Sim, é qualquer coisa de intermédio e é assim que se sente bem. Um parenteses — que é o mesmo que dizer, uma pausa. Pausa que é mesmo, assim, o nome, surgido num McDonald’s, em conversa com os arquitectos. Abílio tinha dúvidas, havia estado a jogar com a língua inglesa — que os Clã nos ensinaram ser sempre mais fácil e, além do mais, neste caso, um piscar de olho ao turismo. Break. Mas break é pausa e da troca de ideias houve nome português para o espaço dos irmãos Abílio Vinha e José Monteiro. “Espaço” porque não é bar, não é restaurante (e não é café, embora a vizinhança comece a ganhar o hábito de aqui passar para um). É, então, qualquer coisa de intermédio e isso pode significar ser tudo — ou muito, pelo menos.
Num final de tarde de um sábado frio, por exemplo, há uma mesa ocupada por um computador, algumas pessoas ao balcão, e sente-se uma atmosfera de pré-festa. Está tudo a preparar-se para começar a receber quem vem jantar, ainda que já se solte um aroma intenso vindo da cozinha. É o prego de lombo de novilho em bolo de caco que Rita prepara (e um dos petiscos mais emblemáticos, juntamente com as tábuas, várias, e a mousse de Oreo, nascida nas jantaradas de Abílio). Rita trata da cozinha, dos bastidores, portanto. À frente, estão os irmãos e Lucas; em breve, mais alguém juntar-se-á à “família” nesta casa que é de todos, afinal. Todos têm um pouco de si aqui dentro, não apenas os irmãos proprietários. E todos têm as suas características: Abílio está sempre a conversar com alguém; José, o “Monteiro”, como é conhecido, está invariavelmente a debitar piadas; Lucas tem tendência a deixar cair qualquer coisa; Rita fala com as panelas. Retrato de uma família, portanto.
Faz parte da identidade da casa. “Queremos que as pessoas sintam que nos conhecem. E que nós as (re)conhecemos”, diz Abílio, “que voltem não só pela comida ou bebida, mas pelas pessoas”. Talvez seja porque os irmãos vêm de uma aldeia, onde “no café do senhor Manuel, do senhor Quim, todos se tratam pelo nome” — e por tu. “Aqui não há doutores ou engenheiros”, ironiza. Aqui é a baixa do Porto, onde mais?, com uma boa dose de informalismo e bom-humor. “Agora temos o pensamento da semana”, conta o Abílio, que reflecte essa descontracção bem-disposta. “Amor verdadeiro é igual a… barba, nunca acaba, só cresce”, lê-se no pequeno quadro de lousa por cima do buda que descansa no balcão lateral, disposto na parede diante do balcão “a sério”. Buda que não é buda — é um músico de jazz, um saxofonista e o saxofone é objecto fetiche no Pausa: há um pendurado numa parede e há outros dois saxofonistas, estes de vidro, no armário que é a parede de fundo. Não é à toa, claro, está ligado à personalidade musical da casa — jazz, funky jazz, e trip-hop — que não é ortodoxa. Nós estamos a ouvir versões em estilo crooner, desde a ubíqua Happiness, de Pharrel Williams, à outrora ubíqua Crazy, de Gnarls Barkley. “Tentamos adequar aos momentos”, explica Abílio. Durante a semana, a lealdade à matriz primeira da casa é mais óbvia, ao fim-de-semana tudo se relativiza. Há mais gente e é preciso agradar a várias sensibilidades, não excluir ninguém. Sobretudo à hora das refeições. “Eu tão-pouco ia gostar de jantar ao som de trip-hop”, assume Abílio. Por isso, a música acalma para depois subir um pouco mais de ritmo.
Mas o trip-hop está na base deste projecto que começou na cabeça dos irmãos como bar-apenas-bar. Contudo, à medida que iam desenvolvendo a ideia da “sua” casa perceberam que um bar no Porto sem pista de dança e com proibição de fumo não ia ser muito viável. Assim, ganharam protagonismo as refeições e essa é uma das prioridades. Por estes dias será apresentado um novo menu. E se a ementa será reciclada trimestralmente, esta que vai começar agora não é apenas a mudança de alguns petiscos. Terá a introdução de refeições de “faca e garfo” e de opção vegan (tosta de tofu com legumes salteados) e será segmentada. “É que não faz sentido fazer uma torrada à meia-noite e meia”, nota Abílio. Assim, haverá uma divisão por momentos do dia, numa linha de continuidade — almoço, lanche, fim de tarde, jantar e bar (do menu actual manter-se-á a “Pausa para encher o estômago”); com playlist a condizer.
Pausas sem televisão à vista (questão de princípio) em que cada mesa se torna o seu mundinho, afirma Abílio, que gosta de observar as dinâmicas — a mesa preferida dos namorados é a mais recolhida, nas traseiras; e na parte da frente a primeira a ser ocupada é a que fica logo atrás da cortina. A cortina negra que dá recato ao Pausa que tem fachada transparente para se poder abrir completamente. “Se está tudo aberto convida a entrar.” Entrar num espaço que se quis “neutro” no estilo e “acolhedor” na atmosfera. É feito de madeira clara que se desmultiplica nas mesas e cadeiras (“de realizador”, pano branco), nos balcões, no armário-montra (por estes dias do vinho Quinta da Boeira), entre paredes e chão claros e tecto negro (para compensar o pé direito baixo); a decoração compõe-se de fotografias inesperadas (de couves, por exemplo), de plantas que salpicam uma parede em pequenos vasos e da “obsessão” pelo saxofone, de um globo-candeeiro e de candeeiros feitos de baldes por cima do balcão; a iluminação ajusta-se ao passar dos momentos (pausas) que aqui se orquestram. Com petiscos e vinho porque promovem o convívio, uma grande variedade de gins (40 referências) porque está na moda e música que nunca está muito alta porque em redor está sempre. Quer ser um oásis — vamos ver se consegue realmente ser uma pausa.
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Preços: fino a 1,50€; vinho a copo a 2€; gin de 7€ a 16€; brancas correntes a 5€; espirituosas a 4€; cocktails a 5€; café a 0,80€; água a 1,20€; tábuas a 8€ (meia dose) e 12€ (uma dose); tostas entre 2,5€ e 3,70€; petiscos (de azeitonas a alheira ou pimentos padrón) entre 1€ e 5€.
- Nome
- Pausa Food & Drink Bar
- Local
- Porto, Sé, Rua José Falcão, 82
- Telefone
- 916751359
- Horarios
- Domingo, Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira e Quinta-feira das 13:00 às 00:00
Sexta-feira e Sábado das 13:00 às 02:00
- Website
- http://www.pausa.pt/
