Fugas - Viagens

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Seguindo os passos dos jesuítas portugueses pelos Himalaias

Por Mauro Gonçalves

Em quatro episódios, o documentário "Himalaias, Viagem dos Jesuítas Portugueses" segue as pisadas dos primeiros ocidentais pelo "Tecto do Mundo", por rotas do mítico Shangri-la. "É um local do planeta que me fascina", diz o autor, Magalhães de Castro, à Fugas. A série é transmitida aos domingos, na RTP2.

A primeira incursão do viajante e investigador Joaquim Magalhães de Castro Castro à região foi na década de 90: durante três meses, percorreu um Tibete "ainda virgem", "sem asfalto", "sem movimento turístico", onde só “paisagens e uma cultura mágicas” tinham lugar. O resultado foi o livro "Viagem ao Tecto do Mundo, O Tibete Desconhecido", lançado em 2010, e que serve de base à série documental. "Desde o início que pensei: isto dava um belo filme", diz. Duas décadas depois da primeira viagem, "o filme" é um documentário, dividido em quatro partes, e que pode ser visto a partir de domingo, 20, por volta das 19h30, na RTP2. "Himalaias, Viagem dos Jesuítas Portugueses" segue as rotas percorridas, há quase 400 anos, "por um punhado de arrojados" descobridores. 

Nos inícios do séc. XVII, outro português partia rumo ao "Tecto do Mundo". As cartas do padre jesuíta António de Andrade - o português que primeiro terá descrito para o Ocidente as rotas e visões desta região -, e dos que o acompanhavam, servem de guia. "O objectivo principal [do documentário] é dar a conhecer aos portugueses o nosso património imaterial, a nossa memória", refere. Castro, mentor, guionista e realizador de "Himalaias, Viagem dos Jesuítas Portugueses", defende um pioneirismo que nem sempre é reconhecido pelo saber enciclopédico - "[Os jesuítas portugueses] foram, na realidade, os primeiros antropólogos, alpinistas e até jornalistas". A odisseia jesuíta tinha por propósito a "ancestral busca do mítico reino do Cataio, onde se acreditava existirem cristandades perdidas", por rotas do mítico Shangri-la.


"O reino das cristandades perdidas"


"É um local do planeta que me fascina", confessa Castro. Desde o budismo à arquitectura das casas, às pessoas, à “música envolvente" ou às paisagens ("é difícil que alguém não goste"). Jamais esquecerá a estepe, as montanhas nevadas e os lagos cristalinos que, a partir de agora povoam, não só as páginas do livro e a memória do seu autor, mas também os ecrãs. "Infelizmente, aquele Tibete que conheci, misterioso, inacessível e autêntico, está a perder muitas dessas características", lamenta. A terra batida deu lugar ao asfalto e ao caminho-de-ferro. Por outro lado, conta que as viagens furtivas e as noites passadas em grutas, às escondidas das autoridades locais, não se repetiram desta vez.

Chaparangue, a cidade tibetana do antigo reino de Guge, onde o padre António de Andrade estabeleceu uma missão, foi, literalmente, o momento alto desta viagem - e é-o também do documentário. "Depois de muitas dificuldades para chegar lá, quase desisti", confessa Castro, remetendo para a primeira vez que visitou o Tibete. "Mas, desta vez, pudemos andar livremente pela cidade."

O documentário mostra-se em três horas e quarenta minutos de viagem pelo Tibete, Nepal e Norte da Índia. O projecto já havia sido apresentado à RTP, mas só agora saiu da prateleira com o apoio da produtora Farol de Ideias. "Foi um mês e meio intenso" acompanhado pelo co-realizador Daniel Deusdado e pelo operador de câmara Rui Costa. Ao longo dos quatro episódios, Castro revisita os locais dos jesuítas. Além das referências históricas, o documentário, nos seus altos e baixos, da partida de Macau à meta na Índia (Agra, a cidade do Taj Mahal), tem o viajante como personagem principal. Aliás, na apresentação do documentário, refere-se que se trata de "um documentário televisivo de proximidade com o público", "fazendo-o acreditar que também ele poderá participar nesta aventura".

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