Podemos assumir que grande parte dos leitores não conhece estas bebidas, pelo que este texto tem um lado didáctico e é uma espécie de guia para "madeirenses principiantes". Comecemos pela poncha: a receita tradicional leva aguardente de cana-de-açúcar, mel de abelha e sumo de limão e é servida em copos pequenos, de cerca de 20 centilitros. Porém, há diversas variantes, sendo a poncha à pescador a mais antiga (e também aquela onde se sente mais a aguardente). "Conta-se que os pescadores não tinham dinheiro para o mel, por isso substituíram-no por açúcar", explicou-nos Diogo Sousa, o "barman" madeirense de serviço. Também podemos recomendar a poncha preta - feita com vodka preta -, apesar de nos parecer algo perigosa: miraculosamente, quase não se sente o álcool. A poncha absinto e as mais suaves poncha maracujá e poncha tangerina são alternativas. Estas últimas (bem como a poncha preta) costumam ser servidas em copos altos, com gelo.
Agora, passemos à nikita: é uma bebida mais refrescante, que leva gelado de baunilha, sumo, cerveja e vinho branco (há uma variante sem álcool, bastante doce). Menos popular, segundo nos revelaram ao balcão, é o pé de cabra: parece leite achocolatado e, na verdade, até anda lá perto. A receita inclui casca de limão, vinho da Madeira, cerveja preta e... uma colher de chocolate em pó. Depois, é tudo bem mexido e servido com duas pedras de gelo.
Espaço simples
Na Madeira, um bar de poncha é um local para começar a noite e conversar. O Poncha no Porto quer seguir esse rumo e por isso é um espaço simples, com mesas amplas e música relativamente baixa (o house comercial costuma fazer as honras da casa). O balcão está no piso térreo, enquanto que na cave, destinada a fumadores, há mais mesas. É também aí que, aos fins-de-semana, costuma haver música ao vivo (madeirense, claro está). O edifício, que terá uns 300 anos, foi conservado de acordo com a traça original, mantendo as paredes em pedra que lhe dão o ar rústico. A história da cana-de-açúcar na Madeira é contada em alguns quadros, cujas imagens se referem, maioritariamente, ao final do século XIX.
Depois de umas ponchas (ou de uns bons momentos de conversa) a fome pode aparecer. É aí que deve "entrar em campo" o bolo do caco, que aqui é servido torrado. Trata-se de um pão de trigo com uma espessura de uns três centímetros e um palmo de diâmetro, em cujo interior é tradicional colocar manteiga de alho (mas, no limite, quase tudo é possível, desde bifes a polvo). No Poncha no Porto, serve-se o bolo do caco com queijo, fiambre ou ambos (uma mista à moda da Madeira). A denominação da iguaria provém do facto de, antigamente, ela ser cozida sobre um caco de telha. Hoje, usam-se chapas ou pedras devidamente aquecidas para o efeito. Os produtos da Empresa de Cervejas da Madeira não podiam igualmente faltar: assim, se pedir um fino, ele será Coral. Da mesma empresa, também estão disponíveis os refrigerantes Brisa, cuja variante maracujá é a mais procurada.
É o passa-palavra que tem feito a clientela da casa, cuja base é composta por estudantes madeirenses ou conhecedores prévios da poncha. Para já, o balanço dos primeiros meses é "positivo", até porque se nota uma tímida reanimação da Ribeira como espaço de diversão nocturna. Mesmo com um cardápio quase exclusivamente madeirense (já nos esquecíamos de dizer que também há caipirinhas), neste bar é possível encontrar opções para todos os gostos e, simultaneamente, fugir às bebidas mais rotineiras.
Referências
Tudo madeirense
O preço das bebidas, garante a gerência, é igual ao praticado na Madeira em estabelecimentos semelhantes. Isto apesar dos ingredientes mais importantes serem originários da ilha (no balcão pode-se verificar a autenticidade da aguardente, por exemplo). O bolo do caco chega todas as semanas.
Preparado na hora
A poncha (e seus congéneres madeirenses) pode ser preparada antecipadamente e conservada no frigorífico, mas "não é a mesma coisa", garantiu-nos Diogo Sousa. Por isso, no Poncha no Porto as bebidas são feitas na hora: o cliente demora mais tempo a ser servido, mas a espera compensa. Enquanto aguarda, pode aproveitar para observar a técnica envolvida na preparação das especialidades, em que o mechelote (também conhecido por pau da poncha e por outra designação em calão que nos escusamos a reproduzir) desempenha um papel fulcral.
Amendoins e tremoços
"Os madeirenses estão mal habituados", observa Diogo Sousa, referindo-se à tradição de nunca servir a poncha sem acompanhamento. Seguindo este costume, aqui não é preciso pedir por amendoins ou tremoços, porque eles estão incluídos no preço das bebidas. É mais comum que a poncha seja acompanhada por amendoins e que os tremoços (servidos com pimento, alho e salsa) sejam reservados para a cerveja, mas nenhuma transgressão a esta "regra" será punida.
- Nome
- Poncha no Porto
- Local
- Porto, Porto, Rua de São João, 28/30
- Horarios
- Domingo, Segunda-feira, Terça-feira e Quarta-feira das 16:00 às 02:00
Quinta a Sábado das 16:00 às 04:00