Fugas - Vinhos

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Luís Duarte, o enólogo racional

Em 1994 Luís Duarte tomou o primeiro ensaio para a independência, assumindo o papel de enólogo consultor na igualmente alentejana Roquevale, sem no entanto comprometer com esse passo o seu vínculo com a Herdade do Esporão. O sucesso dessa primeira ligação, articulado ao tempo que se vivia, o despontar da região do Alentejo e o surgir de uma nova fornada de produtores, teve como consequência novas solicitações, que Luís Duarte foi aceitando. As consultorias e os desafios foram-se acumulando, dando início a uma colaboração proveitosa com produtores alentejanos tão famosos como a Quinta do Mouro, Herdade Grande, Júlio Bastos, Herdade da Malhadinha, Herdade de São Miguel e um rol de outros pequenos e grandes produtores alentejanos.

Como qualquer enólogo que se preze, Luís Duarte teve o cuidado natural de separar águas entre os diferentes projectos a que se ligou, mantendo uma postura clara e directa com os seus produtores, numa atitude de transparência e profissionalismo. Há uma década, em 2004, saiu do projecto Esporão para abraçar o nascimento de um novo projecto no Alentejo, a Herdade dos Grous, onde assumiu a direcção da produção agrícola liderando as rédeas não só do flamante projecto enológico dos Grous como da produção agrícola restante.

O passar do tempo fez com que Luís Duarte pudesse concretizar aquela que é a aspiração mais íntima de qualquer enólogo, o sonho de ter um vinho próprio. A fronteira entre os projectos pessoais e a consultoria pode ser ambígua, pode ser causadora de equívocos e provocar desconfiança. Luís Duarte sempre teve o cuidado de não se transformar em concorrente directo dos produtores a quem presta consultoria, mantendo uma ligação aberta e livre de mal-entendidos. O tempo fez mesmo com que chegasse ao ponto de se ter convertido no maior cliente de alguns dos produtores com que trabalha.

Bastou uma mera meia dúzia de anos para que Luís Duarte se transformasse num dos grandes produtores do Alentejo, com uma plêiade de marcas que, curiosamente, a generalidade dos consumidores portugueses desconhece. A maioria dos seus vinhos é vendida fora de portas, maioritariamente no Brasil e Angola, sem desprimor de outros mercados mais tradicionais. Desta forma, Luís Duarte não entra em conflito directo com os seus produtores no mercado nacional. O sucesso de rótulos como Rapariga da Quinta, Rubrica, Agricultura, Matéria e muitos outros é tal que Luís Duarte se transformou num dos maiores exportadores de vinho alentejano para o Brasil, situando-se hoje como um dos nomes mais conhecidos de Portugal naquele país. Assim houvesse mais produtores com visão e ambição.

 

 

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