Club Kitten e Gigi são dois fenómenos incontornáveis do Triplex (e da noite portuense) e marcaram (marcam) de forma indelével o bar e a sua imagem - Alcina Teixeira, a responsável, é a primeira a admiti-lo. Com o Club Kitten - que já há algum tempo se mudou para outras paragens - cultivou-se a loucura deliberada (no comportamento e no vestir a extravagância era o mote), que ficou de certo modo como imagem de marca do Triplex.
As festas Gigi acabaram por preencher, em parte, o vazio deixado pelo Club Kitten, mas a loucura está (mais) domesticada e formatada (o que, paradoxalmente, se tornou um dos ingredientes de sucesso destas noites: quem vai, sabe que corre o risco bastante real de ouvir misturas tão improváveis quanto, por exemplo, Joy Division, Madonna (nas suas várias encarnações) e Doce - sem esquecer o hino (para quem cresceu na década de 80, pelo menos) que é o tema dos desenhos animados "Dartacão e os três moscãoteiros").
No entanto, os fins-de-semana do Triplex são sempre um apelo ao hedonismo - seja com a Gigi, seja com outra das residências que se repetem todos os meses (a música, essa, anda sempre em torno do mesmo: 70"s, 80"s, 90"s, com um piscar de olho a coisas mais contemporâneas a aposta é, portanto, na nostalgia da geração dos 30. E são uma prova de resistência: às multidões compactas (que se concentram na sala principal, despida de cadeiras e mesas e transformada numa espécie de pista de dança - para quem consegue dançar) e à paciência - para chegar ao bar (em dias de festa, funcionam dois bares de apoio no jardim), para chegar à casa de banho.
Se os excessos festivos são o cartão de visita do Triplex, é preciso não esquecer que o bar da Avenida da Boavista também tem um lado bem comportado - que acontece durante a semana (e quando não há festas). Nessa altura, as mesas e as cadeiras tomam o seu lugar, a luz é reduzida e a música é apenas ambiente. As multidões não comparecem - a frequência perde a heterogeneidade que impera aos fins-de-semana - e o espaço brilha no seu esplendor algo decadente - é que o Triplex é um dos mais belos bares do Porto.
Situado numa casa do início do século XX (e não é invulgar os clientes dizerem sentir-se quase como em casa), mantém ao máximo a traça original e aproveita a arquitectura para criar diferentes ambientes - no bar, que ocupa o andar térreo, são dois: a sala principal, com o bar, e uma sala mais pequena, com mesas baixas e pouffs (nos dias de festa, esta sala funciona quase como um refúgio - para quem consegue arranjar lugar).
A atmosfera é antiga, com os seus intricados estuques (sempre diferentes), o seu soalho gasto pelos anos, as molduras de madeiras das portas, os rodapés alargados de madeira e até uma diminuta lareira de canto em mármore na sala mais pequena, virada para a avenida - e reforçada pela decoração, que inclui, por exemplo, logo na entrada, um grande espelho sobre um "futton" de veludo negro, e diversos quadros, sempre abstractos, a preencherem as paredes. Curiosamente, nesse sentido, é a sala principal a mais "descaracterizada".
Prestes a completar dez anos, o Triplex tem sabido reinventar-se e sobreviver a modas, algumas das quais nascidas ali. Club Kitten, Gigi... O que virá a seguir?
REFERÊNCIAS
Jardim/pátio
O jardim do Triplex é um dos seus cartões de visita. Povoado de árvores, sobretudo cameleiras, é um espaço extremamente agradável quando o tempo o permite. E muito útil sempre que a lotação do bar se excede - e nessas alturas funciona como prolongamento natural (excepto quando a chuva é muita), tendo mesmo dois bares mais ou menos improvisados a funcionar em alturas de maior aperto. Desde há poucas semanas, a esplanada exibe um corpo estranho: uma construção de madeira sobre colunas, para ficar ao nível da varanda por onde se acede à sala principal pelas traseiras, onde funcionam as casas de banho para deficientes motores - a varanda foi, aliás, adaptada para receber uma rampa e em breve terá também um elevador (para o restaurante, que se situa no primeiro andar).
Residências
Há a Gigi (que são uma dupla) no primeiro sábado de cada mês. Mas há ainda o Studio Mazz, o Teaser Club, as Dirty Sessions, o Best of Triplex, o Radio Clash, o dj Kitsh Kid e o Cultural Rock - exceptuando o último (da responsabilidade de alunos da Faculdade de Letras), todos os outros projectos apostam na mescla de 70"s, 80"s e 90"s (é quase uma escola Gigi). Têm dias fixos, a verificar no site do Triplex.
Restaurante
Situado no primeiro andar - onde se acede por uma escadaria encimada por uma clarabóia de onde pende um grande lustre -, o restaurante, à semelhança do bar, não é grande, mas oferece um espaço sóbrio e elegante, onde a luz natural é abundante - ou não fossem as paredes exteriores rasgadas por grandes janelas. A lista, apesar de não ser extensa, é equilibrada e destacam-se, por exemplo, o bife à Triplex (envolto em massa folhada, 14,50€) e o caril de gambas (13,50€). O vinho da casa é da Quinta de Sobreiró de Cima (8 €). Há preços especiais para grupos, que, se optarem por continuar a noite no bar, dispensam o pagamento do consumo mínimo (quando há festas).
Bebidas
A lista de bebidas do Triplex é infindável. Vai desde o simples café a (mais ou menos) elaborados cocktails (com e sem álcool, "long" e "short"), passando pelo cognac - Rémy Martin V.S.O.P. e Martel (10€) e champanhe - Moet & Chandon e Pommery (garrafas a 62,50€). Os uísques são escoceses, irlandeses, canadianos (e há bourbon). Há licores nacionais e importados. E há sumos naturais.
- Nome
- Triplex
- Local
- Porto, Lordelo do Ouro, Av. Boavista, 911
- Telefone
- 226098968
- Horarios
- Segunda a Sábado das 22:00 às 04:00
- Website
- http://www.triplex.com.pt