Fugas - Viagens

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A ilha que é bipolar quer ser ainda mais verde

Gotland conheceu então, já no século XIX, um tempo de prosperidade. Como muitos anos antes, entre os séculos XII e XIV, quando Visby detinha o estatuto de principal centro da Liga Hanseática no Báltico.

As ruas da cidade permancem calmas a esta hora.

Faço uma pausa num lugar chamado Gailroten, que no dialecto local se pode traduzir por desperdícios de peixe. Era aqui que viviam os pescadores e na designação está implicíto o odor que se insinuava pelos becos e as vielas da velha Visby. Desvio o olhar ligeiramente para a direita e avisto a Fiskargränd, uma das artérias mais populares da capital da Gotland, por onde se passeavam Pippi, Tommy e Annika antes de flanquearem a porta da loja de doces numa das cenas de Pipi das Meias Altas, uma obra literária da escritora sueca Astrid Lindgren e mais tarde imortalizada também na televisão.

Por vezes, num lugar solitário e com um silêncio de ouro, numa dessas ruas escandalosamente estreitas e com as fachadas das casas parcialmente cobertas de flores, tenho pretensões a imaginar o passado de Visby, com o seu papel dominante no século XII. Todas as rotas comerciais do Báltico passavam pela cidade, motivando o interesse de mercadores alemães, logo seguidos por russos e dinamarqueses. Visby conhecia agora uma época de esplendor, com a construção de muralhas, de duas centenas de armazéns e de ricas moradias mandadas levantar pelos comerciantes. Já não sobrava um metro no centro, a construção, de casas e igrejas, estendeu-se à área circundante e, definitivamente, Visby assinava o divórcio face ao interior rural da ilha.

Regresso à Strandgatan, até à esquina com a Lybska Gränd, ao encontro da Gamla Apoteket, uma antiga farmácia do século XIII, e não demoro mais do que uns minutos até transpôr um arco que me conduz aos jardins botânicos, criados em meados do séculos XIX por uma empresa formada por elementos que costumavam tomar banho juntos, com a particularidade de terem elaborado uma lista de multas para os seus membros, penalizando atrasos, todos aqueles que falassem de mais ou simplesmente dissessem algo de errrado.

Caminhando na diagonal, fixo a minha atenção numa ruína que consagrava Sankt Olof, na única torre que não é mais do que o derradeiro vestígio do que em tempos foi uma igreja magnificente e um lugar que atrai hoje mais casais de namorados do que devotos ao santo. Aqui e acolá, ao longo da muralha, surge uma ou outra torre que atesta o passado glorioso da cidade, subo aquela que é conhecida por Silver Bonnet, com o seu telhado prateado e com uma panorâmica sobre Visby e o mar ao fundo, como um tapete azul.

A ilha de todas as igrejas

Sem recorrer a um mapa, permito que a história, como um rio, desague em frente dos meus olhos, com tempo para admirar a igreja católica romana (onde em 2000, durante as obras de extensão, foi descoberto um poço que actualmente serve de pia baptismal) por entre mais uma ruína imponente e, continuando ao longo da Sankt Hansgatan, descubro o que resta de mais duas igrejas votadas ao esquecimento na sequência da reforma protestante, mais tarde transformadas em armazéns ou mesmo em estábulos.

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