Fugas - restaurantes e bares

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    Confeitaria Colombo Nelson Garrido
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O Rio que não saiu do século XIX

Por Alexandra Prado Coelho ,

Quando nasceu, há 120 anos, pela mão de dois imigrantes portugueses, a Confeitaria Colombo deixou o Rio mais chique. As senhoras da sociedade tinham finalmente um sítio que podiam frequentar e onde quase se sentiam em Paris. No ano 2000, o chef Renato Freire foi convidado a recuperar a casa, que entrara em decadência. Como se pega num ícone como a Colombo?

Quando entramos na Confeitaria Colombo, no Centro do Rio de Janeiro, demoramos alguns momentos a conseguir abarcar tudo — os longos balcões de mármore e vidro redondo cheios de bolos, as vitrines de cristal altíssimas perfiladas ao longo das paredes a perder de vista, as luzes que se reflectem nos espelhos, a sala com as mesas alinhadas, a abertura oval no tecto que nos revela outro andar, com uma sala de restaurante, e o enorme vitral colorido suspenso sobre as nossas cabeças. 

Os empregados movem-se velozmente entre as mesas, levando bules de chá e pratos com bolos, e nós ali, parados, atrapalhando o trânsito, girando a cabeça para todos os lados e sentindo que é aquela sala magnífica que dança à nossa volta, ao som das músicas que — reparamos agora — o pianista toca ao piano. Alguém vem chamar-nos, obrigando-nos a parar de rodopiar, para nos dizer que o chef Renato Freire, responsável pela cozinha da Colombo (e muito mais do que isso, já vão ver) está à nossa espera no andar de cima. Subimos no elevador antigo até ao primeiro andar.

Renato Freire recebe-nos com um sorriso e convida-nos a sentar numa mesa comprida, numa sala vigiada pelos olhares atentos de dois retratos antigos na parede: os fundadores da casa, em 1894, há precisamente 120 anos, os portugueses Joaquim Meireles e Manuel Lebrão. “Manuel Lebrão era um imigrante português que veio para o Brasil aos 13 anos”, conta Renato Freire. “Aqui ele começou a trabalhar numa outra confeitaria, onde esteve cerca de dez anos, e depois a abriu a Colombo com o sócio capitalista Meireles — são aqueles dois lá”, aponta.

A abertura da Colombo foi uma revolução num Rio de Janeiro que, no final do século XIX, estava a sair do império para a república. “A cidade estava passando por uma grande reforma urbana e a Colombo chegou num momento muito importante e veio preencher uma lacuna no novo centro da cidade.” A grande referência para os cariocas (e não só) era Paris. “A mudança arquitectónica fazia com que aqui fosse uma Paris tropical, o centro foi praticamente todo desmanchado, desapareceram aquelas ruas muito pequenas e a cidade virou quase uma cópia dos modos de vida franceses”. A Colombo, que desde o início teve grande influência da confeitaria francesa, tornou-se um marco de finesse

“Era uma época em que não havia futebol, nem cinema, e em que quem saía para a rua eram os homens, que frequentavam bares e cafés. As mulheres ficavam trancadas em casa porque não havia um ambiente que elas pudessem frequentar. A Colombo veio trazer isso.” As senhoras iam ao médico ou fazer compras, e depois passavam pela Colombo para tomar um chá, comer um bolo, e ainda comprar artigos de mercearia, porque a casa importava tudo o que de melhor havia na Europa. 

Ao mesmo tempo, a confeitaria funcionava também como ponto de encontro de escritores e intelectuais — o “príncipe dos poetas brasileiros”, Olavo Bilac, “frequentava a casa diariamente” para o chá das cinco — mas também políticos como Juscelino Kubitschek ou Getúlio Vargas.

“Lebrão foi um génio comercial com uma mente décadas, ou talvez séculos, à frente dos outros”, continua Renato Freire. Trouxe de Portugal diversos empregados e fez com que alguns deles tivessem participação nos lucros. “A Colombo de 1900 dava férias para os empregados, e isso é coisa que no Brasil só foi vista 60 anos depois.” Além disso, o português quis que a sua casa tivesse “do melhor que existia no mundo: os talheres eram de prata Christofle, a louça ou era Vista Alegre ou Limoges, as toalhas de linho vinham de Inglaterra”. Os cardápios, claro, eram escritos em francês. Aliás, diz o chef, rindo, “comia-se comida brasileira ou portuguesa mas sempre com nome em francês, não era chique na alta gastronomia você chamar um prato pelo nome que ele tinha — uma carne assada é muito diferente de um bife bourguignon”. 

E não se pense que estamos a falar de um simples salão de chá. “Apesar de se chamar confeitaria, a casa era um complexo gastronómico. Sempre teve restaurante, teve durante mais de sete décadas o mais importante serviço de catering do Brasil, as grandes festas que aconteciam eram sempre feitas pela Colombo, até à década de 1940, quando entrou em cena o Copacabana Palace e começou a disputar esse mercado mais sofisticado. Mesmo assim, durante décadas, a Colombo continuou a ter o mais importante serviço de banquetes. Você podia chegar de manhã e pedir um banquete para 500 pessoas e ela tinha capacidade para o fazer [são quatro andares de cozinhas especializadas]. Nunca se dizia que não ao cliente — para Lebrão, o cliente tinha sempre razão.”

Assumir uma herança como esta não é uma tarefa fácil. Renato Freire foi convidado para a Colombo em 2000. “Na época, a casa assava um problema sério de décadas, que aliás o próprio Rio passou nas décadas de 1980 e 90. A Colombo já era uma casa triste, com uma parte fechada, mal iluminada. Os custos eram altos e começou-se a cortar nos produtos, que eram o grande diferencial aqui. Quando eu vim para cá, já a conhecia muito bem, tinha estudado a história dos banquetes”, conta este engenheiro químico apaixonado por gastronomia.

“Quando me convidaram para fazer uma renovação, para mim foi um marco. O que procurámos foi reviver produtos antigos que tinham deixado de se produzir. Sempre achei que o mais importante da Colombo é a tradição. Não podíamos jogar essa tradição fora e ficar correndo atrás de modismos de gastronomia.” Assim, Renato pegou nos bolos que sempre tinham feito o sucesso da casa, receitas portuguesas, francesas, e voltou a fazê-los, alguns no modelo clássico, outros com um toque brasileiro, usando por exemplo frutas da Amazónia que antes eram pouco utilizadas. Manteve o grande sucesso que é o pastel de nata, mas criou uma versão a que chamou quindim de camisola, que é feita com a massa do pastel de nata e o recheio do quindim — e que não só agradou como chegou a ganhar o prémio do melhor doce da cidade. Na altura da Copa das Confederações apresentou outra invenção: o pastel de caipirinha, também inspirado no de nata, mas com um recheio de lima e cachaça.

“No Brasil, a influência portuguesa na cozinha, sobretudo na doçaria, é praticamente absoluta”, conta Renato. “O que houve foi a adaptação dos doces portugueses aos produtos brasileiros, às frutas tropicais. E a influência do uso extensivo do açúcar. Os índios nunca comeram doce nem foram agarrados ao paladar adocicado.” 

O chef convida-nos a fazer uma visita rápida pelas cozinhas. É final da tarde e a Colombo está quase a fechar. Ainda há pessoas a trabalhar, mas não se compara com a azáfama do início do dia. “Temos 200 e poucos funcionários”, diz, enquanto abre os frigoríficos e dá a provar um bolo que rouba de uma das bancadas. “Só na área de produção temos 72 pessoas. Temos cozinhas e copas de doces e salgados em quatro andares diferentes. E em média recebemos um milhão de visitantes por ano, três mil pessoas por dia. Assustador, não é?”. 

Passamos por um bolo de festa, todo decorado, com uma cobertura branca de elegantes flores e pétalas. Renato sorri. “Se eu soubesse disso antes de vir para cá, não viria.” Está a brincar. A Colombo, sobre a qual até escreveu um livro (Confeitaria Colombo – Sabores de uma Cidade), é uma paixão. “Esta casa é um pedacinho de Portugal aqui no Brasil e a gente tenta fazer o máximo para que isso seja mantido.”

Nome
Confeitaria Colombo
Local
Estrangeiro, Brasil, Rua Gonçalves Dias, 32 (Centro) - Rio de Janeiro
Telefone
21 25051500
Horarios
Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira e Sexta-feira das 09:00 às 20:00
e Sábado das 09:00 às 17:00
Website
http://www.confeitariacolombo.com.br/
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