Fugas - Viagens

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  • Miguel Madeira
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De Lorosae a Loromunu, Timor é um espanto

Sim, as montanhas não parecem verdadeiras, ao longe, só que nada é tão real em Timor-Leste como a montanha, mesmo quando parece irreal. Mas isso iríamos descobrir depois, por enquanto descíamos até Hera, para depois atravessar Metinaro e seguir para Manatuto, parar o carro para entrar no mar, porque sim, porque está mesmo ali, imenso e ostensivo com os corais à mostra, e continuar caminho com a roupa molhada, chegar a Vemasse com a roupa quase seca e entrar no distrito de Baucau. Nós e as coloridas “biscotas” (o transporte público que circula entre distritos), baptizadas com nomes como “Que Pena”, ou “John Rambo”, atulhadas de gente e de todo o tipo de carga, que pode incluir colchões ou veículos motorizados presos nas traseiras e cabras presas no tejadilho.

A primeira coisa que salta à vista é o verde, ou melhor, os diferentes tons de verde das árvores. Estávamos particularmente interessados nas árvores, por causa da acácia rubra -  provavelmente a árvore mais bonita do mundo -, mas o verde impunha-se. A segunda coisa, já no centro da cidade, na parte velha, é a pousada. Um belíssimo edifício construído pelos portugueses nos anos 1950 que se ergue sobranceiro na colina, como se quisesse lembrar a todos a beleza da civilização.

O mesmo não se pode dizer em relação ao antigo mercado, que espreitamos pelo portão fechado a caminho do Amália, um restaurante que se diz de comida portuguesa, que serve bacalhau à Brás, por exemplo, e onde se pode pedir uma garrafa de vinho tinto (fora de Díli são raros os sítios onde se pode comprar vinho), mas também uma água sal (uma espécie de sopa de peixe) maravilhosa. O peixe coco da sopa tinha sido pescado nesse dia por um dos clientes do restaurante, que estava a almoçar ao nosso lado e nos explicou que faz pesca submarina.

Como a congestão não nos preocupa, decidimos ir dar um mergulho de seguida. Já tínhamos ouvido falar das praias de Baucau, de como eram bonitas e perigosas, por causa dos crocodilos, que costumam dar o ar da sua graça por estas bandas, mas não tínhamos como imaginar que seriam tão...selvagens. Uma pessoa desce quase a pique até à praia (mal sabíamos as descidas a pique que ainda teríamos pela frente), conduz o jipe paralelamente ao mar, pelo meio dos campos, onde pastam cabras, pára e de repente parece que acabou de chegar a uma ilha onde ninguém pousou os pés antes de nós. Digamos que as cabras poderiam ser uma falha de raccord e o facto de chegarmos a uma ilha de carro, e não de barco, também.

E a referência cinematográfica não está aqui por acaso, é tudo demasiado fotogénico para ser real, a areia branca, a água azul e a praia deserta. Isto para não falar da temperatura da água e da sensação de mergulhar num mar tão limpo, que são coisas que não cabem nas películas.

Estávamos nisto, fascinados com tanta beleza natural, e ainda não tínhamos chegado ao pequeno ilhéu de Jaco, considerada por muitos um paraíso na Terra.

Jaco não é deste mundo

As quase duas horas desde Baucau até à pitoresca Com, que é onde termina a estrada, são muito diferentes das duas horas e tal de viagem de Díli a Baucau: as estradas estão em pior estado, ainda que bastante transitáveis, o relevo é maioritariamente plano e o tráfego diminui consideravelmente. O que faz com que, por sua vez, aumente o número de cabras, porcos, galinha e caraus (uns bois que parecem búfalos) nas faixas de rodagem.

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