Fugas - Vinhos

  • Foram provados 12 vinhos tintos
    Foram provados 12 vinhos tintos Fernando Veludo/nFactos
  • Resultados finais
    Resultados finais Fernando Veludo/nFactos
  • Com um rótulo que copia um cartaz de 1916, este Collection da Ramos-Pinto impôs-se ao painel que a FUGAS convidou
    Com um rótulo que copia um cartaz de 1916, este Collection da Ramos-Pinto impôs-se ao painel que a FUGAS convidou Fernando Veludo/nFactos
  • Prova cega
    Prova cega Fernando Veludo/nFactos
  • O painel de provadores
    O painel de provadores Fernando Veludo/nFactos

Prova cega: E o vencedor foi o Collection da Ramos Pinto

Por Manuel Carvalho

A FUGAS organizou uma prova cega de 12 vinhos tintos de todo o país situados num intervalo de preços entre os 10 e os 15 euros. Como acontece em todas as provas nestas condições, houve consensos, mas também algumas divergências. No final de uma prova renhida, ganhou um tinto do Douro.

São 11h de uma sexta-feira e quem entrasse numa sala reservada do Hotel da Música, no Porto, podia facilmente adivinhar pelos aromas que coloriam a atmosfera a natureza do acontecimento que estava prestes a começar: uma prova cega de 12 vinhos tintos nacionais. Cerca de duas horas mais tarde, o painel que deu conta do desafio de escolher o melhor dos vinhos em prova acabara as suas tarefas e o veredicto foi anunciado: ganhou um vinho do Douro, da casa Adriano Ramos Pinto, o Collection da vindima de 2012.

Ganhou por uma diferença apertada em relação ao seu concorrente mais directo, o Kompassus Reserva de 2006, um bairradino feito com Merlot e Touriga Nacional. Numa escala de zero a 100, a diferença entre o primeiro e o segundo foi de apenas de 0.42 pontos; entre o primeiro e o último foi de 22.14 pontos, o que exprime bem a latitude da opinião do painel sobre o perfil e o nível qualitativo dos vinhos em prova, mesmo que, em teoria, todos se situem na mesma gama do mercado.

Com o objectivo de fornecer pistas aos seus leitores sobre os vinhos que podem escolher para os dias de celebração que se avizinham, incluindo a ceia de Natal, a FUGAS organizou a prova cega e convidou cinco personalidades com diferentes estilos de ligação ao vinho para se juntarem a dois dos seus jornalistas.

Numa mesa rectangular, sentaram-se em frente a filas de seis copos Beatriz Machado, directora do departamento de vinhos do Hotel Yeatman, Lígia Santos, vencedora da primeira edição nacional do programa televisivo Masterchef, no Verão de 2011, e actual proprietária do Clube MasterCook, em Famalicão, Ivone Ribeiro, que há anos trabalha em várias áreas do sector do vinho que que hoje gere a sua garrafeira, a Garage Wines, em Matosinhos, Álvaro Van Zeller, enólogo com uma longa e reconhecida carreira no vinho do Porto e nos DOC Douro, Luís Costa, director de informação na RTP no Porto e colunista regular da revista Wine, que dirigiu nos seus primeiros anos, e os jornalistas Pedro Garcias e José Augusto Moreira.

A prova tinha como primeiro critério exprimir a diversidade dos vinhos portugueses, quer em termos de regiões, quer de castas, quer de estilos. Mas para focar um pouco mais a procura fixou-se como limite de preços o intervalo entre os 10 e os 15 euros que, no mercado nacional, representa uma gama média-alta na qual uma grande parte das empresas nacionais (mas nem todas, incluindo algumas das mais relevantes) tem marcas representativas.

O modelo de classificação e pontuação determinado foi o mais convencional neste género de provas: de zero a 100. Para precisar os conceitos do painel, estabeleceu-se que um vinho considerado "bom" se deveria situar entre os 80 e os 85 pontos; daqui até aos 90 pontos os vinhos deveriam ser apreciados como "muito bons". E de 90 para cima estaríamos em presença de vinhos top.

Os vinhos foram adquiridos em dois locais, a Garrafeira da Laje, em São João de Vêr, entre Espinho e Santa Maria da Feira, e na Garrafeira M. Santos, na Baixa do Porto. O Meandro, foi o vinho que se encostou mais ao limiar mais baixo do intervalo de preços – custou 10 euros, embora na maior parte dos postos de venda seja comercializado por um valor um pouco acima. E os mais caros foram o Picos do Couto Grande Escolha, 2007, um vinho do Dão, e o duriense Atalaya de 2008. O vencedor da prova está ligeiramente acima da média do intervalo. A escolha destes vinhos, além dos critérios essenciais atrás mencionados, teve igualmente por base a tentativa de se combinarem marcas facilmente disponíveis nos supermercados com outros vinhos mais raros e de circulação mais vinculada às lojas da especialidade.

A prova decorreu em duas séries (flights, na terminologia da enofilia) de seus vinhos cada. Na primeira, entrou o Atalaya, o Esporão, o Kompassus, o Casa de Santar, o Post Scriptum e o Intensus. Dois durienses, dois alentejanos, um bairradino e um Dão, portanto. Na segunda série entraram o Meandro, o Lagoalva, o Rúbrica, o Picos do Couto, o Ramos Pinto Collection e o Cortes de Cima Syrah. Ou seja, dois Douro, dois Alentejo, um Tejo e um Dão.

Como seria expectável, os provadores interpretaram de formas diferentes a valia dos vinhos em prova, ou pelo menos aplicaram de forma distinta a escala de pontuação aprovada. Pedro Garcias apenas considerou um vinho como excepcional nesta gama de preços, tantos como Lígia Santos; Álvaro Van Zeller distinguiu quatro. Luís Costa não apontou nenhum. A nota mais baixa, uns parcos 70 pontos, foi atribuída por Beatriz Machado. O Casa de Santar Reserva foi o vinho que suscitou as votações mais extremadas: obteve um 80 e um 97.

O vencedor da prova não foi, evidentemente, consensual. Foi apenas o que obteve a média ponderada mais elevada entre os seus pares. A nota mais baixa que obteve foi um 82 e a mais alta um 95. Ivone Ribeiro deixou nas suas notas elogios à "boa boca" que proporciona. Beatriz Machado notou aromas de bergamota, de frutos secos, figos e tabaco, além das notas florais que integram o DNA duriense, e, na boca, elogiou a sua boa acidez e a sensação de especiaria, embora tivesse notado um final de boca "médio". Pedro Garcias registou o seu aroma "muito fresco" e sublinhou que "a boca repete a sensação do nariz". De resto, considerou este vinho "muito bem feito", com "grande harmonia". Álvaro Van Zeller escreveu que o Ramos Pinto Collection da edição de 2010 "sem ser muito complexo é muito equilibrado".

No final da prova, discutiram-se as experiências, as dúvidas, as certezas e os resultados. E tiraram-se conclusões. A primeira é que uma prova cega é sempre uma fonte de surpresas. Por vezes, ideias feitas sobre a preferência de castas ou de regiões é contrariada, ou ao menos abalada, pelos resultados concretos da prova cega.

Mas maior surpresa aconteceu quando o painel testou os vinhos mais pontuados à hora do almoço. Aí, verificou-se que, em muitos casos, a selecção feita em prova simples teria sido completamente diferente se tivesse sido sujeita a um confronto com a comida. Todos acabariam assim por reconhecer uma vez mais do que o vinho não é uma entidade ominpotente: só se realiza por completo quando cumpre a sua função alimentar.

Os resultados finais da prova

1º Ramos Pinto Collection 2010
Douro - 12.90€
Pontuação: 628 | Pontuação média: 89.71

2º Kompassus Reserva 2006
Bairrada - 14€
Pontuação: 625 | Pontuaçao média: 89.29

3º Cortes de Cima Syrah 2010
Alentejo - 12€
Pontuação: 620 | Pontuação média: 88.57

4º Lagoalva de Cima Syrah/Touriga Nacional
Tejo - 10.50€
Pontuação: 615 | Pontuação média: 87.86

5º Meandro
Douro - 10€
Pontuação: 612 | Pontuaçao média: 87.43

6º Post Scriptum
Douro - 12.80€
Pontuação: 611 | Pontuação média: 87.29

7º Rúbrica
Alentejo - 12.50€ 
Pontuação: 607 | Pontuação média: 86.71

8º Casa de Santar Reserva 2008
Dão - 11.20€
Pontuação: 602 | Pontuação média: 86.0

9º Atalaya 2008
Douro - 15€

Pontuação: 590 | Pontuação média: 84.29

10º Picos do Couto Grande Escolha 2007
Dão - 15€

Pontuação: 588 | Pontuação média: 84.00

11º Esporão Quatro Castas 2009
Alentejo - 11€

Pontuação: 586 | Pontuação média: 83.71

12º Intensus 2010
Alentejo - 10.50€
Pontuação: 543 | Pontuação média: 77.57

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