Fugas - Viagens

Leva-me até ao topo da colina

Por Patricia Carvalho; Mara Gonçalves; Andreia Marques Pereira; Carlos Cipriano

Há precisamente 130 anos, a 24 de Outubro de 1885, o Elevador da Glória começou a trepar as ruas de Lisboa. Pretexto mais do que suficiente para darmos uma voltinha nas suas carruagens amarelas — e uma boleia perfeita para outros passeios de Norte a Sul do país em alguns dos ascensores, funiculares e elevadores mais antigos do país.

Ascensor da Glória
Lisboa

“É incrível que eles tenham construído estes eléctricos há tanto tempo”, comentam em inglês duas turistas sentadas à nossa frente, enquanto descemos a Calçada da Glória num dos ascensores que há 130 anos fazem aquele percurso, para cima e para baixo, unindo a Avenida da Liberdade à Rua São Pedro de Alcântara. Não resistimos a interpelá-las. Annette, alemã, e Päivi, finlandesa, conheceram-se no hotel onde estão alojadas e desde então têm passeado juntas pela cidade. Esta manhã, iam até ao Miradouro de São Pedro de Alcântara quando repararam no ascensor da Glória. Era ali que terminariam o passeio. “Tem-se a percepção da História. É como um salto atrás no tempo”, defende Päivi, já no final do trajecto. “É, de facto, incrível como conseguiram desenvolver este mecanismo há tanto tempo e tornar a vida deles tão mais fácil, sem terem de subir mais esta colina a pé”, sorri Annette.

Quando foi inaugurado, a 24 de Outubro de 1885 — um ano depois do da Lavra, o primeiro ascensor em Lisboa — as carruagens do elevador da Glória eram as únicas com dois pisos. “Pensamos que tenha a ver com o facto de logo nessa altura já haver muita procura para fazer aquele percurso e daí que tenham tentado dotá-lo com veículos de maior capacidade”, avançaria mais tarde Martins Marques, da Direcção de Operações do Modo Eléctrico da Carris. O piso inferior seria semelhante ao actual, “com os bancos longitudinais de costas para a rua”, enquanto “a parte superior, chamada ‘imperial’, era descoberta e tinha bancos também longitudinais mas no centro e virados para a rua”, conta Susana Fonseca, do Museu da Carris.

Na altura, o ascensor funcionava com um sistema de contrapeso de água, como aquele que ainda hoje é utilizado no Elevador do Bom Jesus do Monte, em Braga, o primeiro funicular construído na Península Ibérica e o mais antigo do mundo a utilizar este sistema (ler texto nestas páginas). “O carro que estava na estação superior enchia um depósito com água e, como estavam ligados por um cabo subterrâneo, ao descer, e por estar mais pesado, fazia com que o outro subisse. Quando chegava lá em baixo, despejava a água e o que tinha subido enchia o seu depósito”, descreve a responsável. “Claro que esse método não durou muito tempo devido às constantes faltas de água e ao desperdício e, ainda nos finais do século XIX, foi dotado de um motor a vapor e depois electrificado em 1914.”

Quase todos os ascensores e funiculares do país datam da mesma altura. Até então, “os transportes ainda eram todos de tracção animal” e “não conseguiam vencer determinadas colinas”, mas com o advento da arquitectura do ferro e os mecanismos de energia hidráulica (e depois a vapor), surgem uma série de ascensores em Portugal, quase todos pela mão do mesmo engenheiro, Raoul Mesnier du Ponsard, português de ascendência francesa. Primeiro o do Bom Jesus do Monte, em 1882, depois o do Lavra (1884) e o da Glória (1885), em Lisboa, a seguir o da Nazaré (1889), o dos Guindais (1891), no Porto, até ao Elevador de Santa Justa, já em 1902. Entre eles, outros tantos em Lisboa, entretanto desaparecidos, como o da Estrela, o da Graça ou o de São Sebastião. Quando a Nova Companhia de Ascensores Mecânicos de Lisboa foi dissolvida, em 1926, já só funcionavam os quatro ascensores alfacinhas que persistem até hoje, então adquiridos pela Carris: os ascensores do Lavra, da Glória e da Bica e o elevador de Santa Justa.

Actualmente, entre os três trepadores de colinas — o tom amarelo tradicional ofuscado por taggs e grafittis — o da Glória “é claramente o que transporta mais gente”, indica Martins Marques. Um milhão de pessoas por ano, “ligeiramente menos” do que o Elevador de Santa Justa. “Há muita gente ali da zona e outros que não são mas utilizam-no naquela vivência do Bairro Alto e dos bares, e depois temos também muitos turistas, principalmente a partir da Páscoa”, acrescenta. Já o ascensor da Bica “transportará à volta de umas 500 mil pessoas por ano” e o do Lavra, mais escondido e, por isso, pouco utilizado por passeantes, “uns 300 mil”.

“Os turistas passam aqui nos Restauradores e vêem logo o elevador porque chama muito a atenção”, conta um dos guarda-freios. Muitos aproveitam os minutos em que está estacionado junto à paragem para tirar fotografias e continuar caminho, outros aproximam-se para também ficarem na imagem. Primeiro esta família com um selfie stick, depois aquele grupo alegre de espanholas que não tarda a entrar num dos tuk tuk ali parados, já na Avenida da Liberdade. Mas a grande maioria acaba por subir no ascensor e as filas de turistas vão-se formando e desaparecendo ao ritmo do sobe e desce. Saskia e a mãe acabam de perder o último eléctrico, resguardam-se da chuva enquanto o outro não vem. “Vamos tentar ir, é um highlight turístico, é muito cool”, defende a holandesa.

Pouco depois, lá vamos novamente calçada acima, uma portuguesa entre pouco mais de 20 turistas. À janela do lado direito, vão surgindo os painéis da Galeria de Arte Urbana, que ali começou em 2008. As telas são alteradas com frequência e, desta vez, acompanha-nos na subida um trabalho inspirado num poema de José Régio. “Vem por aqui”, “Não sei por onde vou / Não sei para onde vou”, “Sei que não vou por aí”. As frases de Cântico Negro vão alternando com desenhos garridos.

È finito?”, pergunta um italiano aos amigos quando, cerca de três minutos depois, o trajecto chega ao fim. A subida, com uma curva ligeiramente acentuada no início, não deixa vislumbrar toda a trajectória e há quem chegue ao engano, acreditando ser um percurso maior, semelhante ao dos eléctricos. “Diga-me um passeio giro para fazer agora com chuva”, pede entretanto uma turista brasileira. “Tem ali o miradouro [de São Pedro de Alcântara] que é muito bonito e depois tem o Chiado e o Bairro Alto”, recomenda o guarda-freios. “Os turistas gostam muito disto, dizem que é parecido com o de São Francisco [nos Estados Unidos]”, contar-nos-à mais tarde o outro guarda-freios em serviço. “Alguns até nos convidam para ir depois com eles passear.”

As duas carruagens que fazem actualmente o percurso são de 1914, altura em que a linha foi electrificada. “Têm sofrido modificações ao longo dos anos, sobretudo ao nível das madeiras de revestimento, mas toda a parte mecânica é, de um modo geral, original”, refere Martins Marques. “Cada carro tem um motor, portanto é como se fossem eléctricos normais, mas depois estão interligados por um cabo, o que faz com que um possa fazer de contrapeso ao outro, não sendo necessária tanta potência ao nível dos motores, porque o peso do que desce ajuda o outro a subir.”

A linha — imortalizada na música dos anos de 1980 dos Rádio Macau — faz hoje 130 anos e há 101 que as mesmas carruagens onde agora nos sentamos fazem aquele percurso diariamente, para cima e para baixo, as duas exactamente à mesma velocidade. Quando uma está em cima, a outra está em baixo, quando uma está a meio do caminho, a outra está ao lado, sempre sincronizadas.

Em 2013, mais uma tradição foi ali reposta, 87 anos depois. Uma noite por ano, homens e mulheres, profissionais e amadores, pedalam rampa acima na regressada e icónica Subida à Glória. São 276 metros de comprimento com uma inclinação média de 17,7%. Este ano, a 12 de Setembro, os ascensores deram novamente lugar às bicicletas e os ciclistas Ricardo Marinheiro e Vanessa Fernandes voltaram a vencer a prova, repetindo o pódio de 2014. O recorde, estabelecido pelo ciclista no ano passado é de 36 segundos. Sim, a subir. É caso para recordar o hit da banda portuguesa lançado em 1987, incluído no álbum homónimo O Elevador da Glória. É cliché, bem sabemos, mas não nos sai da memória desde que começámos esta reportagem.

Duma existência banal/ Até ás luzes da ribalta/ Há dois carris de metal/ Desde a baixa à vida alta/ Desde o triste anonimato/ Desde a ralé e a escória/ Até à fama e ao estrelato/ Há o elevador da Glória

No elevador da Glória (3x).... Mara Gonçalves

 

Calçada da Glória (em baixo, junto à Praça dos Restauradores, no cimo, próximo da Rua São Pedro de Alcântara), Lisboa

Tel.: 21 350 01 15 (Centro de Atendimento Transportes de Lisboa)

carris.transporteslisboa.pt/pt/ascensores-e-elevador

Horários: de segunda a quinta entre as 7h15 e as 23h55, sextas das 7h15 às 00h25, sábados desde as 8h45 às 00h25 e domingos entre as 9h15 e as 23h55.

Preços: o bilhete adquirido a bordo custa 3,60€ (válido para duas viagens). São ainda válidos os cartões Lisboa Viva, 7 Colinas ou Viva Viagem carregados com títulos da Carris.

 

Elevador de Santa Justa

 

“Bom dia! É a primeira passageira de hoje”, cumprimenta-nos o ascensorista ao chegarmos à entrada na Rua de Santa Justa, a dois passos de uma Rua Áurea ainda despida de movimento. É domingo, pouco passa das 8h e só agora a chuva da noite anterior começa a dar tréguas. Subimos sozinhos com o ascensorista e damo-nos ao luxo de cronometrar: em menos de 33 segundos chegamos lá acima (menos dois segundos para descer, contaremos depois).

O miradouro, no topo dos 45 metros da torre de ferro trabalhado, ainda se encontra encerrado e, por isso, deixamo-nos ficar na varanda do patamar de acesso ao elevador. Um sol tímido surge por entre as nuvens atrás da Sé de Lisboa e ainda se porá um simpático domingo de Outono, mas para já é uma cidade que ainda dormita, vazia e desolada, com as fachadas mais pálidas do que o habitual e a calçada molhada onde os desenhos alvos e negros brilham mais do que nunca. Ouvimos apenas um grupo de gaivotas que sobrevoa a Praça D. Pedro IV, o sino da Igreja do Carmo, um ou outro carro que passa.

Quando voltamos a descer, já o primeiro grupo de turistas aguarda de cartões Viva Viagem em punho, a guia conta os primeiros 20 a subir. “Bem-vindos ao elevador mais antigo da cidade”, anuncia o ascensorista em inglês assim que a curta viagem começa. Inaugurado em 1902, o Elevador de Santa Justa é também o único ascensor vertical de serviço público em Lisboa, embora a grande maioria dos utilizadores sejam turistas, estrangeiros e alguns nacionais. “As filas que normalmente temos desincentivam a utilização pelo cidadão comum”, assume Martins Marques, da Direcção de Operações do Modo Eléctrico da Carris.

“A nossa intenção é que continue integrado na rede de transportes públicos e temos inclusivamente alguns projectos em que pretendemos melhorar todo o sistema de motorização para que possa cumprir melhor a função de serviço público, mas há uma série de requisitos que ainda têm de ser ultrapassados, pois está classificado como Monumento Nacional”, avança o responsável, indicando que tal só deverá avançar, no entanto, dentro de um mínimo de dois anos.

Até lá, ainda há todo um projecto de reabilitação para terminar. A primeira fase trouxe cara lavada ao passadiço que liga o patamar superior à zona do Largo do Carmo — uma ponte metálica sobre a Rua do Carmo que em 1901 foi inaugurada com pompa e circunstância, contando com a presença do rei D. Carlos I. “Foi uma data muito importante porque estava toda a gente muito céptica”, conta Susana Fonseca, do Museu da Carris. Agora, depois da intervenção nas faces sul e poente da torre, são os lados norte e nascente que estão cobertos de tapumes e andaimes. De seguida, será a vez da entrada junto à Rua Áurea. “Aqui vamos inclusivamente alterar um pouco a entrada e o que pretendemos é criar um corredor interior para que a fila comece a formar-se lá dentro e colocar painéis explicativos da história do elevador”, adianta Martins Marques.

Com 113 anos, feitos a 10 de Julho, o Elevador de Santa Justa foi o último ascensor projectado por Raoul Mesnier du Ponsard a abrir ao público e é talvez a sua obra mais icónica. Começou por funcionar com recurso a máquinas a vapor — “nas fotografias que temos dos primeiros anos são perfeitamente visíveis as chaminés por onde saía o vapor [no alto da torre]”, conta Susana Fonseca — mas o sistema foi electrificado logo em 1907 e os motores então instalados ainda o fazem mover hoje em dia. É por isso que, curiosamente, os pequenos painéis pendurados no interior das duas cabines (que funcionam independentemente uma da outra, ao contrário dos três ascensores) indicam que podem subir 20 pessoas, mas só podem descer 15. “Toda a gente pergunta porquê”, sorri o ascensorista. “Na descida, além do motor pô-lo a funcionar, o sistema tem de ir ‘a travar’ o elevador, por assim dizer, por isso vão menos pessoas, para que o peso não seja tanto e esse esforço seja menor.”

É, no entanto, o rendilhado exterior da torre cinzenta que faz do elevador um dos ícones turísticos da cidade. “É a arquitectura do ferro, típica da época, e em estilo neo-gótico para não brigar com as ruínas do Convento do Carmo”, indica Susana Fonseca. “Cada um dos seis patamares tem uma decoração diferente e num deles um dos motivos é a flor-de-lis, símbolo de França”, “um pormenor onde se nota a ascendência francesa do engenheiro Ponsard”. Contudo, diz, há que “tirar da cabeça de uma vez por todas a ideia de que o Elevador de Santa Justa foi construída pelo Eiffel”. Raoul Ponsard era português, “nascido no Porto em 1848”, lê-se numa das placas informativas do ascensor, no cimo do primeiro patamar da escadaria da Rua de Santa Justa.

Apesar de “não existirem provas” de uma influência directa ou de “sequer se terem conhecido”, é uma ideia difícil de vencer, perpetuada por guias turísticos e pela comparação fácil entre os dois monumentos. Charlotte veio de férias a Lisboa com o namorado, a mãe e a avó, e o grupo é o primeiro do dia a subir as escadas de caracol apertado até ao miradouro. É o último dia na cidade e decidiram vir visitar o elevador precisamente porque leram “no guia que era inspirado na Torre Eiffel e no trabalho dele”. “Como sou de Pais acho isso maravilhoso. É um orgulho”, conta a turista francesa, embora confesse não ter achado “muito parecido”.

Mais tarde, outra turista francesa faz-nos a mesma comparação sem que, mais uma vez, tenhamos puxado o assunto. “A sensação que tive foi muito semelhante à da Torre Eiffel, com a subida na cabine toda em madeira, como era antigamente [no monumento parisiense], e a decoração exterior em metal”, descreve Valérie. No entanto, para as duas turistas, o melhor da experiência foi o miradouro. “A vista é linda, soberba. Consegue-se ver o traçado das ruas construídas depois do terramoto de 1755, é muito interessante”, diz Charlotte, seguindo com o dedo a Rua Augusta e o quadriculado daquela zona da Baixa Pombalina. “É magnífico porque se consegue ver toda a cidade à volta e espreitar lá para baixo. Para mim foi um pouco difícil subir porque tenho vertigens, mas valeu a pena”, conta Valérie.

Voltamos ao miradouro, que até há alguns anos tinha um café-esplanada. Actualmente, está completamente despido e assim deverá ficar, garante Martins Marques. Um miradouro puro e simples, sem distracções que nos façam desviar o olhar daquela panorâmica de 360º sobre Lisboa: aqui as ruínas sobranceiras do Convento do Carmo (agora com a área envolvente reabilitada e um novo miradouro com esplanada ali em baixo), o Parque Eduardo VII lá ao fundo, a Praça D. Pedro IV e o Teatro D. Maria II, os prédios de telhado vermelho e águas-furtadas da baixa alfacinha, as colinas da Graça e do Castelo altaneiro, a Sé de Lisboa e o Tejo. M.G.

 

Rua de Santa Justa e Travessa D. Pedro de Menezes (Largo do Carmo), Lisboa

Tel.: 21 350 01 15 (Centro de Atendimento Transportes de Lisboa)

carris.transporteslisboa.pt/pt/ascensores-e-elevador

Horários: todos os dias das 7h às 22h, encerrando uma hora mais tarde nos meses de Verão (de Junho a Setembro). O miradouro está aberto diariamente das 8h30 às 20h30, excepto durante períodos de chuva.

Preços: o bilhete adquirido a bordo custa 5€, sendo válido para duas viagens e incluindo acesso ao miradouro. São ainda válidos os cartões Lisboa Viva, 7Colinas ou Viva Viagem carregados com títulos da Carris (sem acesso gratuito ao miradouro) e bilhetes dos circuitos Yellow Bus ou Lisboa Card. O acesso apenas ao miradouro custa 1,50€.

 

Elevador do Bom Jesus
Braga

O primeiro encontro é inesperado. Junto ao Hotel do Parque, uma inusitada multidão aglomera-se em torno de um pátio cercado por barreiras: no centro o autocarro, bem vermelho, da selecção de Portugal. A equipa nacional de futebol está prestes a sair para um treino no estádio do Braga (onde no dia seguinte venceria a Dinamarca) e ninguém quer arredar pé sem antes conseguir falar ou pelo menos fotografar alguns dos ídolos (o maior, Cristiano Ronaldo, faz-se esperar: é o último a sair). O aparato é tanto que um casal estrangeiro que passa interroga: “Is there anything important going on?” A explicação suscita um sorriso e um quase imperceptível encolher de ombros: seguem o caminho, descendo até à esplanada principal do Bom Jesus de Braga, aquela que se abre, em dois andares, diante da igreja, e oferece uma vista impressionante sobre a cidade que cresceu desmesuradamente na última década e meia. Estamos no centro do santuário do Bom Jesus – sim, rapidamente seguimos o caminho dos turistas –, o monte sacro que é candidato a Património Mundial da UNESCO. No âmbito dessa candidatura não fica de fora o Elevador do Bom Jesus, que aqui nos traz, como faz questão de sublinhar o mesário da Confraria do Bom Jesus, Varico Pereira.

Não conseguimos sequer começar a imaginar como seria a vista daqui em 1882, quando Manuel Joaquim Gomes inaugurou o Elevador do Bom Jesus, na altura Plano Funicular Gomes. Não como um capricho solitário, mas como parte integrante do sistema de transportes de Braga. Um visão ousada, porque neste canto de Portugal construiu o segundo ascensor do mundo — o primeiro, na Suíça, serviu-lhe de inspiração e dele veio o engenheiro que haveria de fazer escola em Portugal: se houve elevador da Glória e da Bica, por exemplo, foi porque de Braga Manuel Joaquim Gomes seguiu para Lisboa, também aí assumindo um papel-chave no sistema de transportes públicos da cidade.

Mas estamos no Bom Jesus, a elevação charneira sobre Braga que Manuel Joaquim Gomes começou a subir e a descer duas vezes ao dia aos nove anos, a caminho (e no regresso) do seu trabalho numa loja de tecidos da cidade. Subiu a pulso, este homem que teve também a sorte das circunstâncias, nota José Carlos Gonçalves Peixoto, co-autor do livro Ascensor do Bom Jesus de Braga, e nosso cicerone. A família da sua mulher (tia da pintora Vieira da Silva) há muito que estava envolvida no mundo dos transportes, “o futuro”, e quando a ideia do ascensor começou a germinar a verdade é que Manuel Joaquim Gomes já era o sócio maioritário da empresa que geria os transportes em Braga. Com a herança da mulher, ou seja, com financiamento próprio (e com um contrato com a confraria: esta cedia o terreno e passados 80 anos a exploração passaria para as suas mãos — entretanto receberia parte dos lucros; Manuel Joaquim também passaria a gerir parte dos hotéis) abalançou-se no seu projecto mais ambicioso, unir o sopé ao topo do Bom Jesus, na altura, século XIX, o mais importante centro de peregrinações em Portugal.

Perdeu esse estatuto no século XX, mas continua a ser um dos mais importantes (para alguns, o mais importante) monte sacro do mundo – na impossibilidade de se deslocarem a Jerusalém, os cristãos têm nestes locais uma “iniciação”, uma “Jerusalém Restaurada”, lê-se na zona do pórtico. À parte religiosa, alia a monumentalidade, a natureza (luxuriante), o recreio e a hotelaria — “nenhum dos que em Itália conseguiram a classificação da UNESCO reúne todos estes aspectos”, sublinha José Carlos Peixoto. E um dos melhores locais para apreender toda a majestade do Bom Jesus é o seu escadório, em três níveis (quase uma escada para o céu, com patamares, pátios, esculturas, fontes e as capelas da Paixão de Cristo), e, uma vez lá no topo, o Terreiro de Moisés (ou “do pelicano”, figura que ornamenta uma cascata), o penúltimo troço antes do adro da igreja. É nesta zona que o movimento se concentra e neste dia soalheiro não são poucos os que por aqui caminham e tiram fotos. No sopé, quando descermos pelo ascensor, veremos autocarros de turismo, mas há muitos bracarenses também: este é um dos seus refúgios preferidos, “se não chove ou faz vento”, ressalva José Carlos Peixoto.

Há 133 anos, então, o Bom Jesus já era um centro religioso e de lazer (estas duas componentes há muito que se abraçaram) e o potencial turístico era imenso, terá pensado Manuel Joaquim Gomes. Daí que havia que conseguir uma maneira mais fácil de vencer a inclinação do terreno — naquelas alturas, as subidas faziam-se em carroças ou carros de bois, que levavam gente e bagagens para os hotéis. Para aumentar o número de turistas, burgueses (“os que não podiam pagar vieram sempre” — cumprindo a “via sacra”), o exemplo suíço veio a calhar. E, mais, tornou-se peça numa engrenagem que funcionava perfeitamente: os visitantes chegavam de comboio, aí tinham o chamado “americano” (o antecessor do eléctrico no transporte colectivo de passageiros: também se movia sobre carris, mas com tracção animal) que os levava ao elevador — um sistema de transportes combinado perfeito que encontrou bastantes resistências na conservadora Braga, onde houve boicotes à “linha americana”, com os carris pejados de pedregulhos, por exemplo, e ao próprio promotor (fala-se em cartazes com a sua foto e facas espetadas).

Nada disso demoveu Manuel Joaquim — nem isso nem a dureza do terreno, um afloramento rochoso que ainda é visível, por exemplo, no penedo onde se ergue a estátua do Longuinho. E é ao lado que chega e parte o elevador, que vence um desnível de 116 metros em 267 metros de trepidação, entre vegetação densa e uma frescura doce, constituído por duas cabinas sobre carris, preservado em todos os pormenores da sua traça original — do exterior branco e cor de ovo com tectos vermelhos aos bancos de madeira interiores. As duas cabinas servem de contrapeso uma à outra, ligadas que estão por um cabo, tendo como força motriz a água (é o elevador mais antigo do mundo a usar o contrapeso de água), abundante no Bom Jesus (15 minas e um lago). De acordo com o número de passageiros, enchem-se os depósitos de água de cada cabina — há um código de toques ainda utilizado para saber que quantidade de água se necessita: por cada cinco pessoas um toque, que equivale a “cinco águas”; quem recebe a mensagem repete-a para assegurar que a percebeu, explica-nos Sebastião, a trabalhar aqui desde 1975, desde a altura em que os eléctricos aqui chegavam, à base do Bom Jesus, e os muros estavam encobertos pelos bancos vermelhos onde as pessoas esperavam. E nunca houve um acidente, asseguram-nos. Ainda que na inauguração muitos tenham tido receio de experimentar a maravilha tecnológica: tanto assim foi que o promotor e o engenheiro Ponsard, responsável pela construção do projecto do suíço Riggenback, tomaram a iniciativa e sozinhos fizeram a primeira viagem, travando a 30 metros para demonstrar a segurança do equipamento que tem vários sistemas de travão, um dos quais cremalheira.

Se aquando da sua construção o Elevador do Bom Jesus foi uma necessidade, agora é uma mais-valia, considera José Carlos Peixoto. Mais-valia turística, ecológica, histórica. “Permanece um transporte actual, seguro, ecológico, panorâmico. É um monumento que deve ser preservado em toda a sua originalidade.” E continua ligado ao sistema de transportes da cidade de Braga — os autocarros chegam a cada meia-hora. Andreia Marques Pereira

 

Estrada do Bom Jesus

4715-261 Tenões, Braga

Tel.: 253 676 636

www.estanciadobomjesus.com

Horário: Todos os dias das 9h às 19h.

Preços: Ida 1,20€; ida e volta 2€

 

Funicular de Santa
Luzia, Viana do Castelo

Só mesmo tendo-nos enganado e passado sob um dos túneis de Viana do Castelo pudemos deixar escapar a entrada para a Funicular de Santa Luzia. Estacionado o carro, o que não é tarefa fácil nesta entrada bem no centro da cidade, o edifício é incontornável, como um soluço neo-romântico (poderia perfeitamente estar numa estação termal do início de 1900), branco com coluna de onde se desenham arcos graníticos, cúpulas e a inscrição: Elevador de Santa Luzia. Quando passou de elevador a funicular, não sabemos; passamos os portões de ferro para um interior coberto a azulejos dispostos acima de um lambril escuro e vemos “estacionada” uma das duas carruagens que sobe e desce o monte. Está vazia à espera de viajantes mas nós somos os únicos que esperam. “Já passaram 111 passageiros”, afirma o funcionário, deitando os olhos às suas folhas de serviço; algumas excursões, basicamente  Passa pouco das 11h, é um dia de semana em pleno Outubro, não nos parece um mau balanço. “Depois do São Martinho e até Fevereiro é a altura mais parada”, explica. No entanto, subimos sozinhos na carruagem amarela, novíssima, moderníssima (apesar de um vidro estilhaçado). Sim, talvez não o esperássemos.

Não é grande, a carruagem — 12 lugares sentados, mais 13 em pé (e possibilidade de transportar cadeiras de rodas, carrinhos de rodas e até bicicletas) — e parece que estamos numa qualquer carruagem de metro, salvas as distâncias de tamanho (dizem-nos, da Câmara Municipal de Viana do Castelo, que é o mais moderno de Portugal). Olhos no caminho, por enquanto no que se ergue diante nós: o desnível é de 160 metros (o maior do país), com uma inclinação média de 25%. Os primeiros metros são feitos entre prédios e casario, passamos sob duas pontes e parece que é só floresta à nossa volta — é, pelo menos, dominante a vegetação coroada pelo topo do Santuário de Santa Luzia, uma imagem com reminiscências românticas. Olhando em sentido contrário ao nosso movimento, para baixo, portanto, é a cidade que se começa a agigantar à medida que subimos: o centro histórico alvo, o rio Lima, o porto. A meio do percurso, um “cruzamento” obrigatório, já que há uma linha única e as carruagens funcionam em contrapeso, o que significa que a que desce ajuda a puxar a que sobe. De resto, o funcionamento é automático, movido a energia eléctrica, com operador – e aqui ficam alguns dados técnicos: é o funicular mais seguro do país, com um processo de energia de socorro com motor diesel para o movimento e baterias para os sistemas eléctricos, possuindo um sistema de travagem no grupo motriz (normal – eléctrico –, de serviço e de emergência – hidráulico) e um sistema de travagem nos veículos (dois freios de via hidráulicos).

Cerca de 650 metros e sete minutos depois do início, a nossa viagem termina. A desaceleração é evidente nos derradeiros metros, vista para uma antiga carruagem, esbranquiçada, abandonada ao lado da estação: se a velocidade nominal é de dois metros por segundo, e nunca a parecemos ter alcançado, aqui a diferença é tal que o ruído do funcionamento da carruagem se transforma em silêncio total. A sala da estação do funicular aqui é maior e mais como uma sala de espera, com filas de cadeiras modernas e a cabina do cobrador: funcionou aqui uma loja de souvenirs e de exposições da última concessionária do funicular antes de este ter passado para o domínio da autarquia, deixando de estar sob a alçada da Refer.

Deixando a estação com a sua fachada de azulejos verdes para trás, o que se ergue diante de nós é o santuário de Santa Luzia, volume imponente na forma, na decoração, no alcance da sua vista, qual farol em terra de marinheiros — ainda que já não se ouçam as marteladas no estaleiro naval, como nota tristemente Sérgio, um dos fotógrafos à la minute de serviço no ex-líbris de Viana; se se ouvissem, ele estaria ali, aponta, “a construir barcos”, naquele que foi o seu local de trabalho durante 35 anos. “Nunca pensei vir para aqui tirar fotos.” Veio há um ano, substituir o sogro; a única concorrência é o seu tio, que há 69 anos faz deste miradouro o seu escritório. Estão cada um do seu lado da escadaria final, abrigados por monumentais colunas que as flanqueiam — foi projectada apenas uma, como “base” para uma estátua ao Sagrado Coração de Jesus, no entanto esta revelou-se ineficaz para o efeito — e em breve hão-de servir de mesa e cadeira a uma visita escolar. E, claro, Sérgio vai ser mais fotografado do que fotografa, como já havia dito. São mais os portugueses e os brasileiros que querem as suas fotos, alguns espanhóis também, chineses é que de maneira alguma. A maioria dos visitantes chega em excursões, carrinhas de nove pessoas, muitas, “vê-se que vêm do Porto fazer visitas de um dia”. Não sabemos se Betty Faria ou Glória Pires, algumas das celebridades fotografadas pela sua máquina, chegaram de funicular, mas ele lembra-se de este ser “muito antiguinho”. “A outra empresa deixou-o deteriorar-se, a câmara pegou e está muito melhor.”

Reaberto ao público em 2007, o Funicular de Santa Luzia passou por várias modernizações desde que foi inaugurado em 1923, projecto do engenheiro portuense Bernardo Pinto Abrunhosa no contexto do final de uma era: a da construção das grandes infraestruturas em Portugal e, particularmente, no concelho. E, curiosamente, na altura da sua conclusão, o Templo-Monumento de Santa Luzia ainda estava ainda longe de terminado: na verdade, até ainda existia a capelinha original de Santa Luzia, que só seria derrubada em 1926, motivo de peregrinações várias dos vianenses. O santuário, esse, foi concluído em 1959 (1943 no exterior), 55 anos depois de lançada a primeira pedra.

Actualmente, santuário e funicular são indestrinçáveis de Viana do Castelo, atracção turística, ainda que não andem de mãos dadas com o número de visitantes — muitos preferem chegar de carro ao parque onde há restaurante, bar, lojas de souvenirs, a antiga citânia e, mais acima, a pousada. No entanto, em oito anos, o funicular recebeu 696.734 passageiros, parecendo dar razão a quem defendia a necessidade de um modo de mobilidade sustentável a ligar a “baixa” e a “alta” de Viana.

Se subimos sozinhos, descemos na companhia de três alemães, poucas conversas. Lá em cima, um casal espanhol conta que viu a via do funicular “mas parecia do tempo do carvão”, por isso subiu de carro a Santa Luzia, promessa que haviam feito desde a primeira vez que vieram a Viana do Castelo, quando a sua agência bancária se transferiu de Valença para aqui. A vista, dizem, é “incredible” e o santuário “precioso” — na verdade, de um eclectismo bem ao gosto da época, com uma base bizantina na planta e na cúpula que coroa o edifício, torres românicas, rosáceas góticas. O resultado, já se sabe, não é tão antigo quanto muitos pensam; ao contrário do funicular, cuja nova roupagem lhe assegura toda a modernidade possível. A.M.P.

 

Av. 25 Abril

Viana do Castelo

Tel.: 961 773 164

E-mail: funicular.viana@liftech.pt

Horário:

Janeiro, Fevereiro, Novembro e Dezembro: De terça a sexta-feira, das 10h às 12h e das 13h às 17h; sábado e domingo das 10h às 17h; encerra às segundas.

Março, Abril, Maio e Outubro: De segunda a sexta-feira, das 10h às 12h e das 13h às 17h; sábado e domingo das 9h às 18h.

Junho, Julho, Agosto e Setembro: Todos os dias, das 9h às 20h.

Preços: 3€ ida e volta; 2€ ida.

 

Funicular dos Guindais
Porto

Ainda não são 10h, o sol está a fazer-se esquisito e quase não aparece, e Greta está sentada sozinha no Funicular dos Guindais, no Porto. Tem auscultadores nos ouvidos e um livro pequeno pousado nos joelhos, de onde não levanta os olhos. Percebe-se que é estrangeira, mas o desprendimento com que encara os primeiros movimentos do funicular, quando ele começa a descer da Rua de Augusto Rosa em direcção à de Gustavo Eiffel, indicam que esta não é a sua primeira viagem. Será que vai resistir a não levantar os olhos, assim que o primeiro troço, em túnel, se transformar em vista aberta sobre o rio Douro?

Não resiste. Mal a luz inunda a cabine envidraçada, ela fecha o livro e levanta os olhos. À direita, corre a muralha fernandina, aparece já a Ponte Luiz I, vê-se depois o rio, quando o ângulo de descida se acentua, e esta só não se torna vertiginosa porque o funicular anda demasiado devagar. À esquerda, enquanto Greta encerra os olhos voltados para a luz do sol, que finalmente se digna a aparecer, está o Porto ainda por reparar, as casas vazias e a cair que já foram a habitação de alguém mas que hoje são apenas escombros.

A viagem não dura mais de três minutos e Greta não tem muito tempo a perder. É polaca, vive no Porto desde Maio e, de facto, não é turista. Vai trabalhar para Gaia, na outra margem, tem uma assinatura Andante e usa o funicular como transporte público. Alguém lhe disse que esta era a forma mais prática de chegar à parte baixa da cidade e que, com o funicular a parar mesmo aos pés da ponte, chegar à outra margem do Douro era uma brincadeira. “Faço isto todos os dias para ir trabalhar e gosto muito. É uma vista muito bonita a caminho do emprego”, diz, sorridente, em português, antes de se afastar, apressada, pela rua fora.

O funicular não vai tardar muito a fazer mais um trajecto. A cabine, com capacidade para 25 pessoas, anda pouco cheia nesta manhã de Outono. É provável que daqui a algumas horas já não seja bem assim, porque os turistas continuam a encher as ruas do Porto e o funicular é, sobretudo, procurado por turistas. Até porque, a menos que se tenha uma assinatura Andante, os preços para uma viagem de 281 metros e apenas três minutos têm sido classificados consistentemente como um exagero – 2,50 euros. E até os turistas se queixam.

Como Ronald Zellin, um alemão que ocupa um dos bancos do funicular quando ele inicia o trajecto da Rua de Gustavo Eiffel em direcção à Batalha. “É muito caro. Devia funcionar como transporte público e estar incluído no bilhete Andante”, diz, retirando o cartão de viagem azul do bolso da camisa. O preço não o deixa com um ar muito satisfeito e quase não repara na vista, ao contrário de Thomas Böhlan, que o acompanha, e que diz que quis fazer a viagem “pela vista e por causa da tecnologia”, enquanto vai deitando um olhar rápido em volta.

O Funicular dos Guindais actual foi inaugurado a 19 de Fevereiro de 2004, seguindo um projecto do arquitecto Adalberto Dias. Criado no âmbito da Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura, está instalado no mesmo local onde, entre 1891 e 1893, funcionou uma outra estrutura de transporte, projectada por Raul Mesnier, e abandonada depois de um acidente, a 5 de Junho de 1893, que danificou gravemente as composições, apesar de só ter causado ferimentos ligeiros nos ocupantes.

A nova versão, gerida pela Metro do Porto, vence o mesmo desnível de 61 metros, ligando a Batalha à Ribeira, o que, associado ao preço, torna o funicular apetecível sobretudo para turistas. A vista vale bem a pena, mas a viagem é tão curta que, se não for atento, corre o risco de a perder.

Os madrilenos Fernando Palencia e Soledad Gil, que chegaram esta manhã ao Porto, estão ansiosos por revisitar a cidade que viram pela última vez no final dos anos 1980. Fazem a viagem até à parte alta absorvendo claramente a vista. “Gostei muito da viagem, foi muito bom”, diz Soledad, no final, apesar de reconhecer que o bilhete “é caro, pelo tempo que dura”. Assim que deixam a composição com uma única cabine, tratam de procurar o próximo objectivo de viagem. “Queremos ir à livraria”, diz ela, referindo-se à Lello. Tinha pensado em apanhar um transporte, porque se há coisa de que se lembra do Porto é das subidas e descidas, vai dizendo, a rir. Mas quando lhe apontam a Torre dos Clérigos, ali do topo da Rua 31 de Janeiro, encolhe os ombros e diz que sempre dá para ir a pé. Fernando acompanha-a, com a máquina fotográfica pronta. Provavelmente, não voltam ao funicular. Patrícia Carvalho

 

Rua de Augusto Rosa/Rua de Gustavo Eiffel

Porto - Tel.: 808 20 50 60
(Linha Olá Metro!)

www.metrodoporto.pt

Horário: Até ao final de Outubro, de domingo a quarta-feira das 8h às 22h e de quinta a sábado das 8h à meia-noite. De Novembro a Abril, todos os dias das 8h às 20h. Em Agosto, todos os dias das 8h à meia-noite.

Preços: 2,50 € por trajecto. É possível circular no funicular com uma assinatura mensal Andante, desde que inclua a zona C1.

 

Elevador da Nazaré
Nazaré

“Lá em baixo a sensação é de que é tudo muito apertado, mas depois, à medida que subimos abre-se toda uma paisagem! A sensação é enorme. Alucinante!”. Laura Martin, do País Basco, descreve assim a viagem de três minutos no elevador da Nazaré, na companhia do namorado, Asier Heneso.

Ambos vieram de Vitória e estão pela primeira vez na vila turística. A viagem no elevador faz parte do roteiro dos visitantes da Nazaré. É a forma mais óbvia de subir até ao Sítio, até mesmo para quem tem carro, já que não terá sido fácil estacioná-lo na vila. De resto, a melhor publicidade ao elevador é ele próprio: avista-se ao longe de qualquer ponto da Nazaré. O corredor com os carris em linha recta, quase na vertical, a romper a rocha até à arriba, dá nas vistas. E mais ainda quando, periodicamente, o visitante vê o lento rodar dos dois veículos que se cruzam exactamente a meio.

“A rampa é mais inclinada do que parece. Vista lá de baixo parece mais suave, mas agora cá de cima impõe respeito!” Asier Heneso espreita pelo túnel no qual termina, no Sítio, a subida de 320 metros feita no elevador. O grau de inclinação da rampa é de 42%. Um bocadinho assustador, mas o “condutor” do veículo nunca testemunhou momentos de pânico ou gente descontrolada com a vertigem. Pelo contrário, só exclamações de espanto, de admiração, de autêntico deslumbramento pela paisagem.

Por isso, nos minutos que antecedem cada partida, sente-se no ambiente da carruagem a excitação dos turistas pela experiência prestes a começar. Uma expectativa que contrasta com a postura rotineira dos nazarenos que apanham o elevador como se fosse um autocarro urbano.

É o caso de Vasco Pacheco, 24 anos. Vive no Sítio e trabalha num dos restaurantes do centro da vila. O passe mensal (12 euros) permite-lhe ir e vir para o trabalho todos os dias e ainda voltar a descer e a subir se quiser sair ao fim da tarde ou à noite. “É um meio de transporte”, diz. Do qual nunca recorda que tenha havido problemas ou atrasos. O entusiasmo dos turistas, as máquinas fotográficas e telemóveis a registar todo o percurso passam-lhe ao lado. No Verão são autênticas enchentes de forasteiros, mas no Inverno a maioria são locais. Vasco repara que a maioria desses clientes fixos são idosos. A malta nova tem carro ou então usa as escadas, que as há, em ziguezague, para descer — mais do que para subir — o enorme penhasco que separa o Sítio da Nazaré.

O toque de partida é anunciado por uma campainha. São 15h30 e o carro número 1 inicia mais uma subida. Sai-se da estação e avistam-se os telhados vermelhos das casas. E depois mais casas e mais telhados até que se descobre a praia, o mar, a avenida marginal, a Nazaré inteira, o porto lá ao fundo, a serra da Pesqueira, a praia do Salgado... Um regalo para a vista. Suavemente, o veículo guina para a esquerda no preciso momento em que se cruza com o outro carro descendente. Há sorrisos cúmplices e acenos que se trocam entre desconhecidos das duas carruagens. Gente que está de férias, relaxada, em viagem.

Depois entra-se subitamente num pequeno túnel que dá acesso à estação do Sítio. A paisagem encolhe demasiado rápido e à volta são só paredes. Em frente, lá em baixo, apenas os carris e um pedaço da Nazaré, como se fosse vista através de um canudo gigante.

“Já viemos várias vezes à Nazaré, mas andamos sempre no elevador. Desta vez trouxemos o nosso filho.” Christophe da Silva viaja com a mulher e o filho, de cinco anos. A peregrinação ao Sítio é quase obrigatória de cada vez que visitam a vila. “É divertido! Somos de Grenoble, que é uma zona montanhosa e lá também há funiculares, mas este é diferente.”

No elevador nazareno os cães são agora obrigados a viajar em gaiolas de plástico. Mas não pagam bilhete. As bicicletas também são gratuitas. Élsio Louraço, da Nazaré, acaba de sair do ascensor com uma. Vive no Sítio e quando desce à vila leva a bicicleta para se deslocar. Cá em cima, usa-a também para ir para casa, que fica ainda distante da estação. “É um transporte urbano como outro qualquer”, diz.

Um transporte que no Verão chega a ter filas com dezenas de metros de turistas à espera de o apanhar. Nestas alturas, os locais, sobretudo os mais novos, desistem do elevador e preferem ir pelas escadas.

Construído em 1889, o famoso ascensor da Nazaré funcionou com máquina a vapor até aos anos sessenta. Já na altura este sistema funcionava como um pêndulo: um único cabo com dois veículos na ponta e um motor que move uma roda gigante que quando puxa um, deixa descair o outro. Esta é a versão simplista para explicar o seu funcionamento. A mais complexa inclui tecnologia e equipamentos com várias redundâncias que dão segurança ao seu funcionamento.

Um acidente em 1963 levou ao seu encerramento por cinco anos, para reabrir com motor eléctrico e equipado com a melhor tecnologia da época. Uma tecnologia que ainda perdura, apesar dos vários upgrades a que tem sido sujeita.

A mais importante melhoria foi em 2002, com a remodelação dos veículos que passaram a ter ar condicionado e um ar mais condizente com o século XXI. Mas o chassis ainda é o mesmo e a Câmara da Nazaré — que explora este equipamento através dos seus serviços municipalizados — quer agora comprar carruagens novas. A novidade é que, apesar de novas, deverão ter um exterior revivalista, à anos sessenta, para perpetuar a imagem da marca com que o elevador da Nazaré ficou conhecido desde o boom do turismo.

O município pretende ainda fazer obras na plataforma para controlar os pequenos aluimentos (o terreno é arenoso em grande parte do percurso) e quer também que o posto de comando, o “cérebro” desta infraestrutura, seja dotado com novas tecnologias que substituam as que ainda perduram dos anos 1960.

Carlos Cipriano

 

Serviços

Municipalizados da Nazaré

Tel.: 262 562 118

Horário: das 7h30 às 20h30 (Inverno) e das 7h15 às 2h (Verão)

Preços: 1,20€ ida e 2,40€ ida e volta.

--%>