanto observa, satisfeito, as pessoas que espreitam o club (e percebemos que a porta encostada é mesmo um teaser). "A ideia, no fundo, é essa".
E como a ideia é essa, o novo Swing é também o velho Swing. Talvez seja uma questão de ADN, ou então da tal nostalgia que anda à solta. Porque Ezequiel era funcionário, João era cliente assíduo. Foi-o entre 1998 e 2007. "O que eu gostava era do facto de o Swing juntar pessoas que frequentavam a noite há muitos anos, do carisma, da animação e diversão". "Queremos trazer isso de volta". Por isso, este Swing "insere-se no passado do Swing". Na programação, pelo menos.
Para nostálgicos e, quem sabe, neófitos, os sábados são uma viagem no tempo. Do outro Swing e da banda sonora das nossas vidas. "Remember", chamam-se, e o que se recorda são as décadas de 70, 80 e 90. Às quintas, retoma-se a tradição multigéneros - e falamos da música, sim, uma mescla dos sábados "Remember" com algum house comercial (que fará algumas ementas das sextas-feiras), e, sobretudo, de gentes. É uma noite mais dirigida para "públicos GLS, heterossexuais e transformistas" e crazy é a palavra-chave. Espere-se animação à altura que não dispensará bailarinos(as) e cenários condizentes com o espírito de cada noite. As sextas serão as noites mais "livres" - temáticas, por assim dizer. Imperará o lado "mais comercial" da música, ligada "ao house, deep house e êxitos do momento", mas podem surgir surpresas "mais alternativas". Embora não muito. Quem se lembra das noites Synergy, que foram uma espécie de balão de oxigénio nos últimos tempos da outra vida, pode ficar desapontado: "Música alternativa, techno-house e brasileira não entra". O público-alvo que procuram - situado numa faixa etária entre os 25 e os 60 anos, "que saiba estar, ser, vestir e divertir-se" - gosta da música programada, assegura João Magalhães. Afinal, essa escolha foi mesmo uma "questão de mercado" - e os cinco DJ residentes seleccionados porque asseguram essa versatilidade. E quem quer ser "público-alvo" saiba desde já que o Swing deixou de ser discoteca, é club (e agora o masculino porque sempre foi conhecida, faz todo o sentido). Isso significa que é "um espaço mais restrito, onde tem que se ter mais selecção na porta e dar conforto aos clientes".
Já se vê que o novo-velho-Swing não está para brincadeiras. Aliás, agora até tem uma zona VIP, algo que nunca antes existiu. Elitista? "Não é para distinguir pessoas, é simplesmente um espaço para as pessoas que colaboram connosco, clientes de garrafa...". Mas distinguir pessoas é algo que o Swing agora permite. Porque outra grande diferença do Swing é a decoração. Resumindo, foi do escuro para o claro, "onde toda a gente se pode ver". "O Swing já é cave, se se escurece torna-se um submundo", constata. E ali, não se quer "esconder ninguém". Tudo às claras, portanto. Mesmo se descendo as escadas um pouco íngremes ainda se tenha a sensação de estar a entrar num local secreto.
Mas agora há mais luz - nas escadas, por exemplo, um candeeiro a fugir para o barroco incrustado em trabalho de estuque, ilumina a passadeira vermelha. Descemos, portanto, as escadas (voltaremos ao rés-do-chão mais tarde) e deparamo-nos com uma parede de ferro trabalhado - é uma espécie de biombo, reluzente de novo (e vai repetir-se como painel nas paredes). À direita, o balcão de pagamento e bengaleiro, à esquerda abre-se o Swing, negro, branco e cinza a dominarem. O primeiro bar, linhas clean, lá está, defronte para outro, na outra margem da pista, onde antes era a cabina do DJ (são quatro bares, "mais funcionais no rolar pela casa"). E a pista, que já é ícone, mantém-se intacta: azulejos vermelhos, cor-de-tijolo, negros, demarcada pelas gordas colunas que brilham alvíssimas. No topo da pista, está a nova cabina, branquíssima também (rotulada: Swing Club) - é púlpito, é palanque. E é fronteira: ladeada por separador de vidro, daí para trás a zona é reservada. É verdade, o Swing para todos encolheu. O espaço VIP tem alcatifa negra e mobiliário branco - poufs, sofás de encontro a parede acetinada, pequenas mesas retro-iluminadas que parecem geleiras e pequeno bar oval.
E subimos a escadas novamente. Vamos à entrada para seguir para o bar-grill (mantém-se a tradição) que é uma espécie de sala de estar do Swing - e o único local onde fumar é uma interdição. Não é que tenha muito espaço para sentar, mas a decoração neo-clássica-kitsch convida a estar, apenas. O "claro" aqui é óbvio: sobressaem as colunas "clássicas" e as estátuas (quais serão as mais brancas?) em cada canto, os espelhos, os candeeiros de parede e os lustres. No tecto, um "fresco" - traços de A Criação de Adão com cupidos à solta rodeando a "marca" Swing Club, tudo iluminado por dentro - contempla a sala, onde se impõe, central, o balcão com cabedal embutido que rodeia uma réplica do armário que já existia anteriormente e que parece saído de uma sala de jantar formal.
E neste rés-do-chão, a meio caminho entre a entrada e lounge, mais uma ligação ao passado. As memórias estão plasmadas numa parede, ao estilo de colagem, nos rostos que fizeram a história do Swing ao longo de três décadas. É uma espécie de best of. Que, desde 9 de Julho, espera por novos capítulos. E muito swing: "O mito é para manter".
Referências
Febre de domingo à noite
Quem conheceu o Swing não esquece o célebre "Baile dos Bombeiros" que tantos domingos animou. Em mais um piscar de olhos nostálgico, o Swing vai abrir todos os primeiros domingos do mês, com noites temáticas. O Baile dos Bombeiros fará aparições, mas não será exclusivo. Exclusiva será a entrada. Estas festas não serão de porta aberta, mas por convite.
Geometria de uma entrada
A maneira mais fácil de garantir que se entra no Swing é marcar presença na guest list dos relações públicas - que são 17 ("todo o staff e mais quatro ou cinco pessoas"). Quem não está na lista sujeita-se aos humores do porteiro. E quem está na guest list tem outra vantagem - o preço de entrada, que pode ir de cinco a 15 euros. Todos os clientes podem contar com estacionamento fácil - mais que não seja no parque existente mesmo ali por baixo, onde haverá desconto de 50 por cento.
(Julho 2010)
- Nome
- Swing Club
- Local
- Porto, Massarelos, R. Júlio Dinis, 766
- Telefone
- 226100019
- Horarios
- Quinta a Sábado das 00:00 às 06:00