Fugas - dicas dos leitores

Por terras do tio Sam, natureza em grande

Por Manuela Santos

Uma das maravilhas da natureza que sempre despertou a minha curiosidade foi sem dúvida o Grand Canyon.

Este grandioso desfiladeiro, rasgado abruptamente pelo rio Colorado que o percorre por entre margens rochosas, íngremes, esculpidas milenarmente ao sabor de ventos e chuvas, confirma-nos a ideia de que tudo, nos Estados Unidos, é em grande. Aqui as dimensões ultrapassam largamente o horizonte que o nosso olhar está habituado a alcançar.  

Quem viaja normalmente tem um plano que se prende, em princípio, com o número de dias disponíveis a rentabilizar da melhor maneira possível. O meu incluía um percurso pelo Arizona e Califórnia, distribuídos por quinze dias, pelo que escolher a melhor hora para visitar o Grand Canyon que é, sem dúvida, ao entardecer, não foi possível. A opção de fazer um voo de helicóptero, que os há disponíveis pelas várias empresas, foi bastante compensadora. Permitiu-nos observar a baixa altitude a monumentalidade duma extensão de terra rasgada compulsivamente pelo rio que, em conluio com as forças da natureza, criaram este espectáculo para os meus olhos. Sobrevoando, tornou-se quase um jogo de esconde-esconde, ao som de um vira do Minho, conseguir avistar o Colorado que lá ia serpenteando as falésias conforme podia. O vira do Minho foi gentileza do piloto por sermos portugueses. Valeu a intenção, porque a música está fora das minhas preferências musicais. Pelo contrário, o holandês que fazia o voo connosco pareceu-me bastante agradado. Tocou-me nas costas para eu olhar e ergueu os braços ao jeito minhoto de quem dança. Em terra explicou entusiasticamente que tinha estado no Norte de Portugal no ano anterior.

Ao longo do Grand Canyon existe a possibilidade de apanhar um shuttle bus com paragens nos vários pontos estratégicos onde se pode desembarcar e voltar a entrar a qualquer hora, uma vez que este transporte está incluído no preço de ingresso no parque. Deste modo, podemos dispor do tempo que quisermos para ficar ali, fascinados, olhando do cimo dos penhascos de várias tonalidades ocre que descem até ao rio em socalcos caprichosamente esculpidos, configurando uma paisagem indescritível e invulgar. Este grande desfiladeiro, de mais de quatrocentos quilómetros de comprimento por trinta de largura, oferece-nos várias formas de ser explorado e múltiplos pontos de grande beleza, mas visitá-los todos carecia de muito mais tempo na região. O Horseshoe Bend, situado a poucos quilómetros da cidade de Page, no Arizona, foi um dos que mais provocou o meu deslumbramento. Aqui o rio Colorado cavou os penhascos numa curiosa forma de ferradura. Muitos turistas queriam ver, da berma do precipício, o rio que lá bem no fundo corria. A altura provocou alguns comportamentos hilariantes, com algumas pessoas rastejando até à berma, eu incluída, para espreitarmos e conseguirmos umas bonitas fotos.

O Cameron Trading Post foi o alojamento feito à medida para deleite de quem já andava maravilhado com toda a região do Grand Canyon. Hotel romântico, nas margens do Little Colorado River, afluente do rio Colorado, foi construído nas instalações de uma antiga estalagem e posto de trocas comerciais com os índios navajo. Todo o staff é composto pelos descendentes deste povo, solícitos, eficientes, mas de semblantes fechados. Alertaram-nos para o tradicional e delicioso pão quente servido com mel. Uma espécie de panqueca insuflada, simplesmente divinal. A decoração interior é de inspiração navajo, claro, onde lindíssimos tapetes de parede e bela cerâmica aconchegam o ambiente e o transformam num espaço bastante acolhedor. Chegou a hora de partir, ainda com muita estrada pela frente.

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