Fugas - restaurantes e bares

Fernando Veludo/NFactos

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No feminino com a cultura popular

Lá fora, numa esplanada verdadeira vão-se sucedendo os clientes. Aqui dentro, o fim de tarde é tranquilo, com jazz a sair, suave, das colunas, e, a uma determinada hora, uma explosão de luz, quando o sol na sua trajectória descendente encontra espaço para entrar sem pedir licença. Há vinho a copo (por estes dias o "Prova Régia" suscita curiosidade) que é procurado nesta altura do dia (com petiscos paralelos) - e segue pela noite.

Porque se No Feminino Com nasce da vontade de preservar e divulgar a cultura portuguesa, "não fazia sentido que não aproveitasse a noite desta zona", concede Francisca Ferreira Alves. A avó concorda. "Gostava que este canto fosse de tertúlia", diz, "porque sou do tempo em que a seguir ao jantar todos saiam de casa e discutiam política ou cinema". Este nunca será (aqui apostamos que as aparências não iludem) um espaço noctívago por princípio (embora, haja uma certa distinção, como assinala Francisca Ferreira Alves, que se reflecte amiúde na música, que passa a ser um pouco mais comercial - sem perder muito de vista o que faz a identidade da casa: jazz, blues e clássica, sempre sem DJ), mas quer ser um espaço de convívio por excelência.

César Romão, o sócio mais vocacionado para a programação cultural, já percebeu que quem vem gosta de ficar. "Numa noite, é difícil termos segunda rodada de ocupação". Há quem chegue para jantar e saia já noite avançada. Há jantares com música ao vivo - já passou um saxofonista, por exemplo - e há noites temáticas - a mais recente de bossa nova. E há jantares temáticos, que fazem parte do projecto cultural da casa (com muitas iniciativas em conjunto com a vizinha Poetria).

É às quintas-feiras à noite que as tertúlias, com direito a convidados especiais, tomam conta de No Feminino Com - já houve homenagem a Federico García Lorca, noite de poesia árabe, noite de Camões - e quando é possível o jantar associa-se ao tema e tem um preço especial de "jantar-tertúlico", 15 euros. Nos meses de Verão, "de férias", vai haver uma pausa nestas iniciativas para reorganização e regresso em força marcado para Setembro - temas certos? A biografia das senhoras que se apresentam numa das paredes do espaço (já lá iremos).

E se o bar "está" ao fundo, é nas laterais que se desenvolvem a loja e a homenagem: uma parede para cada. Numa, retratos tamanho gigante em montagem com rostos de mulheres do Porto. "Mulheres importantes e mulheres de que ninguém fala." Guilhermina Suggia, Aurélia de Sousa, a "Ferreirinha", Rosa Ramalho (com um Cristo na mão, não uma das cabras que mais a celebrizaram), Carolina Michaëlis, D. Saozinha da Afurada, Sophia de Mello Breyner Andresen surgem-nos a preto-e-branco, figuras tutelares, reconhecíveis.

Do outro lado, as vitrinas da loja. E se o espaço é polivalente, a loja é dupla: livraria e artesanato - e este desenvolve-se numa espécie de tridente. Há o vestuário, inevitavelmente, porque, afinal, foi do têxtil que nasceu o projecto, há o figurado e há a ourivesaria. Homens e mulheres a trabalharem a tradição nacional, aqui apresentada em peças únicas e exclusivas de No Feminino Com. "E com dignidade", considera Maria Helena, que conta o espanto dos turistas quando entram no espaço e descobrem a "verdadeira cultura popular portuguesa".

Nome
No Feminino Com
Local
Porto, Vitória, Praça Carlos Alberto, 89
Telefone
222016618
Horarios
Segunda das 10:00 às 19:00
Terça-feira e Quarta-feira das 10:00 às 00:00
Quinta a Sábado das 10:00 às 02:00
Website
http://www.nofemininocom.pt
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