Fugas - Vinhos

Adriano Miranda (arquivo)

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O drama do vinho do Porto e do Douro

Se houvesse racionalidade económica no negócio, a redução poderia conduzir a uma subida dos preços das uvas e do vinho. Mas não é de esperar que isso aconteça.

Alguns dos importantes operadores entraram numa política suicida, só para ganhar quota de mercado aos seus concorrentes. Têm vindo a baixar sucessivamente os preços no consumidor final e a pagar menos aos lavradores, arrastando, assim, o sector para o abismo. E as dificuldades de acesso ao crédito dificilmente permitirão aumentos de preços.

Produzir menos 25 mil pipas de vinho do Porto pode, pois, ter consequências devastadoras para o Douro. Castigar uma região já em crise com uma redução de 22,5 por cento no seu principal rendimento, em paralelo com a austeridade imposta pelo pedido de ajuda externa do país, é dramático e quase imoral. Além de uma perda imediata de rendimento, a região passa a ter mais 25 mil pipas para vinho DOC, que já é excedentário no Douro. Ora, se em 2010 já houve empresas a pagar menos de 20 cêntimos por cada quilo de uvas (valor que não paga a vindima), é de esperar uma situação ainda pior este ano.

Como as coisas estão, passar de 110 mil pipas de vinho do Porto para 85 mil pipas pode fazer morrer o doente pela cura e não pela doença. A política certa era fazer um ajustamento faseado, que deveria ter começado já o ano passado. Mas ao Douro têm faltado dirigentes com visão e imunes ao pequeno interesse pessoal e partidário. E, como se não bastasse, o Estado tem vindo a estimular e a financiar novos plantios, quando a procura aconselhava uma redução substancial da área de vinha.

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