São 11h de uma sexta-feira e quem entrasse numa sala reservada do Hotel da Música, no Porto, podia facilmente adivinhar pelos aromas que coloriam a atmosfera a natureza do acontecimento que estava prestes a começar: uma prova cega de 12 vinhos tintos nacionais. Cerca de duas horas mais tarde, o painel que deu conta do desafio de escolher o melhor dos vinhos em prova acabara as suas tarefas e o veredicto foi anunciado: ganhou um vinho do Douro, da casa Adriano Ramos Pinto, o Collection da vindima de 2012.
Ganhou por uma diferença apertada em relação ao seu concorrente mais directo, o Kompassus Reserva de 2006, um bairradino feito com Merlot e Touriga Nacional. Numa escala de zero a 100, a diferença entre o primeiro e o segundo foi de apenas de 0.42 pontos; entre o primeiro e o último foi de 22.14 pontos, o que exprime bem a latitude da opinião do painel sobre o perfil e o nível qualitativo dos vinhos em prova, mesmo que, em teoria, todos se situem na mesma gama do mercado.
Com o objectivo de fornecer pistas aos seus leitores sobre os vinhos que podem escolher para os dias de celebração que se avizinham, incluindo a ceia de Natal, a FUGAS organizou a prova cega e convidou cinco personalidades com diferentes estilos de ligação ao vinho para se juntarem a dois dos seus jornalistas.
Numa mesa rectangular, sentaram-se em frente a filas de seis copos Beatriz Machado, directora do departamento de vinhos do Hotel Yeatman, Lígia Santos, vencedora da primeira edição nacional do programa televisivo Masterchef, no Verão de 2011, e actual proprietária do Clube MasterCook, em Famalicão, Ivone Ribeiro, que há anos trabalha em várias áreas do sector do vinho que que hoje gere a sua garrafeira, a Garage Wines, em Matosinhos, Álvaro Van Zeller, enólogo com uma longa e reconhecida carreira no vinho do Porto e nos DOC Douro, Luís Costa, director de informação na RTP no Porto e colunista regular da revista Wine, que dirigiu nos seus primeiros anos, e os jornalistas Pedro Garcias e José Augusto Moreira.
A prova tinha como primeiro critério exprimir a diversidade dos vinhos portugueses, quer em termos de regiões, quer de castas, quer de estilos. Mas para focar um pouco mais a procura fixou-se como limite de preços o intervalo entre os 10 e os 15 euros que, no mercado nacional, representa uma gama média-alta na qual uma grande parte das empresas nacionais (mas nem todas, incluindo algumas das mais relevantes) tem marcas representativas.
O modelo de classificação e pontuação determinado foi o mais convencional neste género de provas: de zero a 100. Para precisar os conceitos do painel, estabeleceu-se que um vinho considerado "bom" se deveria situar entre os 80 e os 85 pontos; daqui até aos 90 pontos os vinhos deveriam ser apreciados como "muito bons". E de 90 para cima estaríamos em presença de vinhos top.
Os vinhos foram adquiridos em dois locais, a Garrafeira da Laje, em São João de Vêr, entre Espinho e Santa Maria da Feira, e na Garrafeira M. Santos, na Baixa do Porto. O Meandro, foi o vinho que se encostou mais ao limiar mais baixo do intervalo de preços – custou 10 euros, embora na maior parte dos postos de venda seja comercializado por um valor um pouco acima. E os mais caros foram o Picos do Couto Grande Escolha, 2007, um vinho do Dão, e o duriense Atalaya de 2008. O vencedor da prova está ligeiramente acima da média do intervalo. A escolha destes vinhos, além dos critérios essenciais atrás mencionados, teve igualmente por base a tentativa de se combinarem marcas facilmente disponíveis nos supermercados com outros vinhos mais raros e de circulação mais vinculada às lojas da especialidade.