Fugas - Viagens

Em Campinas, no rasto da selecção nacional

Por Simone Duarte

A Fugas hospedou-se por quatro dias no The Palms, o hotel boutique em que a selecção nacional ficará durante o Mundial. Perdeu-se no resort e tentou imaginar os passos e passes de Cristiano Ronaldo.

A adega é do Douro. O bar chama-se Pessoa e as salas de conferências Infante D. Henrique. Entre o restaurante Vila Real e o bar da piscina, da Beira, perdemo-nos. Mas no caminho encontramos a capela de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal e de Campinas, cidade do interior de São Paulo que concentra 1% de todo o PIB do Brasil.

“Vocês perceberam que o dono é português, né?” – pergunta António Dias, director do Royal Palm, com um leve sorriso nos lábios e um sotaque muito brasileiro. Sim, a esta altura já percebemos e sabemos até o nome do cão do pai de António. O cão de Armindo Dias, o português da aldeia de Lagarteira, em Ansião, que chegou ao Brasil em 1956 e hoje, aos 82 anos, é um dos homens mais ricos de Campinas, chama-se Tejo.

Também já nos perdemos algumas vezes nos longos corredores, entre os sete bares, restaurantes e café dos 60 mil metros quadrados do Royal Palm Resort. Chegamos ao heliporto dentro do resort com a cidade a nossos pés e até conversamos mentalmente com o busto do poeta Fernando Pessoa, no lobby, como se ele nos pudesse guiar para onde realmente gostaríamos de ir: o hotel dentro do hotel onde ficará a selecção portuguesa durante o Mundial 2014.

“O processo com a FIFA começou em 2010 — explica António Dias — e o fundamental era garantir a privacidade dos jogadores.” É difícil imaginar privacidade num complexo cinco estrelas com 500 quartos. “Mas a gente disse que tinha um hotel boutique, o The Palms, e que conseguia isolá-los completamente. Eles aceitaram. Fomos visitados por 15 delegações.”

Agora estamos no Ateliê Café — na recepção do The Palms, no segundo andar do resort. “Estas passagens que vocês vêem livres — aponta António para as ligações com o primeiro andar e as áreas de lazer —, a gente vai fechar, vai colocar portas e seguranças.” O resort tem 33 seguranças; quando a selecção chegar serão 73, 24 horas por dia.

Os 116 quartos do hotel boutique são todos iguais, do mesmo tamanho. Cada jogador terá um. A selecção deve ocupar aproximadamente 50. Apesar de não usar todos, toda a área será isolada. “Talvez até usem alguns quartos para guardar material. Tem quarto sobrando”, diz António Dias. Haverá uma portaria exclusiva para a federação portuguesa separada do resort que funcionará normalmente durante o Mundial. Dos 384 quartos do hotel maior, o Royal Palm Plaza, 150 já estão reservados para grupos de incentivo de empresas patrocinadoras da Copa do Mundo.

“Quem está no lobby principal não consegue ver os jogadores, mas andar pelas áreas comuns vai ser uma opção deles. Nem nós nem a Federação queremos deixá-los com a sensação de que estão confinados. Se quiserem dar um pulo na piscina, óptimo. É até positivo, este calor humano, esta vibração”, afirma António Dias. Talvez a área da piscina seja mesmo uma das poucas em que os outros hóspedes poderão espreitar os jogadores da selecção. Pode-se ter a sorte de ver um jogador se quiser usar as duas piscinas do hotel (uma está em construção), ou ir ao spa ou ainda usar a área de recreio e os campos de diferentes desportos. Ou não.

Almofadas de alfazema

“A comunidade portuguesa é muito grande no Brasil. Campinas, São Paulo, Santos são comunidades enormes. Tem gente que já veio aqui com a camisa de Portugal só para dar uma volta no hotel. O futebol tem esta coisa de paixão”, conta o responsável pelo resort, para quem é inegável a figura que vai atrair todas as atenções. “Tem o fenómeno louco que se chama Cristiano Ronaldo. Ele já estava com tudo e ainda ganhou a Bola de Ouro. Já vieram aqui equipas de televisão do Peru, da Colômbia, de todo o mundo por causa dele.”

O difícil será as pessoas conterem-se para não pedir um autógrafo. “Tenho que dar o exemplo”, ri-se António — e explica que já começaram a sensibilizar os funcionários de que a missão de um hotel é a discrição. “Eles não vão poder pedir autógrafos nem fotos. As pessoas podem até fazer por inocência mas depois que você põe na Internet não é mais seu. A equipa que trabalhar no The Palms assinará um contrato e terá que deixar os dispositivos electrónicos do lado de fora para garantir a privacidade dos jogadores.” António Dias é o primeiro a dizer que tudo o que está a contar é público, permitido pela FIFA; qualquer requisito especial por parte da Federação ou da FIFA está envolto em sigilo absoluto.

Quanto mais perto do Mundial estivermos, mais notícias aparecem em torno destes requisitos. Há algumas semanas foi divulgado que a federação teria pedido videojogos nos quartos. Ninguém confirma mas os quartos serão equipados com videojogos, além dos canais de TV. Todos têm uma cama grande e confortável e um menu com nove tipos diferentes de almofadas, desde uma com camomila, erva-doce ou alfazema até uma magnética cervical para aliviar a musculatura dos ombros, da região cervical e da cabeça. Os produtos de banho são todos da marca francesa Occitane. E intuímos que a discrição estará mesmo garantida. Durante a nossa permanência no resort, com todos os 500 quartos ocupados, raramente víamos outros hóspedes nos corredores do hotel boutique. Quanto à comida, a federação traz o seu próprio chef, que supervisionará a execução do menu por funcionários do hotel. Se Cristiano Ronaldo e demais jogadores provarão o couscous, a feijoada à brasileira, nos almoços de quarta-feira, ou sobremesas como o pudim ou o quindim — algumas das especialidades do Vila Real, o principal restaurante do Royal Palm —, ainda é uma incógnita. E, cá entre nós, uma pena se não provarem.

Mas aqui o que importa é o fácil acesso aos treinos e as deslocações para os jogos. Para António Dias, a discrição e a qualidade do hotel, aliadas ao facto de o The Palms ficar a apenas quatro quilómetros do Centro de Treino da Ponte Preta, onde a selecção se vai treinar, e a 15 minutos do aeroporto, explicam a escolha da Federação Portuguesa de Futebol. “Eles chegaram a comparar com um hotel no nordeste, mas no dia-a-dia, e para viajar para as cidades-sede dos jogos, eles gastariam mais tempo do que se ficassem aqui”, sublinha. Para este filho de portugueses, não há vantagem financeira para o hotel, já que a FIFA só paga os quartos que usa e durante o período do Mundial não haverá eventos nem convenções de empresas que movimentam o Royal Palm durante todo o ano. “Dois terços do turismo no Brasil são de turismo de negócios e este vai diminuir durante a Copa. Mas não importa. Estamos muito felizes em ter Portugal aqui. É bom para Campinas, é bom para nós, que temos origens portuguesas, e para o hotel que ficará conhecido em todo o mundo por causa da selecção e do Cristiano Ronaldo.”

Esta é a deixa de que precisávamos. Ainda tínhamos na lembrança a nossa estadia no mesmo hotel em que a selecção brasileira ficou em Los Gatos, na Califórnia, no Mundial de 1994, nos Estados Unidos, que terminou com o Brasil campeão. Quando perguntámos então ao dono quem ficara no nosso quarto, a resposta entusiasmou-nos: o brasileiro Cafu, único jogador na história a disputar três finais de Mundial (1994, 1998, 2002) e a vencer duas.

Sabemos que é quase um segredo de Estado mas... em que quarto ficará Cristiano Ronaldo? “Se eu fosse escolher, escolheria um que dê para o jardim interno, com maior privacidade ainda”, diz António Dias, repetindo que não lhe cabe a escolha. Os quartos onde nos hospedámos tinham vista justamente para o outro lado, para a área de lazer. Mas com o nosso histórico de hotéis e com um Cafu na bagagem, quem sabe se Cristiano Ronaldo não acredita que os números da Fugas lhe podem trazer sorte em finais de Mundiais?

Como não custa arriscar, Cristiano: 5118 e 5130. Bom Mundial!

Cristiano Ronaldo no menu dos botecos

O City Bar é conhecido pelo bolinho de bacalhau que José dos Santos António garante ser o melhor do mundo. Todos os meses, o português de Leiria, que chegou ao Brasil em 1967, vende o equivalente a duas toneladas de bacalhau. À sexta-feira, dia de maior movimento, são 3000 bolinhos e 1500 pastéis de nata.

Quando Cristiano Ronaldo ganhou o título de melhor jogador do mundo, “seu” José resolveu criar, juntamente com o funcionário do City Bar, Sagui, a sanduíche com o nome do jogador. Custa 34 reais (o equivalente a 10 euros) e é a nova estrela do cardápio, além de ser o mais caro do menu. Os ingredientes são bacalhau com azeite, salsa, alho, cebola “murcha” levemente frita e queijo. “Seu” José garante que Cristiano Ronaldo será o campeão de vendas do City Bar.

Mas no centro de Campinas, a cinco minutos a pé, o Bar Facca e o Giovanetti disputam a preferência e alguns títulos. Por exemplo, quem inventou o corte boca de anjo, frequentemente usado para fatiar as sanduíches?

“O corte chama-se boca de anjo porque era feito para que as senhoras pudessem pegar os pedaços com as mãos”, explica o garçon veterano Miguel (Micail). Com 40 anos de profissão, oito a trabalhar no Facca e doze passados no Giovanetti, Micail (Me-ca-iu — alcunha que ganhou quando começou a perder o cabelo), garante que foi o fundador do Bar Facca quem criou o corte, uma unanimidade nos bares da cidade.

Apesar dos nomes italianos, no cardápio de ambos os bares está muito clara a influência portuguesa: da alheira ao bacalhau. No Giovanetti, a sandes mais famosa é o lanche psicadélico com mozzarela, salsichão com picles, lombo cozido, salsichão lionês, mortadela, rosbife caseiro, presunto, tomate e azeitonas pretas. Já na parede do Facca, alguns exemplos das carnes disponíveis — ou como diz o cartaz, “os bichos estão fritos”: jacaré, rã-perereca, avestruz e javali. Comum aos dois é o modo como contam o número de chopps pedidos. Um pires pequeno, dos usados para o cafezinho, é adicionado. É só olhar para as mesas ao redor para perceber quem está exagerar nos copos.

De nhoque de castanha à caipirinha com picolé de abacaxi

Susanna Ulson Cardoso não conseguia dormir e, às duas da manhã, acordou o marido com a ideia de fazer massa de jabuticaba, fruta que só existe no Brasil. O marido queria continuar a dormir mas ela insistiu e assim surgiu o macarrão de jabuticaba patenteado em seguida pela chef Susana do restaurante Capela.

O Capela é um dos restaurantes do roteiro gourmet de Sousas e Joaquim Egídio, dois distritos repletos de fazendas da época em que em Campinas reinavam os barões do café.

A nossa descoberta da região, que aos fins-de-semana se transforma no destino gastronómico da cidade, começa com um almoço no Estação Marupiara, que em tupi-guarani significa “o que te deixa feliz”, da chef Viviane Moraes. A especialidade são os peixes e frutos do mar, mas começamos com uma caipirinha de limão com um picolé de abacaxi feito artesanalmente. O Marupiara foi eleito o melhor restaurante de peixes e frutos do mar pela Revista Veja Campinas em 2013. O camarão com molho de laranja e gengibre e arroz de coco é uma das especialidades da engenheira alimentar que largou a Nestlé há oito anos para abrir o restaurante num casarão do século XIX, ao lado da antiga estação de eléctricos.

“Sou uma fã da culinária brasileira e queria trazer um pouco de todas as regiões. Eu trouxe semente de jambu de Belém para a gente poder fazer o arroz de jambu, eu compro os bolinhos de acarajé em Salvador. Não queria ter apenas a banana, queria fazer um nhoque de banana, um nhoque de castanha. Tem gente que acha que comida brasileira é só feijoada mas é muito mais”, afirma Viviane Moraes.

A novidade das entradas é o bolinho baião de dois com arroz, carne seca, feijão de corda e queijo de coalho. Os pratos principais podem variar de peixes amazónicos como o pirarucu e o aruanã a um salmão com molho de caipirinha ou um nhoque de castanha com ragu de cordeiro ou ainda um nhoque com banana da terra e medalhão de filé.

Durante o Mundial, a chef Viviane adaptará o programa que já faz, o Cinema na Mesa, com cardápio e filme relacionados com o Mundial. Também haverá happy hour com petiscos brasileiros e a cada semana um menu diferente de cada região do Brasil. Outra ideia que vai unir vários restaurantes da região é o “Chefs na rua”, que vai levar petiscos e caipirinhas para a praça durante os jogos do Brasil. Para homenagear a selecção portuguesa, haverá pelo menos dois jantares no Marupiara com comida e vinhos portugueses.

Não precisamos de muito tempo para perceber que sairemos daqui felizes a fazer trocadilhos com a língua tupi-guarani. E é o que acontece depois de comermos o Romeu e Julieta, um sorvete de queijo feito em casa com calda quente de goiaba.

Partimos por uma estrada sem asfalto e aos solavancos chegamos à Fazenda Santa Maria. Nem o calor de 36 graus nem os buracos ao longo do caminho tiram o encanto da chegada. O passeio pelo casarão colonial da família da chef Susanna é uma viagem ao tempo dos barões de café e à história comum entre brasileiros e portugueses.

Além do festival de caipirinhas e petiscos do santo no restaurante da Capela, Susanna vai organizar visitas guiadas à fazenda onde mora. A primeira é à produção de licor de jabuticaba, a única agro-indústria de Joaquim Egídio, que é uma área de protecção ambiental. “Antes de ser chef, sou agrónoma, e este é o meu bebé”, diz Susanna ao mostrar onde faz o licor e tudo que é derivado da fruta. “Geleia, compota — agora que descobriram que jabuticaba retarda o envelhecimento celular, pode-se trocar o vinho pelo licor ou tomar os dois”, brinca ao lembrar que está a falar para um jornal português.

O segundo passeio é pela casa da fazenda fundada em 1830 pelo mineiro de origem portuguesa António Manuel Teixeira. “Acreditamos que ele era um abolicionista que comprava escravos para libertá-los; é só olhar a senzala, que é construída de maneira diferente das outras da época, olhem o pé direito, como é alto. As senzalas não eram assim”, explica Susanna, que guiará os turistas que quiserem conhecer mais a história da região através da fazenda que teve onze proprietários entre portugueses, italianos, alemães e descendentes de dinamarqueses.

Depois de provar um pouco do licor de jabuticaba, regressamos ao centro de Joaquim Egídio para os doces do Café Maritaka. Liliana Barreto recebe-nos com um chá gelado de erva cidreira e insiste que provemos algumas das especialidades da casa: o chocotaka — um brownie de chocolate com gelado de creme e calda quente de chocolate —, o bolo de mexerica com damasco ou ainda o cheescake com goiaba. O atendimento é um pouco demorado, porque Liliana faz tudo sozinha, mas para quê ter pressa se ainda não é dia de jogo?

A lua de Júlio

A esta altura, a noite está quase a cair e dirigimo-nos ao ponto mais alto da região, onde fica o observatório Jean Nicolini, o primeiro observatório público municipal e com um dos maiores telescópios do país. É uma noite de lua concorrida. Vamos à procura do astrónomo Júlio Lobo, que contagia com o seu bom humor e suas histórias sobre a lua, uma plateia que se transforma em criança quando olha para o espaço. “O céu, o cosmos, mexem com a nossa imaginação, eles estão comprando o sonho que a gente está vendendo”, comenta, ao ouvir os suspiros entusiasmados de quem acaba de ver um satélite a passar.

Júlio fala do Empório Gastronómico — evento que une gastronomia e astronomia — com visita ao observatório e jantar com pratos que têm em geral nomes de estrelas. Serão cinco edições durante os jogos. Ele incentiva os portugueses a aparecerem por lá. “Só no Hemisfério Sul dá para ver o Cruzeiro do Sul ou Escorpião. E está vendo a lua em formato da letra C? Em Portugal você veria como se fosse a letra D.” Entre planetas e satélites e uma esperança de Júpiter também aparecer, revela que esta é a sua 890.ª sessão com o telescópio e que completará a milésima durante o Mundial. Só há um pequeno detalhe. Coincidirá com a final. “Se o Brasil estiver na final, não venho — aí a minha 1000.ª terá que ser adiada para o domingo seguinte”, sorri, já a apontar para mais uma estrela.

O que é que Campinas tem

Sete selecções escolheram Campinas ou as cidades próximas no interior de São Paulo como sede durante o Mundial. Portugal divide Campinas com a Nigéria. Nos arredores, Rússia, Japão, Honduras, Costa do Marfim e Argélia. Campinas também é a oitava cidade que mais reservou bilhetes para os jogos e a única que não é sede de jogos e que terá um posto de troca de ingressos. A direcção de turismo fez um acordo com os hotéis que vão manter as taxas promocionais que oferecem durante todo o ano para eventos e empresas para o turista que vai ao Mundial. No último ano, o aeroporto de Viracopos passou de décimo para primeiro lugar na preferência dos passageiros brasileiros como o melhor do país. E tem voos directos para todas as cidades-sede dos jogos.

“Se um torcedor se hospedar em Campinas vai pagar menos pelo hotel e pela passagem aérea para as cidades-sede nos dias de jogo do que se ficar no Rio ou em Brasília”, garante a directora de turismo de Campinas, Alexandra Caprioli. “Quanto a Belo Horizonte, ficamos empatados, em Salvador depende do hotel mas em geral os nossos têm uma qualidade superior.”

A cidade já está acostumada ao turismo de negócios, abriga 50 filiais das 500 maiores empresas do mundo e é a nona cidade que mais sedia eventos internacionais no Brasil. “Eu sou conservadora. Em média, os hotéis recebem 25 mil hóspedes por mês em torno do turismo de negócios, que vai cair durante a Copa. Calculo que vamos ter uma média, por semana, de 10 mil turistas que vêm por causa das selecções. E nós vamos estar preparados. Já temos procura de hotéis por grupos de Honduras e Rússia, por exemplo.”

Para comemorar a escolha de Campinas como sede da selecção portuguesa durante o Mundial, a Secretaria de Desenvolvimento Económico, Social e Turismo resolveu criar a calçada da fama do futebol. A ideia é trazer uma estátua de Eusébio que está no Estádio da Luz, em Lisboa, para Campinas. Se não for possível (já estão em contacto com o clube e com o artista norte-americano que a fez), a cidade vai encomendar uma estátua do ex-jogador do Benfica e ídolo português. A cidade tem dois grandes equipas — Ponte Preta e Guarani — e vários jogadores que foram para o estrangeiro. O projecto conta com o financiamento de empresários de origem portuguesa que vivem na região. Um dos espaços a ser estudado para abrigar a estátua e o futuro hall da fama do futebol é o Parque Portugal (mais conhecido como Lagoa do Taquaral), a principal área verde do centro da cidade. “Campinas se imbuíu do espírito da Copa e não partilhamos em nada o cepticismo que se abateu em outras partes do país”, conclui Alexandra Caprioli.

GUIA

A não perder em Campinas

Fazenda Tozan

A viagem por Campinas é também uma viagem ao reino dos Barões do Café. Entre 1875 e 1910, a região era uma das mais ricas do mundo. A Fazenda Tozan é paragem obrigatória para o turista que quer ter uma aula sobre a cultura cafeeira e a história que vai desde as lendas do café com a colonização portuguesa aos imigrantes japoneses quando a fazenda é comprada pela família Iwasaki, fundadora da Mitsubishi, pouco antes da crise de 1929. O passeio de duas horas leva o visitante a “viajar” à época da escravatura (com a casa grande e senzala), dos colonos italianos, da perseguição aos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. Do Museu do Café, a guia Vera Pospisilova Valente mostra todas as etapas do plantio: o terreiro do café, a torrefacção, o cafezal, o despolpador até ao mirante com vista para toda a plantação.

Mas no século XXI é uma mini-série japonesa filmada aqui que atrai turistas que vêm do Japão especialmente para visitar os cenários. No fim, “seu” Raimundo, de 63 anos, que começou a trabalhar com café aos oito anos, demonstra a colheita manual. “Tinha um gerente que queria que a gente cantasse enquanto a gente fazia a colheira, pode?” Nas palavras finais da nossa guia, Vera Valente: “Se tivesse com um grupo inglês diria que seu Raimundo is the best. Para as crianças digo ele é o cara.” Não deixe de beber o cafezinho antes nem depois do passeio. Os preços por pessoa variam de 66 a 76 reais (de 21 a 23 euros), as crianças pagam metade. Para agendar as visitas e obter mais informações, ficam os contactos: +55 (19) 3257-2269, +55 (19)99694-3111, +55 (19) 98273-6020.

Maria-Fumaça

Para quem não sabe, Maria-Fumaça é o nome que os brasileiros dão às locomotivas de comboio do século XIX movidas a vapor. Em Campinas elas chegaram em 1875 para escoar a produção de café até ao Porto de Santos. Hoje, a Maria-Fumaça percorre apenas 24 quilómetros dos quase 2000 da antiga linha férrea que ligava os estados de São Paulo e Minas Gerais. São cinco passeios durante o fim-de-semana — a dica ideal para as crianças. O passeio entre Campinas (estação de Anhumas) e Jaguariúna dura três horas e meia com tempo livre para almoço. Toda a viagem é animada pelo baião, forró, samba e xote do Musical Nostalgia, um grupo de quatro músicos de mais de 60 anos comandados por Carmem Vendemiatti, ou como lhe chamam os outros músicos, Carmem Miranda. A viagem também conta com as “ferromoças”, que com o seu carrinho cheio de ofertas vendem tudo o que estiver relacionado com comboios — numa versão mais rural das hospedeiras dos aviões. Todo o trabalho é voluntário para preservar a linha ferroviária e as locomotivas. O passeio custa entre 50 a 70 reais (dependendo do trecho), o equivalente a 16 e 21 euros. Crianças e idosos pagam metade.
www.mariafumacacampinas.com.br

As Sete Maravilhas

Um city tour gratuito, promovido pelo município num autocarro de dois andares, da tradicional cor vermelha, durante todo o mês do Mundial, que percorre por duas horas as chamadas sete maravilhas da cidade escolhidas pelos moradores. A destacar: a Estação Cultura, a antiga estação ferroviária de 1872 tombada pelo património histórico. É entrar e imaginar o movimento na época áurea do café. A catedral metropolitana levou 70 anos para ser construída e foi toda feita, pelos escravos da época, em taipa de pilão (técnica de construção do barro molhado misturado com pequenas pedras, cascalho, fibras vegetais). A obra foi concluída em 1883 e é o maior templo religioso do mundo construído em taipa. Para quem gosta de verde, o Parque Portugal, mais conhecido como Lagoa do Taquaral, a maior área verde do centro da cidade.

Trilhas

Campinas é conhecida pelas trilhas e pelo ecoturismo. O distrito de Joaquim Egídio é área de protecção ambiental. O Pico das Cabras, área de Mata-Atlântica, é um dos destinos preferidos. Várias agências de viagem organizam programas de meio ou um dia inteiro. Uma delas é a Estação Floresta, que organiza passeios gratuitos e pagos de uma hora e meia que custam em média 50 reais (aproximadamente 16 euros) com lanche e água incluídos.

Observatório Municipal de Campinas Jean Nicolini

Fica no Pico das Cabras, no distrito de Joaquim Egídio, e as sessões animadas pelo astrónomo Júlio Lobo e sua equipa são imperdíveis para quem quer ver os planetas e as estrelas a partir do Hemisfério Sul. www.observatorio.campinas.sp.gov.br

Estádio e Centro de Treinos da Ponte Preta

Vai ser difícil chegar perto da selecção nacional, mas, para quem quiser tentar, o centro de treinos da Ponte Preta vai ser o destino diário dos jogadores. Será todo cercado de outdoors com o objectivo de afastar os curiosos. Fica no quilómetro 96 da Via Anhaguera. A alternativa é o estádio da Ponte Preta, onde a selecção portuguesa deve fazer dois treinos abertos ao público. A segurança será reforçada. Nas arquibancadas cabem pouco mais de 19 mil adeptos.

Informações

Como ir
A TAP tem três voos semanais directos de Lisboa para Campinas. A partir de Abril, passam a ser quatro voos por semana. www.flytap.com

Onde ficar

Royal Palm Resort
O principal hotel do Royal Palm Resort estará a funcionar normalmente durante o Mundial, apesar de a selecção nacional estar hospedada no hotel boutique no mesmo complexo. Quartos a partir de 1250 reais (aproximadamente 390 euros), preço de balcão. Para pacotes mais vantajosos, consulte www.royalpalm.com.br. Atenção que há outros hotéis da rede em Campinas que não são o resort de 5 estrelas.

Onde comer

Estação Marupiara
Rua Manuel Saturnino do Amaral,29 – Joaquim Egídio
Tel.: +55 (19) 3298-6289
www.estacaomarupiara.com.br

Restaurante da Capela
Rua Dr. Heitor Penteado 1407, Joaquim Egídio
Tel.: +55 19 3298-6299
Email: reservas@restaurantedacapela.com.br
www.restaurantedacapela.com.br

Café Maritaka
Rua Dr. Heitor Penteado, 1580 – Joaquim Egídio
Tel.: +55 (19) 9113-6217
Email: cafemaritaka@hotmail.com

City Bar
Av. Júlio de Mesquita, 450 – Cambuí
Tel.: + 55 19 3252 5296

Facca Bar
Tel.: + 55 19 3232.0970
Email: facca@facca.com.br

Giovanetti
Rua Gen Osório, 1059 - Centro
Campinas - SP, 13010-111, Brasil
Tel.: +55 19 3231-2830
www.giovannetti.com.br

Corrigida à menção à Califórnia brasileira que na realidade é Ribeirão Preto.

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