Fugas - Viagens

  • Bali: Purificação no Templo da Sagrada Primavera
    Bali: Purificação no Templo da Sagrada Primavera
  • Malaca: Igreja do Monte
    Malaca: Igreja do Monte
  • Bali: Ilha das Flores
    Bali: Ilha das Flores

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No rasto dos portugueses de Malaca às Molucas

A ilha das Flores, baptizada pelos portugueses, nunca foi conquistada. Foram tradicionalmente os seus reis que exerceram com autonomia o poder nesta terra em que a serpente impera. No entanto, até 1851, a população teve o apoio dos portugueses ao abrigo de um entendimento ancestral - reforçado pelas características próprias, culturais e religiosas deste povo. A caminho de Sika, onde vamos ao encontro do antigo reino, do seu palácio e da sua situação geográfica, encontramos uma ilha amiga e fraterna. O senhor Pereira mostra-nos ainda o que faltava ver do fantástico tesouro de Sika - o Menino Jesus Salvador do Mundo, vestido a preceito como se estivesse em Portugal. E se se diz que a ilha Flores nunca foi objecto de conquista, tal serve para deixar claro que a hospitalidade que recebemos vem dessa longa história - de humanismo, de abertura e de complexidade. Somos recebidos de braços abertos por um povo que não esconde a sua simpatia. Sentimo-lo especialmente na montanha, na aldeia de Watublapi, onde fomos fumar o tabaco da paz, ver as danças tradicionais e como se confeccionam os panos. Foi este mais um momento de emoção partilhado por todos. À parte a distância, as Flores correspondem a uma situação única e o seu povo hoje tem-nos no coração, e nós a ele. Aqui, em Larantuka, a Páscoa é inolvidável e emocionante. As orações são em português, portuguesa é a língua sagrada e a procissão no mar é a exacta projecção das mais antigas tradições de Portugal.

Longa jornada por estrada, de Díli até Baucau. É ainda aventurosa esta viagem, com um caminho muito irregular a obrigar a esforços, solavancos e atenções muito especiais. As nuvens acastelavam-se no horizonte, mas a chuva não veio, antes cedendo lugar ao sol e ao calor. Primeiro tivemos a paisagem xistosa, depois a calcária, primeiro o verde e depois o amarelo, até à cidade de Manatuto, a pequena propriedade e o regadio e a seguir a estepe seca. Sempre com o mar por companhia, com um azul fantástico, apanhámos alguns sustos por causa do abrupto das ravinas. Todos ficam deslumbrados, é Timor Leste no seu melhor, terra acolhedora e agreste, intensa e doce - e até os mangais constituem lição, uma vez que medram dentro da água salgada, bastando-lhes apenas algumas horas de água doce. Chegamos a Baucau quase com uma hora de atraso e D. Basílio do Nascimento espera-nos com a sua simpatia e com a hospitalidade que tão bem conhecemos. Um grupo de jovens meninas aguarda-nos na catedral e os seus cânticos na celebração são o modo de nos dizerem que somos bem-vindos. Ouvimos o seu português, às vezes inseguro, entre pequenos sorrisos, mas o olhar é transparente e de uma simpatia tocante.

Camões por companhia

Partimos de manhã bem cedo para Amboino e já nas Molucas começamos a ver com os nossos próprios olhos mais um dos cenários da presença portuguesa no Oriente do Oriente. Apesar de pequenos atrasos inevitáveis, sobretudo tratando-se de um voo especialmente contratado, chegamos a esta baía ao fim da manhã e embrenhamo-nos de imediato numa cidade equatorial situada numa pequena ilha intensamente povoada de floresta. A presença de um tão alargado grupo de portugueses causa surpresa. As autoridades locais não se poupam a esforços para nos serem simpáticas. Somos levados ao hotel e depois ao restaurante do almoço, antecedidos por um automóvel da polícia municipal. O professor Luiz Filipe Thomaz, nosso incansável cicerone, peregrino do tempo, recorda em pormenor as vicissitudes da presença portuguesa, que aqui ocorreu de 1512 a 1605. Fala-nos do naufrágio de Francisco Serrão nas ilhas das tartarugas, do comércio do cravo e da noz-moscada e da chegada de São Francisco Xavier.

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