Fugas - Vinhos

O primeiro Chryseia da Quinta de Roriz

Por José Augusto Moreira

Uma prova vertical de Chryseia, vinho nascido no Douro e aplaudido internacionalmente, a propósito do lançamento do Chryseia de 2009, o primeiro a ser vinificado na "moderna adega de vinhos tranquilos" da Quinta de Roriz.

A Quinta de Roriz não é mais uma entre as muitas do Douro. É uma das mais belas e notáveis da região, com uma tradição vinícola que remonta já ao início do século XVIII. Tem, além disso, características peculiares que se transferem às uvas que ali são produzidas. Desde o início do seu engarrafamento, com a produção do ano 2000, que os vinhos Chryseia sempre contaram com uvas desta quinta. Uma ligação que seria interrompida a partir de 2007, mas logo retomada em 2009 com a aquisição da propriedade por parte da empresa Prats & Symington.

É com orgulho que apresentam o Chryseia de 2009, "o primeiro a ser vinificado na moderna adega de vinhos tranquilos da propriedade". Para o seu lançamento foi organizada uma prova vertical no restaurante Vila Joya (o restaurante do chefe Dieter Koschina, duas estrelas Michelin e considerado um dos 50 melhores restaurantes do mundo)

O Chryseia é um vinho nascido no Douro com todas as suas características, mas em busca da conjugação com a fineza e elegância dos grandes vinhos de Bordéus. Foi precisamente com esse propósito que foi criada a Prats & Symington, juntando duas das famílias históricas e cruzando experiências da produção de vinhos nas duas regiões.

Não admira, por isso, que logo com a segunda colheita, a de 2001, o Chryseia tivesse recolhido o reconhecimento da crítica internacional, tendo sido o primeiro vinho português a entrar no top 100 da prestigiada revista Wine Spectator. E logo com um invejável 19.º posto, com 94 pontos.

Além de Roriz, a empresa detém também a vizinha Quinta da Perdiz, em ambas predominando as variedades de Touriga Nacional e Touriga Franca. Ambas ficam no Cima Corgo, no concelho de São João da Pesqueira, a primeira sobre a margem esquerda do Douro e com exposição norte e a segunda na parte oposta dos mesmos montes, nas íngremes encostas voltadas para o rio Torto. 

Roriz proporciona, por isso, noites mais frescas durante o período de maturação das uvas, acentuando as propriedades aromáticas dos vinhos, enquanto os vestígios de estanho nos solos xistosos da parte mais alta da propriedade aportam um toque de mineralidade. Já no vale do Torto, o clima mais quente e seco proporciona vinhos de características mais furtadas, macias e aveludas. 

Os vinhos recebem também o contributo de uvas da Quinta da Vila Velha, propriedade e um dos membros da família Symington, sendo que, além do topo de gama Chryseia, a empresa produz também o Post Scriptum, o Prazo de Roriz DOC e ainda o Quinta de Roriz Vintage Port.

Com excepção do primeiro engarrafamento, do ano 2000, de que já não há reservas, e de 2002, ano em que houve uma espécie de dilúvio no Douro durante a época de vindima e não permitiu a qualidade exigida para o engarrafamento de Chryseia, provaram-se todas as restantes colheitas. 

2009
Ainda jovem mas já muito apetecível, evidencia uma mineralidade distinta a par de uma frescura mentolada e balsâmica. Profundo na cor púrpura, mostra taninos maduros e sedosos e um final longo com persistência de aromas. Haverá que esperar algum tempo para que se revele na plenitude. Foram engarrafadas 35 mil garrafas em finais de 2010, depois de 13 meses de estágio em cascos novos de carvalho francês de maior dimensão (400 litros) para não mascarar a elegância da fruta da Touriga Nacional.

2008
Mais concentração na cor e aromas. Um vinho onde as características típicas do Douro estão mais marcadas, com reforço da estrutura face à elegância.

2007
Evidencia a elegância e harmonia de um ano em que no período de maturação as videiras beneficiaram de noites frescas para recuperar do stress e a vindima decorreu em condições quase perfeitas. Denso na cor, com aromas muito elegantes e envolventes. Mostra já a maturidade, elegância e finesse do tempo em garrafa, mas também com frescura e juventude para crescer ainda mais. Um grande vinho.

2006
Nariz mentolado e evidências de vegetal seco. Na cor é evidente a evolução. A par de alguma elegância, na boca revela alguma carência de estrutura, a denotar um ano algo problemático.

2005
Maturidade na cor, reflectindo as características de um ano quente e seco. Evidência de aromas, com predominância dos mentolados mesclados com vegetal seco. Acidez marcante, mas à qual falta o equilíbrio dos taninos.

2004
Talvez o mais afinado, intenso e guloso de todos. Maduro e intenso na cor, soltando aromas terrosos, com sugestões de cogumelos e frutos negros como ameixas e cerejas. Os taninos enchem a boca e marcam o palato. Equilíbrio, fruta e complexidade aromática típicos (e únicos) do Douro. Longo, intenso, cheio e uma vivacidade que promete ainda muitos anos de boa evolução. Um senhor vinho do Douro.

2003
Muito fresco no nariz, deixando ainda evidentes as notas florais características da Touriga Franca. Num ano em que as uvas foram colhidas numa fase de grande maturação, já quase pacificadas, ressalta também os elevados teores de álcool.

2001
Outra das colheitas que dá melhor conta de si. Cor púrpura brilhante, aromas muito elegantes de frutos vermelhos. Atraente e harmonioso na boca, pese embora a falta de alguma complexidade das tourigas, reflexo de um lote dominado pela Tinta Roriz, e de pouco grau alcoólico.

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