Fugas - dicas dos leitores

Por entre a paisagem da Islândia

Por Bruno Henriques

Viajamos por várias razões: aventura, descoberta, inquietude, prazer, paixão, desamor, a juntar a estas há ainda a minha instabilidade geográfica.

Aterrei em Keflavik às primeiras horas de uma madrugada de Outubro, despacho-me a recuperar o saco-de-viagem e saio à procura dum olhar familiar que não encontro há anos, bastaram alguns instantes para ouvir o meu nome em bom português e lá estavam os meus primos. Viajamos de jeep até Reykjavik, as horas obrigaram a conversas rápidas e um até amanhã.

Não consegui pregar o olho a noite toda, embalei a madrugada na ansiedade e assim que pela manhã ouvi o ritmo matinal desaparecer como o ronco do motor que se afasta pelas ruas, corro para despachar o meu, banho, roupa, bloco de desenho, máquina fotográfica e chaves do carro.

Atravesso a periferia da cidade com um frio matinal gelado, atmosfera intensa e uma nova paleta de cores. A paisagem humana não demorou a desaparecer, substituída por um conjunto de formações rochosas vulcânicas que nunca antes tinha visto, as cores são cruamente intensas. Sigo pela nacional que contorna a Islândia ao som dos Sigur Ros que aqui ganham uma maior dimensão, sou surpreendido a cada viragem por um novo enquadramento, a imensidão, a paisagem, a escala e o isolamento.

A paisagem varia ao ritmo da viagem, por todo lado há estradas impossíveis para o carro que conduzo, pistas para os picos, vulcões glaciares e neves eternas, a própria estrada parece não ir ter qualquer destino além do atravessar da paisagem. A Norte gigantes maciços ameaçam a minha passagem, a Sul a imensidão do mundo, e não, não são coisas da minha cabeça...

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