Fugas - restaurantes e bares

Adriano Miranda

O bar mais “cool” do país

Por Andreia Marques Pereira ,

É o único bar português onde o Inverno dura o ano inteiro. É conhecido como "bar do gelo" e isso diz tudo: tudo é feito de gelo, das paredes ao balcão, passando pelos copos, mesas, bancos... No Minus 5º Ice Lounge estamos num iglu e todos podemos ser esquimós - durante meia hora. Vestimo-nos a preceito e fomos beber cocktails geladinhos a Viseu.
O "dress code", mais do que restrito, é uma imposição. E não é uma questão de vaidade, já que todos se vestem de igual - e igualmente deselegantes. Quem conseguir vestir um casaco polar, com carapuço e pêlo branco, calçar dois pares de luvas e enfiar umas botas térmicas e sentir-se deslumbrante que atire a primeira pedra. De gelo, já agora. Porque é de gelo que se trata no Minus 5º Lounge Bar, que abriu em Abril, em Viseu. É, literalmente, o bar mais "cool" do país: quem diz menos cinco, diz também menos 13, porque a temperatura no bar oscila entre os 13 e os cinco graus - negativos, claro. O que no Verão beirão pode ser verdadeiramente refrescante e no resto do ano uma experiência deveras singular: muitas das principais cidades europeias têm um bar do gelo - é moda que pegou há alguns anos, importada da Escandinávia.

Devidamente equipados, não nos chegamos a imaginar intrépidos exploradores das superfícies polares do planeta, mas também nunca pensámos que o Árctico pudesse estar tão perto. O Árctico condensado numa pequena sala frigorífica que parece uma "fortaleza da solidão" (mas nós não somos o Super-Homem e não estamos exactamente sozinhos), onde tudo é feito de gelo, excepto o computador. O ambiente é seco e frio, sim, mas talvez por isso tudo parece tão nítido, cristalino e brilhante, mesmo na penumbra - a luz é escassa e parece emanar do próprio gelo. A maioria das vezes, o resultado é um lilás muito claro, mas depois há variações localizadas que até podem ser vermelhas, verdes, amarelas - estamos na única mesa do bar e são os cocktails que parecem mudar de cor, ilusão criada pelo sistema de iluminação escondido por uns pendentes de gelo que fazem as vezes de candeeiro de cristal.

Tudo é de gelo, sim, e não um gelo qualquer, toneladas de gelo com o certificado de pureza de um glaciar canadiano: as paredes são enormes cubos, quais gigantescos tijolos de uma transparência imaculada, o balcão e a estante das bebidas - que exibe apenas garrafas de vodka (todas Smirnoff) e alguns Red Bull -, a mesa e os quatro bancos (cobertos de peles), o "sofá" gigantesco com intricados entalhes (é aqui que o "lounge" é mais "lounge"), e uma meia mesa alta, "encostada" à parede - gelo esculpido em formas funcionais. Depois há os motivos decorativos apenas, duas colunas dóricas, um busto, um candelabro... com a assinatura da artista sueca Julia Azuki. E há os copos, de gelo também (o vídeo explicativo mostrado antes da entrada no bar tem razão: devem agarrar-se com ambas as mãos), vindos directamente da Nova Zelândia (onde se situa a casa-mãe da "franchise") - depois de usados, são derretidos: água à água.

E se a água está no meio de nós, a verdade é que não está dentro dos copos - rapidamente congelaria. Do mesmo modo, não se espere beber aqui uma cerveja ou uma Coca-Cola: as únicas bebidas são cocktails e mocktails (a versão sem álcool), a vodka é a bebida alcoólica básica e esta não é só uma questão de estilo, também é pragmática: os (pelo menos) 40 graus de álcool protegem-na do congelamento. Não será necessário dizer que pedir uma bebida "on the rocks" é completamente redundante - aqui estamos "in the rocks" e impossível mesmo é tomar uma bebida menos do que gelada. Por esta altura já percebemos que o senso comum não funciona num Ice Lounge e nem surpreende perceber que as geleiras servem um propósito inverso ao habitual: manter as bebidas "quentes", que é como quem diz sem congelarem e, por isso, no seu interior são armazenados os licores e sumos de fruta (concentrados) que acompanham a vodka nos cocktails. Com ou sem álcool, esperem-se bebidas coloridas, vermelhas, azul-turquesa, verdes. Parecem dos trópicos, mas os nomes são esclarecedores - South Pole, Cheeky Eskimo, Snow Flake ou Iceberg, por exemplo - e um cocktail sem álcool corre sérios riscos de se transformar em mais um pedaço de gelo.

Nós não corremos esse risco porque estamos protegidos por vestuário polar e por um "beep": este não é um bar de convívio, é um bar-experiência, e trinta minutos é a duração máxima da estadia. Os próprios empregados trabalham em turnos de uma hora e mesmo para Elias Rodrigues, nascido no Canadá e fã do frio, a adaptação não foi fácil, especialmente nas mãos. Depois, o corpo habituou-se e agora está imune a gripes e constipações. Meia hora não serve como vacina anti-gripal, mas o frio pode não chegar a incomodar, sobretudo para quem se deixa embalar pela música, batidas fortes para pôr todos a dançar e espantar os graus negativos. Quando saímos, a câmara intermédia parece tépida do alto dos seus zero graus. Cá fora, um bar "normal" aguarda-nos. Com bebidas verdadeiramente quentes para derreter o frio.

Dois em um
Na verdade, o Minus 5º Ice Lounge não é um, mas dois bares. O de gelo propriamente dito e o outro (onde não se paga para entrar): um espaço bastante amplo em tons de branco e lilás a antecipar o cenário gelado, que funciona como cafetaria-bar, de modo independente ou complementar - pode ser também sala de espera ou sala de recobro. A lista é "fumegante": gourmet de chás e gourmet de cafés, chocolate e cacau quente. Mas há também sumos naturais, cerveja, "whisky" e várias bebidas brancas. E gourmet doces, que inclui scones (?1,10), profiteroles (?2,50) e "petits gateaux" de chocolate com bola de gelado (?1,80).

Ícone e atracção turística
Em Portugal, coube a Viseu a honra de receber o primeiro bar de gelo, pela mão do grupo Visabeira, que quis um complemento original para a pista de gelo do Palácio de Gelo, tornado centro comercial há pouco tempo, explicou José Arimateia, responsável pela comunicação do grupo. Um "ícone da temática do gelo" é como chama ao bar, que, mais do que um bar, é a mais recente atracção turística da cidade - durante o Verão, as filas para entrar começavam ao meio-dia e o facto de muitas das vezes não haver ninguém de Viseu não é coincidência.

Da Nova Zelândia para o mundo
A história do Minus 5º Lounge Bar quase merece um "era uma vez". No caso seria era uma vez um explorador neo-zelandês (Buck Rockwell) que, nos últimos anos do século XIX, decidiu aventurar-se numa circum-navegação solitária do Pólo Norte. Quando o seu barco ficou encalhado no gelo, foi obrigado a passar o Inverno numa remota aldeia de pescadores de baleia, tendo por únicas companhias as mulheres e consideráveis quantidades de vodka. Quando regressou à Nova Zelândia, levava consigo inúmeras histórias e o gosto pela vodka pura gelada. Em 2002, a história encontrou eco no bisneto, Craig Ling, que decidiu criar o primeiro bar de vodka sub-zero. O conceito era "simples": um local não só feito totalmente em gelo mas onde o gelo fosse arte, lê-se no "site", com bebidas à base de vodka. Actualmente, a "franchise" tem dois bares na Nova Zelândia, dois na Austrália, um nos Estados Unidos (Las vegas) e um em Viseu.

Nome
Minus 5º Ice Lounge
Local
Viseu, São José, Palácio do Gelo Shopping Loja -106, piso -1 - Quinta da Alagoa
Telefone
232483111
Horarios
Segunda a Quinta das 17:00 às 23:00
Sexta das 17:00 às 00:00
Sábado das 12:00 às 00:00
Domingo das 12:00 às 23:00
Website
http://www.minus5experience.com
--%>